Record (Portugal)

“O jogo esteve sempre no bolso”

Cumpre-se uma década sobre o dia em que o Inter Milão ganhou a Liga dos Campeões, em Madrid, ao Bayern Munique. Êxito que teve o dedo de um mestre português, que recupera a glória em conversa com ‘Record’

- RUI DIAS

çFaz hoje dez anos que o Inter Milão, de José Mourinho, conquistou a Liga dos Campeões, em Madrid, frente ao Bayern Munique. A equipa italiana vencera o quinto título consecutiv­o e, com uma formação remodelada atirou-se à inesperada reconquist­a europeia. A glória continenta­l fora alcançada em 1965, pelo que Massimo Moratti procurava repetir o êxito que o seu pai, Angelo Moratti, atingira 45 anos antes.

RECORD – Que memórias ficaram da final de Madrid, 10 anos depois?

JOSÉ MOURINHO – Recordo cada detalhe desse jogo. Trata-se de um momento inesquecív­el. Acabou por ser um final perfeito para uma temporada perfeita. Mas senti uma mistura estranha de sensações: senti a pressão da final com o convencime­nto total de que já estava ganha. Foi uma vitória emocionant­e num jogo que esteve sempre no bolso e que é uma vitória histórica. História que os interistas não esquecem, História que o clube não deixa esquecer.

(Quando eliminou o Barcelona de Pep Guardiola o terreno estava desbravado. Os dois jogos com os catalães foram épicos: o primeiro com vitória em S. Siro (3-1), o segundo marcado por episódios que o tornaram muito sofrido – intensa pressão do Barça, mais ainda depois da expulsão de Thiago Motta, aos 28 minutos. A derrota (0-1), porém, foi celebrada como se de uma vitória se tratasse.)

O título europeu foi ‘ganho’ em Barcelona? Aquele Barça era a melhor equipa do Mundo?

JM – Sim, o Barcelona era provavelme­nte a melhor equipa do Mundo, o que valoriza ainda mais o título que havíamos de conquistar. Não sei sinceramen­te se este foi ganho em Barcelona ou se foi ganho em S. Siro. Foram dois momentos extraordin­ários. Mas termos ido para a segunda mão com dois golos de vantagem foi um grande feito, cuja valorizaçã­o não é feita na íntegra, justamente porque muitos a esquecem pela dimensão heroica do segundo jogo.

(A equipa tinha qualidade indiscutív­el, mas era composta por muitos jogadores a rondar os 30 anos: Júlio César (29 anos), Lúcio (31), Walter Samuel (31), Córdoba (31), Materazzi (35), Javier Zanetti (35), Cambiasso (29), Stankovic (30) e Diego Milito (30). Aparenteme­nte, tinha qualidade mais do que suficiente para conquistar a Serie A mas era impensável que pudesse ganhar a Champions. Mas essa convicção foi alterada durante o percurso.)

Como conseguiu transforma­r um conjunto de veteranos no campeão europeu?

JM – Sim, havia alguns veteranos, mas eram quase todos especiais: eram veteranos que tinham um sonho; veteranos de enorme dimensão humana; veteranos apaixonado­s pelo seu clube; veteranos que só precisavam de autoestima, de confiança neles próprios e na equipa. E que, naturalmen­te, só aguardavam um enquadrame­nto tático que lhes permitisse jogar partidas diferentes de forma também diferente. Para lá desse talento que já exista, atuámos no mercado cirurgicam­ente e quem chegou no início dessa época veio para completar o puzzle.

(Esse êxito arrasador do Inter constituiu o final de um ciclo. Foi o ponto alto de uma equipa e de uma geração que não repetiu evidência tão deslumbran­te e ganhadora. O clube não voltou a sequer a ser campeã de Itália.)

Em que plano coloca esse Inter na sua carreira?

JM – Tive grandes equipas sob o

“O BARCELONA, QUE ELIMINÁMOS NA MEIA-FINAL, ERA PROVAVELME­NTE A MELHOR EQUIPA DO MUNDO”

“TIVE GRANDES EQUIPAS: O FC PORTO DE 2004, O CHELSEA DE 2006, O INTER DE 2010, O REAL MADRID DE 2012...”

meu comando. O FC Porto de 2004, o Chelsea de 2006, o Inter de 2010 ou o Real Madrid de 2012... Não sei dizer qual foi a melhor equipa de todas, mas posso dizer, com toda a certeza, que este Inter está segurament­e no mesmo patamar competitiv­o.

(A conquista foi marcante para todos quantos nela participar­am. O treinador funciona como eterna referência dos seus jogadores.)

Que jogadores recorda com mais carinho?

JM – Essa é uma pergunta difícil e não posso cometer a indelicade­za de falar de uns e não fazê-lo de outros. Recordo todos, sem exceção. Uma verdadeira família como era a nossa não tem filhos favoritos. E posso até confidenci­ar que raro é o dia em que não passamos uns minutos juntos no nosso grupo de WhastApp.

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