Política com futebol
DEVIAM SER ÁGUA E AZEITE, MAS MISTURAM-SE COMO GIN E ÁGUA TÓNICA
A esperada candidatura de Pinto da Costa é a cristalização do ‘status quo’. É o que acontece quando o homem e a sua criação se fundem num só. Os tempos de crise desaconselham saltos no desconhecido, mas são também oportunidades para a mudança. Não vai acontecer.
Uma das coisas que não
muda é a apetência pelas relações íntimas entre o futebol e a política. Rui Moreira é um dos nomes de Pinto da Costa na lista ao Conselho Superior do FC Porto. É compreensível que o presidente dos dragões o queira na sua recandidatura à liderança: o autarca é popular na cidade, acrescenta notoriedade e prestígio.
O Conselho Superior é um órgão consultivo, com 20 elementos, que zela pelos estatutos do clube, emite pareceres e apresenta sugestões à direção. Mas não é só por isso que Rui Moreira lá está. Como outros na lista, caso do vereador e eurodeputado Manuel Pizarro, conta a sua influência política.
Se Fernando Medina, um por-
tuense adepto do Benfica, integrasse uma lista idêntica no clube da Luz era arrasado na praça pública. Um presidente da câmara tem direito a ter as suas preferências clubísticas, mas não deve aceitar cargos num clube, mesmo que hono- ríficos, porque isso significa atribuir um estatuto de prefe- rência. Em suma: o FC Porto até pode convidar, Rui Moreira deveria declinar. Na Invicta, só Rui Rio achava que os dois mundos tinham de andar separados.
Rui Moreira também tem interesse
em estar na lista de Pinto da Costa. Não que preci- se disso para vir a ser bem-sucedido numa candidatura a um terceiro mandato à frente da Câmara do Porto, mas mar- ca pontos junto da maior parte. Para o empresário, agora edil, é também uma forma de afirmar o FC Porto como símbolo do Norte no combate ao centralismo da capital.
O FC Porto, que tão crítico foi, e bem, da escolha de uma deputada do PS, alegadamente próxima do Benfica, para liderar o Conselho de Disciplina da Federação, também não prescinde das pontes com a política ou a Justiça. Tal como o clube lisboeta, de resto. Nisso os rivais são unha com carne.
É por esta e por outras que depois saem artigos no ‘The New York Times’ sobre o país onde o futebol é um “Estado soberano”. Na verdade, esta concubinagem penaliza a imagem de ambos. Quando se está debaixo de uma nuvem de descrédito, é mais difícil ter crédito. Literalmente.
Na entrevista que dá ao ‘Jornal de Notícias’, Pinto da Costa critica a indisponibilidade do Novo Banco para emprestar dois milhões ao FC Porto para facilitar o pagamento de ordenados contra a apresentação de garantias. O líder dos azuis e brancos sabe que a banca está impedida pelo regulador de aumentar a exposição aos clubes de futebol, mais ainda no atual contexto e estando em causa uma SAD que tem capitais próprios negativos. Só pode queixar-se de si próprio.
Se as finanças e a imagem do futebol português fossem outras, Pinto da Costa não tinha de ir pedir dinheiro emprestado a um banco alemão.
O FC PORTO ATÉ PODE CONVIDAR O EDIL, MAS RUI MOREIRA DEVIA DECLINAR