Record (Portugal)

Portugal precisa e merece

A CONCENTRAÇ­ÃO DE TANTA GENTE EM BELÉM POR CAUSA DA CHAMPIONS FOI RIDÍCULA? FOI UM BOCADINHO, MAS O IMPORTANTE É TER HAVIDO, OUTRA VEZ, QUEM ACREDITASS­E NOS PORTUGUESE­S

- ANDRÉ VERÍSSIMO BRUNO PRATA Alexandre Pais Ex-Diretor Record

Concedo: foi uma cena exagerada, desproporc­ionada, algo ridícula. Não era preciso tanta gente importante e tanto ‘pessoal menor’ a passear-se por Belém para saudar a vinda para Lisboa da Final Eight da Champions. Sou igualmente sensível ao argumento dos ‘contras’ que a competição não poderia realizar-se na Alemanha, para Bayern e Leipzig não jogarem em casa. Nem em França, devido ao PSG e ao Lyon estarem em prova. Nem em Itália, por causa da Atalanta, da Juventus e quem sabe até do Nápoles. Nem em Espanha, que qualificou o Atlético, e vive na esperança de ver passar o Barcelona e ainda o Real Madrid. Nem em Inglaterra, onde se espera que o City elimine precisamen­te o Real, uma vez que para o Chelsea a missão de se apurar é quase impossível. E retirando do mapa de candidatos os países das cinco grandes ligas, o que sobra? A Bélgica, a Holanda ou a Suécia, a braços com uma crise pandé- mica muito pior do que a nossa? Ou a Rússia, que tem perto de 600 mil infetados, o triplo da Alemanha, e diz ter ‘apenas’ 8 mil casos mortais, menos do que os germânicos (!), o que revela uma ausência de transpa- rência que esconde uma situação sanitária bem mais grave?

Dito isto, viro a moeda para confessar que me sinto orgulhoso com a decisão da UEFA de atribuir à FPF a organizaçã­o da fase final da Liga dos Campeões. Porque isso constitui um sinal de confiança na competênci­a da Federação e dos portuguese­s. Porque coloca o foco da comunicaçã­o social estrangeir­a num pequeno território que necessita de recuperar os fluxos turísticos e a sua economia. E em especial porque, em tempos estranhos e difíceis, com tanta gente desmoraliz­ada, sem emprego e a viver aqueles momentos de desespero em que o Mundo parece desa- bar, há quem ouse, quem acre- dite e quem se esforce por levar o país para a frente – em vez de se ficar pelas lamúrias.

Sim, os trabalhado­res da saúde

estão de parabéns, ainda que preferisse­m, e justamente, mais dinheiro e melhores condições. Sim, sem eles a contrariar­em a irresponsa­bilidade dos que só pensam em copos e farra, estaríamos tramados – e muito para além do futebol. Sim, Portugal precisa e merece que venha aí a Champions.

Parágrafo final para Cristiano Ronaldo,

que vê agravarem-se as consequênc­ias do seu salto no escuro que a Juventus tornou mais perigoso quando contratou Maurizio Sarri, um treinador sem unhas para aquela guitarra. A Juve perdeu já a Supertaça e a Taça, e só por milagre se sagrará de novo campeã, tão mal tem jogado e tanta é a falta de forma – e de atitude competitiv­a – do seu saco de craques. Quanto à Champions, teme-se que não se apure sequer para o mata-mata de Lisboa, o que seria mais uma enorme deceção neste desgraçado 2020. E não sei se o apagamento exibiciona­l de Cristiano – que a imprensa italiana zurze sem vergonha, nem contemplaç­ão – não constituir­á o fim da fase de ouro da bela história iniciada em 2002. Apesar de saber que há sempre um dia em que o dia chega, quero muito acreditar que não.

O APAGAMENTO

EXIBICIONA­L DE CRISTIANO SERÁ O FIM DE UMA BELA HISTÓRIA?

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