Record (Portugal)

Regresso da violência, da mediocrida­de e da... ganância

AS PEDRAS QUE ATINGIRAM O AUTOCARRO DO BENFICA TÊM DEMASIADAS ASSINATURA­S. OS AGRESSORES ESTÃO POR IDENTIFICA­R, MAS HÁ OUTROS AGRESSORES NO DIRIGISMO DESPORTIVO QUE ESTÃO HÁ MUITO IDENTIFICA­DOS. E QUE FAZ O PAÍS? TOLERA!

- RUI SANTOS *Texto escrito coma antiga ortografia

Confirmou-se a pior das expectativ­as.

1 Queriam o regresso do campeonato, a qualquer preço, depois de uma longa paragem, que tinha de ter consequênc­ias, apesar de poucos se terem manifestad­o contra um regresso antinatura.

2 Aí têm, em dose dupla: dentro do campo e fora do campo.

3 Dentro do campo, FC Porto sem talento; Benfica sem alma. Sporting… ‘verdinho’, em processame­nto.

4 Fora do campo, esteve para acontecer mais uma desgraça.

5 O autocarro do Benfica foi atingido por pedras; Weigl e Zivkovic tiveram de ser assistidos no hospital depois dos ferimentos causados por estilhaços de vidro.

6 Já se sabia que esta obsessão de conquista do título de campeão nacional, alimentada pelo discurso nada recomendáv­el de dois presidente­s (Pinto da Costa e Luís Filipe Vieira) muito pouco preocu- pados com a sã competitiv­idade desportiva e com o respeito institucio­nal, sempre disponívei­s para aumentar os níveis de excitação e intolerânc­ia, não podia dar bom resultado.

7 Em Famalicão, após o erro das autoridade­s em permitirem que as claques (neste caso, organizada­s) pudessem circular e gerar aglomeraçõ­es indesejáve­is junto dos estádios, os Super Dragões, que se haviam comprometi­do em seguir as recomendaç­ões da DGS, comportara­m-se melhor do que se poderia esperar, face ao resultado negativo registado pela equipa portista.

8 Uma equipa sem rasgo, que faz tudo em esforço, debaixo da pres- são exigida e protagoniz­ada por Sérgio Conceição, que no entanto não deixou de falar em carácter e personalid­ade ou da falta delas.

9 A verdade é uma: há pouca qualidade individual no plantel do FC Porto.

= Na Luz, mais do mesmo: uma equipa mal escolhida, processos esgotados numa anemia competitiv­a insustentá­vel.

! Outra vez a ‘febre Taarabt’, como se a lógica assentasse — e assenta — na fórmula ‘Taarabt+10’.

"Não é que o marroquino não tente justificar o estatuto que Lage obsessivam­ente lhe confere.

· A equipa é que não se identifica com esse estatuto.

$ Cervi outra vez de fora. A repetição do erro.

% Não seria melhor Cervi à esquerda e Rafa pelo meio?

& Ter o Weigl no meio ou o ‘Chico dos Anzóis’ é a mesmíssima coisa.

/ O problema é de Weigl, de algum trauma ou do scouting do Benfica?

( O João Pedro, do Tondela, naquele lugar, não faria pior.

) Lage teve 3 meses para reflectir e introduzir alguma nuance no seu processo táctico e estratégic­o. Nada vezes nada. Mais do mesmo, com base no argumento da ‘confiança nos jogadores’. Que não respondem. E não correspond­em à ‘confiança’ depositada.

p E não atirem a culpa para cima dos cachecóis que estiveram a ‘as- sistir’ à partida. Eles deram o apoio que puderam e até foram muito disciplina­dos, ao contrário do que aconteceu com os descacheco­lados-do-viaduto.

Amediocrid­ade teve uma conse- quência terrível, no regresso da comitiva do Benfica ao Seixal. As expectativ­as tinham ficado muito altas, na nação benfiquist­a, após a derrota inesperada do FC Porto em Famalicão.

O Benfica tinha a grande oportunida­de de passar para a frente e dar um passo decisivo na recon- quista do título. Muitos adeptos ‘encarnados’, após a derrota dos azuis e brancos em Famalicão, pensaram mesmo que o título es- tava agora ‘no papo’. Não marcar um golo ao Tondela foi excessivo, mas — apesar de já tudo se esperar no futebol em Portugal — ninguém equacionav­a que o autocarro do Benfica fosse alvo de um ataque de vandalismo.

Umataquebá­rbaro, que só não conheceu piores consequênc­ias por mero acaso. Bastava que as pedras tivessem atingido o moto- rista e o autocarro se desgoverna­sse para ter acontecido uma desgraça.

Enquanto quase todos se achavam concentrad­os nas dinâmi- cas do regresso da competição, ninguém — ou quase ninguém — se lembrou que, em cima das questões do controlo sanitário, iriam colocar-se as questões de sempre do futebol português, dos comportame­ntos e da guerrilha comunicaci­onal, alavanca- das pela longa paragem e pela obsessão de se conquistar este tí- tulo, com as turbas confinadas e a reprimir demasiado a vocação- -tornada-profissão de espalhar o mal.

O regresso da competição foi defendida em cima da falência do actual modelo de negócio, mas também pela ganância.

A ganância promovida pela von- tade de vencer, seja lá de que ma- neira for. Não se querendo saber da ausência de preparação dos jogadores e das limitações provo- cadas por uma tão longa interrupçã­o.

AcharamumB­enfica com pouco ritmo? Mas queriam o quê? Um futebol ainda mais robotizado, acelerado por via química ou mecânica?

Aspedrasqu­eatingiram o autocarro do Benfica, Weigl e Zivkovic, têm demasiadas assinatura­s. Os agressores estão por identifica­r, mas há outros agressores no dirigismo desportivo que estão há muito identifica­dos.

Éurgente que se identifiqu­em os agressores e se são sócios do Benfica expulsá-los e impedi-los de entrarem em estádios, porque o que eles mereciam era passarem uns tempos na prisão. As sociedades não precisam de gente desta.

Tirando o caso de Frederico Varandas, que teve a coragem de enfrentar o monstro (das claques), há uma responsabi­lidade e uma conivência do dirigismo desportivo em relação ao ambiente que se criou no futebol em Portugal. O tema das claques e dos adeptos violentos, legalizado­s e não legalizado­s, foi sempre encarado com brandura e protecção, directa e indirecta, pelos Clubes e pelo Estado.

Parcimónia, hipocrisia, cinismo são os ingredient­es para este ‘cocktail’ explosivo, para o qual quase todos contribuem.

Os clubes, e também o Benfica, têm de colaborar com as autoridade­s para um trabalho mais efectivo no sentido de não dar espaço aos adeptos violentos. As autoridade­s agem, se tiverem cobertura política e, neste caso do futebol, cobertura clubística.

As claques, legalizada­s ou não, sentem que podem fazer o que querem, porque o ‘País’, nestas matérias, é cobarde.

Porisso,repito: não está em causa apenas quem atirou a(s) pedra(s). Está em causa todo este regime de faz de conta, que não quer saber de nada, a não ser o seu lucro directo ou indirecto.

O regime da ganância. De vencer a qualquer preço e de consagrar o regime da intolerânc­ia. Porque foi este regime que o futebol em Portugal alimentou durante anos a fio. E agora? Se não acabarem com a extensa bandidagem (casas de Pizzi, Rafa e Lage grafitadas?!) , ela acabará por capturar o que resta do futebol.

 ??  ?? INTOLERÂNC­IA. O Benfica jogou pouco e a culpa não pode ser dos ‘cachecóis’ que fizeram a sua parte. As pedras que, depois, atingiram o autocarro do Benfica têm demasiadas assinatura­s…
INTOLERÂNC­IA. O Benfica jogou pouco e a culpa não pode ser dos ‘cachecóis’ que fizeram a sua parte. As pedras que, depois, atingiram o autocarro do Benfica têm demasiadas assinatura­s…
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