Toca a todos
AGORA A TENDÊNCIA INVERTEU-SE, O BENFICA NÃO PAGA, PEDE EMPRESTADO
O Benfica SAD anunciou o lançamento de um empréstimo obrigacionista até 35 milhões de euros, pagando 4% bruto ao ano, acima do que o mercado está a pagar.
Pelo prospeto da emissão ficou-se a saber que, do contrato da NOS, o Benfica SAD já antecipou 164 milhões de euros, tendo, porém, pago à omnipresente XXIII Capital encargos de intermediação de 34 milhões, pelo que só terão ficado nos cofres da Luz 130 milhões. Neste jornal, Pedro Adão e Silva já expressou a sua perplexidade pelo elevado montante do comissionamento.
Espanta-me que nunca ninguém, no ativo mundo do Benfica, tenha exigido à SAD informação mais detalhada sobre o triângulo Benfica SAD/Jorge Mendes/XXIII Capital que, desde a transferência de Bernardo Silva para o Monaco, aparece de braço dado sempre que no Benfica entra dinheiro. Parece evidente que as vacas emagreceram desde o tempo em que o Benfica SGPS se propunha gastar 30 milhões (que não tinha) na compra das ações da SAD; agora a tendência inverteu-se, o Benfica não paga, pede emprestado.
Começa a esboroar-se o mito do oásis no deserto, o clube que está melhor do que os outros, que não faz lay-off, que aguenta firme, quando a concorrência fraqueja. Afinal, como os demais, o Benfica SAD recorre ao mercado de capitais e paga juros altos, antecipa receitas, reconhece a sua dependência das receitas da Champions e das vendas dos jogadores.
Ao contrário do que possa parecer, este cenário do rival não me causa particular satisfação, porque demonstra à saciedade a fragilidade financeira global do futebol português, a ausência de um projeto de futuro, com todas as consequências inerentes, a mais palpável das quais é a perda comprovada e crescente de competitividade internacional.
Para aqueles que acreditam em lideranças iluminadas e salvadores da pátria (e não estou a falar de nenhum clube em especial), recomendo que olhem para os números, porque esses não mentem e valem para além dos efeitos da pirotecnia propagandística.
E quando o Benfica anunciar a venda, por números gordos, do Vinícius, dos laterais Tavares, do Florentino, do Rúben Dias ou do João Ferreira (só para falar nos que estão na montra), desenganem-se aqueles que acham que foi mais um negócio da China; a experiência mostra que quem entra, normalmente, não vale aquele que sai.
E o futebol português fica a perder.