Record (Portugal)

O árbitro que vá no porão

SE A EMPRESA COSMOS JÁ LEVOU ÁRBITROS NO PORÃO ATÉ AO BRASIL, SE BEM QUE NO SÉCULO PASSADO, NÃO DEVE APRESENTAR DIFICULDAD­E DE MAIOR, JÁ NESTE NOVO SÉCULO, REPETIR O PROCEDIMEN­TO DE UMA FORMA MAIS ALARGADA A BEM DA VERDADE DESPORTIVA E DA RETOMA DA ECONOM

- Leonor Pinhão Jornalista

A EMPRESA COSMOS JÁ LEVOU, NO SÉCULO PASSADO, ÁRBITROS NO PORÃO ATÉ AO BRASIL

Está quase. Mais duas semanas e temos o campeonato de volta. Já se nota, é verdade. Já se nota na retoma das discussões television­adas, na troca de acusações e de insultos e no lançamento de suspeitas a torto e a direito a preencher os horários nobres das grelhas de programaçã­o. Haverá ainda paciência para ‘isto’ depois da experiênci­a global do confinamen­to a que fomos submetidos? E será que ‘isto’ ainda rende como rendia? A questão da paciência é, como sempre foi, um problema (ou um não-problema) de cada um, já a questão do rendimento da plena operaciona­lidade dos gabinetes de ódio é uma questão mais prática e, sobretudo, mais geral.

Por meados de março, quando nos chegou o estado de emergência, imperando a consciênci­a cívica e um frenesi de bons sentimento­s houve muita gente a acreditar que nunca mais nada seria igual ao antigament­e. E o futebol, esse jogo tão bonito, não esca- pou a ver-se incluído nessa onda de esperança por um mundo menos imbecil que despontari­a, inevitavel­mente, no rescaldo da crise pandémi- ca. Mas, olhem, não despontou nada. Tudo leva a crer que se enganaram os que acredita- vam numa revolução civiliza- cional desse calibre. Está quase de volta o campeonato e es- tão de volta as calorosas indig- nações por qualquer coisinha que mexa.

Vem, por exemplo, ocupando

horas de discussão a hipótese de os árbitros poderem viajar com as equipas no mesmo avião para o Funchal quando couber ao Marítimo fazer o pa- pel de anfitrião. O assunto, em si, não teria interesse nenhum não se desse o caso de ter o Benfica na sua agenda uma deslocação à ilha. E como este campeonato, pelo que parece, só vai ser disputado até ao fim para que se decida no campo quem é o campeão e, consequent­emente, quem vai meter ao bolso os milhões da Liga dos Campeões, tudo o que mexa com os dois candidatos ao título serve, à falta de melhor, de pano para mangas.

Se é um escândalo um árbitro

viajar para a Madeira no mesmo avião do Benfica então que se corte o mal pela raiz e enfie-se com o árbitro no porão do aeroplano juntamente com a carga e, assim, se evitará qualquer tipo de contágio ou coisa pior. Sempre é mais fácil, e dá menos trabalho, enfiar com o árbitro no porão do que encafuar no porão a equipa toda do Benfica, incluindo o seu staff técnico, clínico e diretivo. Como é do conhecimen­to público, a cada jornada, a Liga fornece à empresa de viagens Cosmos, para marcação de hotéis e de viagens, a lista dos árbitros nomeados para todos os jogos.

Se a empresa Cosmos já levou

árbitros no porão até ao Brasil, se bem que no século passado, não deve apresentar dificuldad­e de maior, já neste novo século, de repetir o procedimen­to de uma forma mais alargada a bem da verdade desportiva, da retoma da economia e do turismo de massas.

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