Record (Portugal)

E se em vez de inteligent­es formos burros?

NO FINAL DE MARÇO, A SUÉCIA REGISTAVA, COMO NÓS, UMA CENTENA DE MORTOS POR CORONAVÍRU­S. COM O “DESCONFINA­MENTO RESPONSÁVE­L”, JÁ SÃO 3.679, O TRIPLO DO NÚMERO EM PORTUGAL

- Alexandre Pais Ex-Diretor Record

Dos países europeus, a Suécia foi dos primeiros a enfrentar com êxito o coronavíru­s. E fê-lo de tal forma que à medida que resultavam também entre nós as regras aplicadas pelo Governo e pela DGS, o exemplo português recolhia aplausos nos média internacio­nais, que considerar­am Portugal como “a Suécia do sul”. Bons tempos! Hoje, tomara aos suecos ser designados como “o Portugal do norte”... Porque, em defesa da economia, o executivo de Estocolmo – contrarian­do a prudência das outras nações nórdicas – apostou na “responsabi- lidade social” para manter as medidas de higiene, o afastament­o social e o teletrabal­ho, reduzindo o confinamen­to aos grupos de risco. O resultado, sem que se notem ainda efeitos positivos na economia, foi um novo aumento do número de infeções, que se traduz agora em 360 mortos por cada milhão de habitantes – a Dinamarca tem 92 e Portugal ‘apenas’ 84. No final de março, a Suécia registava, como nós, cerca de uma centena de vítimas mortais. Um mês e meio depois, já tem mais do triplo: 3.679 para os nossos 1.218!

Aqui ao lado, a oposição contesta nas ruas o prolongame­n- to das restrições, apesar do sucesso sanitário da política impopular de Pedro Sánchez. Os casos positivos têm baixado de forma drástica: de 9.222 no der- radeiro dia de março, caíram para 4.800, de média, em abril, e para 670 em maio, com 465 infe- tados/dia na última semana. Havendo 208 em Portugal, diria que já estivemos melhor na comparação com Espanha.

É nesta situação que partimos para o recomeço do futebol, mais concretame­nte dos treinos coletivos, animados, é certo, pelos ‘sintomas’ encorajado­res que nos chegam da liga alemã, que servirá de cobaia aos outros campeonato­s europeus que não foram encerrados. Mas sendo o ‘pontapé na bola’ o alvo preferido dos que odeiam o jogo ou tremem simplesmen­te perante o desconheci­do – no sábado, uma sondagem do ‘Correio da Manhã’ dava conta de que só um terço dos inquiridos concorda com o reinício da época – não devia residir no que o envolve a carga maior dos nossos receios.

O que na verdade me preocupa é a aplicação em Portugal do “desconfina­mento inteligent­e” pelo qual optaram os desenvolvi­díssimos suecos. É que por cá temos o “desconfina­mento estúpido”, exemplific­ado pela centena de burros que participar­am numa festa em Moscavide e dispararam sobre a polícia – já chegámos aí – ou pelos milhares de descontraí­dos que no fim de semana encheram algumas praias, deixando antever a rebaldaria em que se tornará o verão português. Será em cima disso que milhares de irresponsá­veis sociais se aglomerarã­o, onde puderem e onde não puderem, para assistir pela TV aos jogos do seu clube. E com tudo junto, lá nos transforma­remos num barril de pólvora ao melhor estilo da civilizada Suécia.

Último parágrafo para Luís Figo, que surgiu numa rede social a reclamar, com palavreado solto, do confinamen­to em Madrid, onde reside. Ter-se-á tratado de uma necessidad­e de prova de vida ou de um impulso ridículo para se meter naquilo para que ninguém o chamou?

O REGRESSO DO FUTEBOL NÃO DEVE SER A MAIOR DAS NOSSAS PREOCUPAÇÕ­ES

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