Record (Portugal)

O ás do ‘chalanismo’

- Eduardo Dâmaso Diretor da revista Sábado

O ‘EL PAÍS’ QUALIFICA A DEVOÇÃO DE FUTRE A CHALANA COMO UMA VERDADEIRA FORMA DE ESTAR NO FUTEBOL E NA VIDA. O MESTRE E O SEU ÁS MERECEM, AFINAL, DO FUTEBOL PORTUGUÊS E DO PAÍS, UM TRIBUTO QUE VERDADEIRA­MENTE AINDA NÃO TIVERAM. TALVEZ ESTEJA NA HORA!

çEm tempos de pandemia e de falta de futebol, o jornal espanhol ‘El País’ tem publicado uma nostálgica ( e excelente) rubrica intitulada ‘O jogador que deslumbrou a…’. Para responder, convida uma estrela do futebol que escolhe e analisa o ídolo da sua infância ou adolescênc­ia. Ou mesmo de velhas rivalidade­s enquanto jogadores de um mesmo tempo.

No passado domingo,

o ‘El País’ desafiou Paulo Futre para escolher o jogador que o deslumbrou. E Futre dá, como sempre foi seu timbre, um verdadeiro festival. Não escolheu um mas dois craques. Ou melhor: um bom jogador, Chendo, o antigo lateral do Real Madrid que marcou Futre sempre com grande competênci­a e elegância – “Foi quem menos me deixou jogar”. E um jogador que representa a pureza eterna e originária do futebol de rua, Fernando Chalana, uma estrela imortal do futebol português e mundial.

Ler Futre a falar de Chalana

é o mesmo que regressar ao território encantado da infância e do tempo em que o futebol ainda não tinha sido asfixiado pela ditadura dos ‘sistemas’ e pela tentativa de construir uma supremacia da tática sobre o esmagament­o da técnica. Ora, Fernando Chalana foi, de- pois de Eusébio, o maior astro do futebol português, que meteu milhares de miúdos por esse País fora a querer ‘fintar à Chalana’. E ‘fintar à Chalana’, impossível para um imitador, por mais perfeito que fosse, era elevar futebol à condição de oi- tava maravilha do Mundo.

Como bem recorda Paulo Futre, o seu ídolo tirava três ou quatro adversário­s do caminho apenas com os movimentos das ancas. Conduzia a bola na ponta da bota com a precisão do mais perfeito lapidador de diamantes do mundo e sempre no palmo de terreno inalcançá- vel pelos perseguido­res. Futre seguiu o mestre e tornou-se o seu melhor seguidor. Um do Montijo, outro do Barreiro, filhos de terras com história e ca- ráter. No terreno e fora dele ele- geu o ‘chalanismo’, como apropriada­mente qualifica o jornal espanhol a devoção de Futre a Chalana, como uma verdadeira forma de estar no futebol e na vida. Com muito talento, muita simplicida­de e trabalho, muita pureza. Um e outro sempre imbuídos de um forte sentido de justiça e solidaried­ade. O mestre e o seu ás merecem, afinal, do futebol português e do País, um tributo que verdadeira­mente ainda não tiveram. Talvez esteja na hora!

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