“VIDA NÃO COMEÇA NEM ACABA NO DESPORTO”
JOSÉ MANUEL LOURENÇO Presidente do Comité Paralímpico de Portugal elogia a transparência em relação a Tóquio’2020, admite o impacto na vida dos organismos e dos protagonistas, mas lembra que agora “o valor mais importante é a saúde”
Com o adiamento dos Jogos de Tóquio, qual o impacto que a Covid-19 pode ter no Comité Paralímpico de Portugal (CPP)?
JOSÉ MANUEL LOURENÇO – Os problemas mais significativos podem vir a ser a nível desportivo. Temos mais um ano pela frente do que o planeado e a própria paragem tem implicações na forma como é retomada a atividade. Por outro lado, há incerteza devido aos novos critérios de apuramento. Ainda não sabemos bem como vai ser. É também incontornável abordarmos os impactos financeiros. Como é sabido, a nossa projeção no apoio aos atletas apontava a três datas. Uma para julho, em que ficariam no projeto aqueles que iam aos Jogos e outubro para os que ficariam nos oito primeiros lugares nos Jogos. Os restantes voltariam a entrar depois de janeiro quando concretizassem resultados desportivos que justificassem esse apoio. Não havendo Jogos, não faz sentido, e seria injusto, retirarmos atletas do projeto.
E até já se admite que os Jogos podem ser cancelados em definitivo, caso não haja condições em 2021. Não é um alarme evitável?
JML – O valor mais importante de todos é a saúde. Se não houver condições, importa preservá-la.
Temos várias questões a resolver no que diz respeito à missão e criar uma imagem de que está tudo bem pode ser uma política errada. O assunto deve ser tratado com transparência. Os Jogos não podem ser feitos a todo o custo. A vida não começa nem acaba no desporto, apesar de, claro, ter uma grande importância para os atletas.
Qual é o feedback que tem obtido por parte das federações?
JML – A maior preocupação é mesmo a incerteza em relação às competições. Na natação, por exemplo, estava previsto um Campeonato da Europa no Funchal este ano e um Campeonato do Mundo no próximo ano. Para o ano só haverá uma das provas. Há adiamentos sem data específica. Há incerteza. É uma preocupação das federações, do CPP, atletas e treinadores.
Já admitiu que há um impacto ao nível financeiro. E o Comité Paralímpico Internacional (IPC) já revelou ter problemas nesse âmbito. O CPP teve ajuda deste organismo?
JML – Não tivemos e vejo com dificuldade que isso venha a acontecer. O IPC não tem o lastro financeiro do Comité Olímpico Internacional, que já sinalizou o apoio. E consigo entender. As dificuldades resultam do facto de eles terem uma expectativa de receitas que seriam concretizáveis até agosto. Agora, esses valores foram deferidos.
E, no âmbito nacional, sente que o Governo tem atendido às preocupações do desporto em geral e do Comité Paralímpico?
JML - Este Governo evidenciava alguma vontade política de mudar o paradigma. Mas este reforço não teve em conta esta tragédia que a Covid-19 nos trouxe.
Nós, para já, temos de quantificar a diferença que vai existir em termos das bolsas e da preparação. Mas vamos aguardar. Temos as contas feitas e quando for oportuno falaremos com o Governo. Agora, a prioridade deve ser dada à saúde, que é fundamental, e que se restabeleçam as condições sanitárias e de confiança. A seu tempo, falaremos com o Governo, com o qual sempre tivemos uma excelente relação.
“CRIAR UMA IMAGEM DE QUE PODE ESTAR TUDO BEM SERIA ERRADO. JOGOS NÃO PODEM SER FEITOS A TODO O CUSTO”