Record (Portugal)

Os gastos

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Parece inevitável que, no universo futebol, os jogadores venham a sofrer na pele as consequênc­ias da pandemia Covid-19. De acordo com dados da UEFA, cerca de 60 por cento dos gastos dos clubes é a pagar salários, pelo que a lógica indica que também seja por aí que comecem os cortes. Mas é bom que não haja ilusões: não será isso que vai, por si só, salvar toda a indústria. Primeiro, há salários e salários. Cortar metade de um ordenado de 20 milhões de euros anuais não deixa ninguém na miséria; mas cortar metade de um salário de 50 mil anuais (muitíssimo frequente fora do universo dos grandes) pode ser um problema. Depois, porque será preciso criativida­de para convencer as pessoas de que o dinheiro mais desperdiça­do no futebol é aquele que é pago aos jogadores. Quando chegar a vez de reduzir salários, será bom que também se cortem, idealmente numa proporção superior, os gastos em transferên­cias entre clubes e comissões pagas a empresário­s.

Enquanto o futebol se preocupa com o presente, deve também criar alicerces sólidos para o futuro. E esta crise pode representa­r uma excelente oportunida­de para regulament­ar no sentido de garantir maior equilíbrio financeiro entre os clubes. É uma boa altura para se discutir limitação de jogadores por plantel, tectos salariais e nas comissões pagas. Sob pena de nada termos aprendido com este momento dramático das nossas vidas.

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