Os novos leprosos
Rui Moreira sempre foi adepto confesso do FC Porto. Aceitou integrar uma lista para o Conselho Superior, órgão consultivo, no quadro da disputa eleitoral em curso.
A nata do politicamente correto caiu-lhe em cima, com a torquemadíssima Ana Gomes à cabeça, identificando mais um caso de perversa promiscuidade entre política e futebol.
Sejamos claros. Há situações de promiscuidade e são lamentáveis, no futebol, como em qualquer outra atividade. Mas este não é o caso, antes pelo contrário.
É óbvio que Rui Moreira , no dia em que integrar o Conselho Superior, não pode intervir, como presidente da Câmara, em nenhum assunto que diga respeito ao FC Porto, justamente porque assumiu publicamente a sua posição de apoio ativo à atual presidência do clube.
Prefiro que seja assim, em vez dos casos de cumplicidade por detrás da cortina, de favores encapotados, de presidentes de câmara que gerem os clubes ‘de facto’ e de que a história do nosso futebol é tão pródiga.
As continuidades de sabor marcelista, normalmente, apenas agravam os sintomas, como duramente Portugal
sentiu e Rui Moreira bem sabe. Mas a escolha é sua e há que respeitá-la, porque, ao contrário de muitos outros, não ficou na retaguarda, no conforto dos trade-offs de bastidores, escondidos do escrutínio público.
Promiscuidade é tutelar a GALP e aceitar que ela lhe pague viagens; é pedir borlas para os jogos do clube do coração, e julgar os seus litígios; é mascarar subsídios com publicidade; é a Fundação Porto-Gaia e por aí além.
PROMISCUIDADE É TUTELAR A GALP E ACEITAR QUE ELA LHE
Se Rui Moreira quer ser parte da solução do intrincado problema em que o FC Porto se converteu, faz uma aposta de risco, inclusive política; mas ninguém o pode acusar de falta de transparência, porque corretamente se expõe onde os outros se escondem.
Os políticos, por muitos defeitos que tenham, não podem ser vistos como uma classe de leprosos, que contaminam tudo quanto tocam fora do mundo da política, nomeadamente no futebol; têm é de ser claros na sua motivação e rigorosos na delimitação dos conflitos de interesses.