LUIS FERNÁNDEZ
Como foi apanhar a Covid-19 num jogo à porta fechada?
LUIS FERNÁNDEZ – Não cheguei a apanhar o vírus. Fiquei adoentado, com sintomas da doença que, naquela altura, estava a aparecer, mas fiz os testes e deu negativo. Pensei que a tinha apanhado e só poda ter sido no PSG-Borussia Dortmund que, sendo à porta fechada, me obrigou a passar no meio da multidão que se aglomerou fora do estádio.
Foi o João Alves quem falou no assunto, relatando uma conversa que tiveram por essa altura…
LF – Falei com ele, de facto, no início. Estava adoentado mas, depois, não se confirmou ser Covid-19. Recuperei bem e estou como novo.
Mantém contacto com o João Alves? regular
LF – Falamos algumas vezes. O João foi o primeiro português com quem tive um relacionamento próximo. Fomos para o PSG na mesma época. Ele teve uma lesão grave, mas ficou bem claro que era um jogador extraordinário e um amigo inesquecível. Tinha grande elegância, com as suas luvas pretas, foi muito importante para a minha adaptação. Eu era muito jovem, vinha de um clube modesto (Saint-Priest) e só ajudado consegui resistir.
Como foram as suas ligações a Portugal ao longo da carreira?
LF – Se o João Alves foi o primeiro com quem joguei, Hugo Leal foi o primeiro jogador que tive como treinador. Fui eu que o levei para o PSG.
Por vontade própria?
LF – Sim. Via muitos jogos do Atlético Madrid, então treinado por Claudio Ranieri, e encantava-me a forma como jogava. Tinha qualidades excecionais. Foi pena não ter conquistado Paris.
LF – Para mim as memórias são boas, para vocês devem ser horríveis. Desse jogo, e da própria competição, recordo uma seleção portuguesa excelente, composta por uma geração de jogadores fantásticos. Esse jogo foi, sem dúvida, o mais sofrido da nossa campanha.
Vocês tinham muito em jogo nesse Europeu. Como foi lidar com a pressão?
LF – À pressão de jogar em casa e de termos vindo de um Mundial (1982) em que perdemos na meia-final com a Alemanha (Ocidental), nesse jogo tivemos ainda um obstáculo suplementar: o público de Marselha não nos empurrou, não nos ajudou a superar as dificuldades. E quando as coisas começaram a dar para o torto, sentimo-lo imediatamente.
“EM 1984, QUANDO PORTUGAL FEZ 2-1, NO PROLONGAMENTO, PASSOU-NOS TUDO PELA CABEÇA. PERDER ERA UMA SÉRIA AMEAÇA”
Chegou a pensar que o jogo estava perdido?
LF – Quando Portugal fez 2-1 no prolongamento, passou-nos tudo pela cabeça. Perder era uma séria ameaça, apesar de acreditarmos muito em nós. O que guardo desse jogo foi o ritmo elevado, a intensidade tremenda e a emoção de cinco golos, com a vitória a surgir mesmo no fim. Foi um grande jogo.
Que jogadores portugueses recorda?
LF – Chalana, uma delícia em tudo quanto fazia. Era brilhante. Inventou os dois golos portugueses, marcados por Jordão, um de cabeça e outro num remate espetacular. Mas não vai adivinhar qual é a minha memória mais antiga de um jogador português...
Mais antigo do que esses?
LF – Eu era menino, vivia perto de Lyon e comecei a ir ver jogos do Olympique.Lembro-meperfeitamente de lá ter chegado Mário Coluna, antigo companheiro de Eusébio, estrela do Benfica que tinha sido bicampeão europeu e participado em mais algumas finais na década de 60. Era veterano mas tinhamuitaqualidadeetransportava uma aura muito grande.
LF – Dizia-se que éramos os ‘três mosqueteiros’ que, como se sabe, eram quatro. Eu era o pivot e tratava dos equilíbrios; o Tigana era um box-to-box; Giresse era o organizador exímio (uma espécie de Iniesta daqueles tempos) e Platini era a estrela. Aliás, ele entrou na história como enorme 10, mas eu penso que ele era mais um 9,5. Tinha muito golo, de cabeça, com pé direito e pé esquerdo…
“EM TODOS OS CONFRONTOS ENTRE FRANÇA E PORTUGAL NOS EUROPEUS, GANHOU SEMPRE O MELHOR. É A MINHA CONVICÇÃO”
Foi dele o golo da vitória...
LF – Pois foi. Ainda me recordo do