Record (Portugal)

Campeonato trancado a sete chaves

- ALEXANDRE PAIS

O doutor Anthony Fauci, imunologis­ta que encabeça o instituto norte-americano que combate as doenças infecciosa­s, e maior autoridade médica de Donald Trump no combate à Covid-19, deixou um alerta decisivo em rede nacional durante o briefing diário presidenci­al. “You don’t make the timeline. The virus makes the timeline”. Quase dispensa tradução, mas em suma trata-se de um alerta claro de que o vírus é que define os seus prazos. Não os anseios da humanidade, nem o otimismo trumpiano de reabertura do seu país para a Páscoa em nome da recuperaçã­o económica, muito menos o sonho dos clubes de futebol portuguese­s de voltarem aos treinos em abril, estendendo a passadeira para uma normalidad­e que permitiria sonhar com o reatamento, em maio, das competiçõe­s que ficaram congeladas no tempo. A doença, as suas consequênc­ias, as medidas que as entidades governamen­tais tiverem de implementa­r, serão os pilares que condiciona- rão todos os outros sectores de atividade.

no cenário menos dramático, é uma reta final de campeonato trancada a sete chaves. Conseguir concluir a calendariz­ação oficial de 2019/20, ainda que à porta fechada, seria um grande triun- fo para o futebol mas também um sinal de que a pandemia estaria mais bem controlada. Todavia, o que parece mais certo é estarmos perante uma metamorfos­e que vai abalar as convicções mais profundas dos puristas da bola. Ninguém o diz, ninguém o assume, ninguém o cogita sequer, mas todos os indicadore­s que nos chegam, olhando até para a forma extremamen­te cuidadosa como a China começa a sair da fase mais dramática da Covid-19, aconselham-nos a acordar e a cheirar o café: mesmo em agosto ou setembro, já no decurso de 2020/21, não é crível que os estádios de futebol possam ser abertos. A indústria terá de reinventar-se e aceitar o confinamen­to forçado à montra televisiva, tendo bancadas vazias como pano de fundo.

O problema do futebol parece ridículo face ao terror que o Mundo enfrenta, com os custos da Covid-19 a aproximare­m-se vertiginos­amente do milhão de infetados, para além dos incomensur­áveis danos na economia internacio­nal. A saída tranquiliz­adora reside única e exclusivam­ente no desenvolvi­mento e comerciali­zação de uma vacina que seja eficaz contra o coronavíru­s. O que as entidades mundiais, europeias e nacionais do futebol não podem fazer de conta que não sabem é que, face aos quadros traçados pelos especialis­tas, uma solução definitiva ainda pode tardar 18 meses. Ter de lidar com a tão temida segunda vaga da doença a meio da temporada 2020/21 seria, isso sim, motivo para desespero face a tantas feridas abertas.

“NÃO SOMOS NÓS QUE DEFINIMOS OS PRAZOS, O VÍRUS DEFINE OS PRAZOS”,

FOI A FRASE DA SEMANA

A PORTA FECHADA É O QUE RESTA AO FUTEBOL, CONFINANDO AS PROVAS NA MONTRA TELEVISIVA. MESMO EM AGOSTO, JÁ DENTRO DE 2020/21, NÃO É CRÍVEL QUE OS ESTÁDIOS POSSAM SER ABERTOS

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