O milagre português
Alexandre Carvalho
Há uns dias, o ‘L’Équipe’ questionou de forma explícita na sua capa se os franceses não estavam a ser os “idiotas da Europa” pelo facto de serem o único campeonato dos Big 5 a não reatar. A frustração é compreensível, ainda para mais se os gauleses observarem com atenção o caso português e perceberem que até aqui no meio do caos, da falta de solidariedade institucional, do egoísmo e egocentrismo que marca de forma inextinguível o nosso campeonato - se irá dar o ‘milagre da ressurreição’ da Liga.
Não fosse o vírus suficiente para aterrorizar a retoma, o futebol português fez questão de não deixar os créditos por mãos alheias: da dança dos estádios às manifestações das claques; da reunião dos ‘donos disto tudo’ com António Costa à queda em desgraça de Pedro Proença; das férias ao lay-off sem aviso prévio; dos testes positivos e negativos
SE CALHAR, AINDA HAVERÁ UMA
NOS BARREIROS...
e dos polémicos falsos positivos; dos que querem jogar desde início e de todos aqueles que encontram nos jogos de bastidores uma forma viável de fugirem às responsabilidades.
Houve de quase tudo neste ‘circo’ que foi a pré-retoma. E, mesmo assim, aqui estamos nós, a poucas horas do momento pelo qual todos ansiávamos há 88 dias. Hoje, quando a bola começar a rolar, às 19 horas, estaremos perante um autêntico milagre. Todos esperamos que as últimas dez jornadas corram de forma tranquila, competitiva e que no final ganhe o melhor. Quer dizer… todos, todos talvez não. Se calhar, ainda seremos surpreendidos por uma praga de gafanhotos no relvado do Estádio dos Barreiros...