Record (Portugal)

O pecado da gabarolice por antecipaçã­o

- VÍTOR PINTO Leonor Pinhão Jornalista PAULO FUTRE

FALHOU O BENFICA ESSA PEQUENA PROEZA TÃO NECESSÁRIA QUE SERIA MARCAR, VÁ LÁ, UM GOLITO AO TONDELA, MAS NÃO FALHOU O BENFICA, PELA VIA OFICIAL, A TÃO DESNECESSÁ­RIA PROEZA DE SE VANGLORIAR NA MANHÃ DO JOGO DE QUE NÃO DEPENDIA DE NINGUÉM PARA REVALIDAR O TÍTULO

E, PELA MILIONÉSIM­A VEZ, LÁ CONSEGUIU O HOMEM RENASCER DAS CINZAS

Não deixa de ser impression­ante como ao longo da história, mais ou menos recente, vemos o Benfica apostado em salvar o FC Porto e o seu presidente dos maiores imbróglios. É extensa a lista de benfeitori­as com que o Benfica tem conseguido resgatar dos abismos Pinto da Costa e o FC Porto. A entrega do ‘penta’, há dois anos, terá sido o desleixo mais sonante da segunda década de século XXI, mas o que se passou anteontem, no Estádio da Luz, foi uma espécie de apoteo- se da incapacida­de prática de cortar grandes males pela raiz.

A derrota do FC Porto em Famalicão, que ameaçava poder transforma­r-se na tempestade perfeita em vésperas de eleições no Dragão, é agora encarada de ânimo leve como um ligeiríssi­mo acidente do percurso da equipa de Sérgio Conceição na busca pelo título nacional. E isto graças à inoperânci­a total exibida, 24 horas mais tarde, pela equipa de Bruno Lage, a quem cabia cometer a peque- na proeza de vencer o Tondela para sair da jornada do reatamento na posição mais do que invejável de dona do seu destino. Não foi, no entanto, por excesso de confiança que o Benfi- ca falhou rotundamen­te a sua missão na noite de quinta-feira. Se há pecado que não se pode atribuir aos jogadores do Benfica, é esse da confiança a mais. Basta vê-los jogar e a não acertar com a baliza contrária. Do que a equipa sofre, e sofre muito, é de confiança a menos e, imagine-se só uma coisa des- tas, esse excesso de desconfian­ça que foi notório ao longo de fevereiro sobreviveu ao estado de emergência e ao confinamen­to e, três meses depois, regressou na plenitude dos seus sintomas.

Falhou, assim, o Benfica essa pequena proeza tão necessária que seria marcar, vá lá, um golito ao Tondela, mas não falhou o Benfica, pela via oficial, a tão desnecessá­ria proeza de se vangloriar na manhã do jogo de que não dependia de ninguém para revalidar o título. O pecado da gabarolice por antecipaçã­o colocaria sempre o Benfica a jeito de uma punição severa e proporcion­ou, como seria de esperar, o reaparecim­ento virtual do presidente do FC Porto fazendo pouco – e com motivos para isso – da retórica triunfal do rival que se revelaria tão útil aos seus propósitos. E, pela milionésim­a vez, lá conseguiu o homem renascer das cinzas: “O Benfica disse que passou a ser o único clube a depender de si. E falou verdade... até há uns 10 minutos. Agora é o FC Porto que volta a depender de si para ser campeão” e, dito isto, encerrou a matraca e regressou ao seu bunker todo contente, pudera!

Na próxima quarta-feira, o Benfica vai até Portimão e os adeptos já sabem que o presidente se zangou com os jogadores depois do nulo com o Tondela. Sendo de questionar os benefícios desta informação prestada em praça pública, todas as demais questões, e são muitas, ficam em suspenso sabe-se lá até quando.

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