ROLOS SÃO A NOVA ESTRADA
Record treinou com alguns ciclistas que explicaram como estão a trabalhar neste tempo de paragem
çCom a pandemia que todos enfrentamos, há que tomar medidas, algumas delas drásticas. Os ciclistas não fogem à regra e, apesar de o Governo permitir que saiam para se treinarem na estrada, muitos deles não o fazem, principalmente por prevenção. Assim só resta uma solução... treinar nos rolos, instrumento que tem sido o melhor amigo dos ciclistas nas últimas semanas, pois permite-lhes colocar ‘quilómetros’ nas pernas sem terem de sair de casa.
Para nos contar como tem sido esta experiência que é nova para todos, Ruben Guerreiro disponibilizou-se, através de videochamada, e, apesar de ainda se treinar na estrada, já se anda a deixar convencer pelos rolos. “Sempre fui alérgico a isso, mas estou a ver que vou ter de começar a treinar-me mais neles”, refere o corredor da EF Pro Cycling, que já ouviu umas boas ‘buzinadelas’ enquanto se treinava na estrada: “As pessoas sentem-se revoltadas por me verem na rua, mas é porque não me conhecem e não sabem que sou profissional. Temos de aceitar, porque não podemos parar. Mesmo que estivéssemos sem correr um ou dois anos, eu não poderia parar. O nível é altíssimo e não podemos relaxar.”
A grande incógnita neste momento é os moldes de como decorrerá o resto da temporada, questão a que o ciclista, de 25 anos, também não consegue responder, pois não acredita que se corra até julho. “Eles vão ter de encaixar as três grandes voltas no calendário, mas não sei como. Há a hipótese das duas semanas, mas ninguém sabe”, admite, avaliando a ideia louca de uma ‘super grande volta’: “Seria um espetáculo, mas acho difícil de ir para a frente. Começar em Itália, passar por Espanha e acabar em França, em Paris, seria muito bonito e toda a comunidade do ciclismo iria gostar, mas temos de ver pelos olhos dos organizadores.”
Em relação aos objetivos para esta temporada, destacavam-se as Clássicas das Ardenas e o Giro, mas agora tudo mudou. “Tínhamos o objetivo de fazer top 10 em Itália com o Tejay Van Garderen ou com o Hugh Carthy. Eu ia como a terceira opção, com liberdade para lutar por etapas e tentar um bom lugar na geral, mas com isto volta tudo ao zero. Temos de esperar e programar toda a temporada outra vez”, conclui.
Maria Martins não sai de casa
Por seu lado, Maria Martins já não arrisca e todos os seus treinos são feitos em casa e com a bicicleta... parada. “É estranho. Acho que é a palavra certa. Estamos habituados a levar com o vento na cara e aqui estamos completamente parados. Mas é o que temos de fazer neste momento. Está a ser uma situação chata para toda a gente e eu tenho optado por ficar em casa. Tenho feito o que posso e só me tenho mesmo treinado aqui”, frisa a ciclista, de 20 anos, admitindo que os primeiros tempos em cima dos rolos não foram nada fáceis: “Agora é o nosso método de trabalho, mas numa situação normal raramente o é. Tive de me adaptar a isso e também criar um ginásio cá em casa, porque tenho de manter o corpo o máximo de tempo ocupado.” Por fim, Tata Martins não vê o dia em que possa voltar a competir de novo. “O que mais desejo é que tudo volte ao que era, para que possamos voltar para a estrada e treinar acompanhados. Mas agora temos de nos preocupar é em vencer este vírus”, conclui a atleta natural da Moçarria.
“MESMO QUE ESTIVÉSSEMOS SEM CORRER UM OU DOIS ANOS, NÃO PODERIA PARAR. O NÍVEL É ALTÍSSIMO”, FRISA GUERREIRO