Record (Portugal)

“Em Portugal joga o melhor da nata mundial do hóquei”

Pese Portugal ter o melhor campeonato mundial de hóquei em patins, a federação vai alterar a sua fórmula de disputa, por acreditar que pode ser ainda mais atrativo. E também há ideias para a modalidade crescer lá fora

- LUÍS SÉNICA

çA pandemia ditou o cancelamen­to/adiamento de várias provas. Portugal tinha ganhado o último Mundial, era favorito para o Europeu, possuía três equipas a tentar suceder ao Sporting como campeão europeu de clubes e mais duas a atacar a WS Europe. A crise veio mesmo em má altura...

LUÍS SÉNICA – Ninguém esperava que esta situação surgisse e obviamente há grande impacto negativo. Desportiva­mente, é verdade, estávamos com essa vitalidade toda, era uma boa fase, mas acredito que, quando regressarm­os, recuperare­mos essa dinâmica e Portugal continuará a ser forte na modalidade como sempre foi. Depois, claro, há o prejuízo económico subjacente. Mas é a vida, temos de saber reagir. Creio que todo o edifício estrutural do hóquei em

“VAMOS CONTINUAR A TER O MELHOR CAMPEONATO DO MUNDO DE HÓQUEI EM PATINS, COM TODA A COMPETITIV­IDADE”

“A QUALIDADE NÃO TEM NACIONALID­ADE. EM PORTUGAL JOGA O MELHOR DA NATA MUNDIAL DA MODALIDADE”

patins está em condições de reagir, a preparar os caminhos para manter a excelência a que nos habituou.

Portugal tem o melhor campeonato do Mundo. Teme que a crise possa alterar esse quadro?

LS – Do ponto de vista económico, não tenho dúvidas de que toda esta situação vai mexer, mas os clubes já se estão a ajustar para continuare­m fortes e a honrar os seus compromiss­os. As transferên­cias não estão paradas, mesmo nos escalões

secundário­s, o que confirma essa vitalidade e dinâmica. Após esta paragem, vamos recuperar e continuar a ter o tal grande campeonato, o melhor do Mundo, com toda a competitiv­idade.

Foi selecionad­or nacional. Não o preocupa ver tantos estrangeir­os no campeonato principal, nomeadamen­te nas equipas mais cotadas?

LS – É uma questão que acompanham­os com atenção, procurando criar medidas paralelas para manter o equilíbrio. Mas a qualidade não tem nacionalid­ade, todos gostamos de ter perto de nós os melhores. Há aqui um cocktail interessan­te, juntando espanhóis, argentinos e outros aos portuguese­s. Temos, pode dizer-se, o melhor da nata mundial. A federação tem de respeitar os clubes e a sua forma de olhar para a modalidade. Mas, para não criar problemas ao desenvolvi­mento dos nossos jovens, criámos, por exemplo, pela primeira vez uma prova sub-23. Houve uma aceitação algo difícil quando o anunciámos, alguns pensavam que era só um espaço com pouco impacto. Mas tivemos 41 equipas, foi mais um degrau evolutivo dos jovens e que amortizou a passagem dos juniores aos seniores, ainda por cima quando o escalão sub-20 passou a sub-19. Para além disso, ajustámos a presença de estrangeir­os nos escalões jovens, fizemos essa defesa, e vamos continuand­o a acompanhar a situação. Queremos ter os melhores do Mundo em Portugal, mas também que os nossos jovens possam evoluir e chegar à Seleção com grande qualidade.

Poucos dias antes da suspensão do Campeonato, a federação ainda equacionav­a a realização de um Benfica-FC Porto com espectador­es…

LS – Houve dois momentos. Primeiro – e fazendo fé nas informaçõe­s da DGS –decidimos continuar a jogar, embora com as limitações ao nível do público. Mas, no dia seguinte, pelos dados que nos chegaram de vários locais, optámos por parar. Fomos os primeiros a fazê-lo. Depois, mais tarde, em conjunto com as outras federações dos desportos coletivos, decidimos pelo final das provas sem atribuição dos títulos. O processo foi difícil. Ao início, a informação era difusa. No Norte havia zonas muito afetadas, mas noutras zonas não se passava nada. Primeiro, mantivemos a esperança de jogar, mas 24 horas depois percebemos que era impossível. Não havia condições. Nunca estivemos preocupado­s por causa do Benfica-FC Porto. Houve, sim, um respeito total pela saúde pública e pela intensão de competir. Quando percebemos que a relação não era possível... abdicámos. Foi a melhor decisão.

No caso do hóquei em patins, os clubes aceitaram pacificame­nte a

não atribuição do título?

LS – Quando estamos perante uma situação adversa, quando não há nada que nos guie, nem no futebol, é sempre complicado. E o posicionam­ento costuma refletir aquilo que afeta o nosso clube. Para uns é a questão das subidas, para outros as descidas e ainda há que analisar a questão do título. Há visões diferentes, é normal. E aqui não havia exemplos anteriores. Houve diálogo sobre qual o melhor caminho a seguir e a federação, junto com as outras, decidiu. A partir daí, foi um não problema. Muito pacífico.

O regresso do playoff ao campeonato já estava previsto ou a ideia apareceu só depois da pandemia.?

LS – Não foi a primeira vez que se falou do playoff no hóquei. Aliás, todos os anos se fala de alterações na modalidade, é uma das caracterís­ticas que nos apontam como menos positiva. Logo quando chegámos à federação tivemos uma reunião com os clubes da I Divisão e o tema foi colocado por um dos nossos ‘vices’, mas não gerou grande entusiasmo. Cerca de um ano mais tarde, em plena pandemia, voltámos a analisar a questão. Podíamos deixar tudo como estava, até porque não sabíamos o que aí vem a nível de saúde pública, mas a federação e os clubes acharam que era altura de um upgrade. Recuperámo­s o playoff, introduzim­os uma nova competição e com isto criámos um calendário com três grandes momentos competitiv­os. E até posso acrescenta­r um quarto, com as provas europeias. É um risco que quisemos ter. O playoff trará mais espectácul­o. Só dois clubes não estavam de acordo. O que é que mudou face às épocas em que existiu playoff? Antes, só Benfica e FC Porto chegavam à final. Agora, temos cinco candidatos e mais três clubes que conseguem competir. Se não houvesse outra argumentaç­ão esta seria suficiente.

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