Goleada ao medo
O REGRESSO DA BUNDESLIGA VAI AJUDAR A ALIVIAR RECEIOS, SE TUDO CORRER BEM
FECHAR TUDO É MUITO MAIS FÁCIL DO QUE REABRIR. DESDE LOGO PORQUE É PRECISO VENCER O MEDO
Entre as atividades que reabriram ontem com a segunda fase do desconfinamento estão as creches e escolas para os alunos do 11.º e 12.º anos. Não sem grande resistência dos professores, receosos pelo risco a que eles e os alunos serão expostos. Ontem também reabriram os restaurantes, mas por enquanto vão continuar à míngua de clientes. Têm medo, não sentem ainda a confiança necessária para estar com desconhecidos num espaço fechado.
Os jogadores de futebol têm
verbalizado a mesma resistência e inquietação, em vários campeonatos. Por cá, uma dessas manifestações foi a indignação em relação ao parecer da Direção-Geral da Saúde que estipula que a Federação, a Liga, os clubes e os atletas assumem a responsabilidade pelas conse- quências clínicas e o risco para a saúde pública do regresso dos jogos. Compromisso que é subscrito na forma de um Código de Conduta assinado por todos.
A resistência é compreensível.
Estamos a falar de uma ativida- de onde não é possível praticar as regras de segurança que são exigidas a toda a população: usar máscara, ter distanciamento social ou cumprir a etiqueta respiratória. Não fosse a sua relevância, dificilmente teríamos a bola a rolar de novo na relva. Basta pensar que uma peladinha de praia entre duas pessoas continuará a ser proibida para lá de 1 de junho.
Sendo um regime de absoluta
exceção, o Estado – que somos todos nós – não podia ficar com a responsabilidade nos ombros. Mas é razoável que os jogadores possam ter um seguro de trabalho e de vida que responda a esta circunstância específica. Se ainda não têm, deveriam tê-lo até ao dia 4 do próximo mês.
Seria também importante que em Portugal se adotasse a possibilidade aberta pela FIFA de os jogos terem até cinco substituições. Os treinos são limitados, a preparação física não é a mesma, pelo que esta é uma medida que também pode transmitir alguma confiança aos atletas.
O regresso do campeonato
alemão vai ajudar a aliviar receios, se tudo correr bem, como se espera. É a evidência de que é possível. Thomas Muller brincou que os encontros da Bundesliga pareceram uma “partida entre velhos, ao fim da tarde, à luz dos holofotes”. Não há dúvidas de que o brilho está longe de ser o mesmo, mas é preciso começar por algum lado. Em correndo tudo bem, fica evidente a precipitação da Ligue 1 em dar por terminado o campeonato deste ano.
Da Alemanha veio outra boa
notícia. A Bundesliga registou um recorde de audiências, que se traduz também em mais receitas. Uma embalagem que a Liga NOS também poderia aproveitar, mas que é penalizada por os direitos de imagem não estarem centralizados.
A resistência não foi apenas
dos jogadores, também foi dos clubes, por causa dos estádios. Em maior número pelos que estão no final da tabela, o que não será coincidência. Mas também pelo Benfica, que rejeita jogar contra o Rio Ave no Dragão. A necessidade e a vontade de jogar acabarão por se impor.
Jogo a jogo, também o futebol
português será capaz não só de vencer o medo como aplicar-lhe uma goleada.