Digital – O novo desafio do futebol
FALTARÁ A ALMA DO FUTEBOL. COMPETE-NOS NA DIFERENÇA MITIGAR O IMPACTO NEGATIVO E DESCOBRIR OPORTUNIDADES
Administrador não executivo da Sporting SAD
çEm vésperas de retomar o campeonato, já corre no sangue a adrenalina que só a emoção do futebol sabe criar. Mas, sendo um recomeço, não é um retomar.
Faltará o calor dos adeptos a vibrar no estádio, os cânticos que afirmam a identidade de cada equipa e até as assobiadelas de protesto, faltará a alma do futebol. Não será igual, é um facto, será diferente, compete-nos na diferença mitigar o impacto negativo e descobrir novas oportunidades.
A tendência de digitalização foi fortemente amplificada com esta pandemia. O confinamento físico foi compensado com maior procura de conteúdos on- line, conteúdos que nos permitem sentir presentes apesar da ausência física, que alimentam o sentimento de pertença a um grupo ou uma organização, que permitem participar e influenciar decisões que nos afetam.
A transmissão televisiva leva o jogo até nossa casa, mas não nos leva até ao jogo. É aqui que as fer- ramentas digitais assumem um papel fundamental e podem proporcionar novas soluções, nomeadamente:
Aplicação interativa que permi- ta ao adepto participar antes, durante e depois do jogo. Avaliar
o desempenho dos jogadores, ao intervalo e no fim. Fazer sugestões sobre o onze, com a certeza que não irá interferir com as opções do treinador, que conhece cada jogador e é soberano sobre a avaliação das opções que melhor servem a estra- tégia de jogo, mas transmite aos decisores a perceção que os adeptos têm da equipa. Por outro lado, alinha na tendência do digital: “Power to the People”, o adepto sente que tem poder, que conta, que a sua opinião tem registo e será ouvida.
Geração Tik Tok – O futebol é ab- solutamente transversal, envol- ve pessoas de diferentes geogra- fias, de diferentes condições e de diferentes idades. Mas, quanto às expectativas, há enormes dis- paridades. A geração mais nova, pós-millenial ou geração Z, procura informação sintetizada, conteúdos de consumo imediato, não está habituada a esperar, quer saciar a sede de informação de forma rápida, com conteúdos sintetizados e prontos a consumir. Não tem paciência para ver um jogo de 90 minutos, mas quer estar por dentro, quer saber o que foi relevante, o que foi deci- sivo. Para estes adeptos é necessário oferecer conteúdos próprios, sintéticos e objetivos.
Gestores de comunidades – A presença nas redes sociais não pode ser passiva. Ter uma página no Facebook ou uma conta no Instagram, sem uma gestão permanente, é um erro e um risco. As redes sociais podem e devem ser vistas como uma oportunidade, mas não podemos per- der de vista a ameaça em que se podem transformar. É importante atualizar diariamente os conteúdos e adequá-los ao momento. Se não cativarem diariamente os adeptos, com novidade e estórias cativantes, correm o risco de se tornarem num mero livro de reclamações, um depósito de insatisfação.
O momento em que os conteúdos são apresentados também deve merecer uma atenção especial, não se pode lançar um produto novo de merchandising, uma camisola, um chapéu ou um cachecol quando a equipa não está numa senda vencedora. A frustração do adepto será descarregada através da crítica ao produto, independen- temente da sua qualidade, do seu design ou do seu valor.
As redes não são fontes de recru- tamento de novos sócios, mas são instrumentos privilegiados de fidelização. Quantos mais participantes tiverem, maior patrocínio conseguem.
Redes sociais como instrumento de internacionalização, o futebol não tem fronteiras, as redes são um instrumento privilegiado para alargar horizontes, oferecendo conteúdos que evidenciem a vantagem competitiva do clube. É importante fazer resumos de jogos, vídeos adaptados a cada segmento, mostrar como jogam bem futebol, ter uma estória para contar, de preferência sobre jogadores que saíram da sua formação.
Comunicação verdadeira e cristalina – Falar verdade é regra de ouro, sem falsos perfis ou meias-verdades. Comunicar pela positiva, reconhecendo o erro e demonstrando capacidade para o corrigir. A confiança é o maior fator crítico de sucesso. Os patrocinadores são atraídos pelo valor marca. Pelo posicionamento que o clube tem e que coincide com o ambicionado pelos sponsors, posicionamento por contágio.
Ao virarmos esta página, de má memória para o futebol, devemos deixar no passado os vícios de pensamento que nos prendiam, como grilhões de aço, a modelos arcaicos, vamos passar à página seguinte, no alinhamento das melhores práticas das novas tendências da grande indústria do futebol.