Record (Portugal)

E lá se vai o ‘exemplo português’

O DESCONFINA­MENTO NA REGIÃO DE LISBOA NÃO ESTÁ A CORRER BEM, OS NÚMEROS DA COVID SOBEM. EM ESPANHA, COM O ESTADO DE EMERGÊNCIA DE NOVO PRORROGADO, OS CASOS BAIXAM

- ANDRÉ VERÍSSIMO Alexandre Pais Ex-Diretor Record BRUNO PRATA

Quando tudo fazia prever que o recomeço do campeonato seria mais um passo no retorno à normalidad­e possível – que a crise sanitária dava sinais de permitir e a economia exige – eis que os últimos dados da DGS voltam a formar uma nuvem escura. Ela faz com que o tão propagande­ado ‘exemplo português’, que a Europa até há pouco aplaudia, comece a ser posto em causa. Não porque o desconfina­mento seja demasiado rápido, uma vez que, com exceção da região de Lisboa e Vale do Tejo, os infetados diários não passam de 20 ou 30. O que estamos é a penar por décadas de uma indiferenç­a social que permitiu o cerco da capital por dezenas de bairros degradados – como o ‘Jamaica’ – onde, sem emprego e perspetiva­s de futuro, milhares de “desperados”, muitos deles desemprega­dos e a viver na miséria, descem dos esqueletos de tijolo à rua, procurando no álcool e no convívio, em cafés ilegais e festas improvisad­as, um escape para a violência e uma alternativ­a ao crime. Devíamos agradecer-lhes.

Enquanto António Costa esbarra nesta outra tragédia, em Espanha, o antes tão violentame­nte criticado Pedro Sánchez – que vai prorrogar, pela sexta vez, o estado de emergência – já olha para relatórios com melhores resultados do que Portugal, como sucedeu na sexta-fei- ra, dia em que os novos contágios se ficaram pela metade dos nossos. E ontem foram menos de um terço, 96 (!), ‘contra’ os 297 de Portugal – 268 dos quais na região de Lisboa e Vale do Tejo.

É nesta situação volátil de saú-de pública que regressamo­s ao futebol, sabendo que os estádios encerrados farão com que os adeptos se amontoem onde puderem, às dezenas e às centenas – se não for aos milhares. Isso irá fazer aumentar os contactos e as possibilid­ades de infeção, pelo que, se os números dispararem, o Governo e a DGS pagarão o preço.

Entretanto, prosseguem as cenas rocamboles­casnaf eira de vaidades do futebol português, com as divergênci­as saloias entre os clubes, o sai ou fica de Proença, a saga da aprovação dos estádios – que a DGS queria que fossem o “mínimo possível” mas que se pôs a validar e chegou aos 17! – ou a novela da ratificaçã­o das cinco substituiç­ões por jogo, a ‘decidir’ em assembleia geral... já após o reinício do campeonato. Que coisa ridícula.

Tenhamos calma, trata-sede fogofátuo. A partir de quarta-feira, o que estará em todas as notícia se o que aquecerá os debates recuperado­s daCovidéo cartão que ficou por mostrar, o segundo amarelo excessivo, o vermelho que não saiu do bolso, a falta para penálti que o árbitro não viu e oVAR também não, a falta para penálti que o árbitro marcou e oVAR anulou, a falta discutível para penál tique o árbitro não assinalou e oVAR corrigiu ... E por aí fora, num alista infindável de casos e casinhos, intensidad­es e centímetro­s, polémicas e acusações. É esse, afinal, o nosso planeta do pontapé na bola, ora agitado pelo tempero do pontinho de avanço do clube errado. O espetáculo está garantido.

A DGS QUERIA “O MÍNIMO DE ESTÁDIOS POSSÍVEL” MAS PÔS-SE A APROVAR E CHEGOU AOS 17!

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