Record (Portugal)

SÉRGIO ENCHE O PAPO

Em noite de São João, o FC Porto festejou a liderança isolada. Fome de golos saciada com sardinhada... e um inesperado toque de ketchup

- CRÓNICA DE ANDRÉ MONTEIRO

“Será uma luta até final“

Dificilmen­te os adeptos do FC Porto conseguiri­am imaginar, até pelas limitações que todos conhecemos hoje em dia, um São João melhor passado do que este. Sem direito ao tradiciona­l arraial, a Invicta viveu ontem o seu sempre emocionant­e dérbi, na ótica dos dragões uma autêntica festa, por ter significad­o a tão ansiada liderança isolada no campeonato. Um cenário pouco esperado – e por isso mais saboroso – à entrada para esta jornada, mas que começou a ganhar contornos reais poucos minutos antes do arranque da partida, por altura da consumada derrota do Benfica na receção ao Santa Clara. O balão azul e branco, com a paciência certa, encheu bem e subiu ao topo da Liga NOS... A exibição portista até não foi de gala, mas teve tudo aquilo de que o povo gosta e faltou aos dragões nas últimas jornadas: golos. Os tão necessário­s golos, condimento principal do futebol, surgiram com fartura, muito por culpa de Marega. Bloqueado nas últimas seis jornadas, o maliano abriu o frasco do ketchup tornado célebre por Cristiano Ronaldo... A acompanhar uma sardinhada de São João? Bem, nunca uma conjugação tão inusitada terá sabido tão bem aos portistas...

O Boavista, é bom dizer-se, não foi um mero figurante no dérbi da cidade. É facto que nunca esteve perto da vitória, mas amealhar um pontinho seria sempre um bom resultado, tanto mais provável quanto a igualdade se prolongass­e no marcador. O embargo foi quebrado e, com isso, a estratégia axadrezada desmoronou-se.

A ideia ficou evidente na forma como Daniel Ramos montou a sua equipa num 5x2x3 sobrepovoa­do no terço defensivo, procurando aguentar o ímpeto do

FC Porto até ser momento de colocar a cabeça de fora. Do lado dos dragões, a nota estratégic­a mais interessan­te passou pela colocação de Corona no corredor central atrás de Soares – Marega partia da direita para dentro –, posição na qual o mexicano seria fulcral. Sem surpresa, os azuis e brancos assumiram as despesas desde o apito inicial, impondo-se em toda a linha nos primeiros 25 minutos, com direito a duas ocasiões desperdiça­das na sequência de bolas paradas. Para se ter uma ideia da diferença de volume de jogo, por esta altura o FC Porto tinha 75 por cento de posse de bola e Marchesín apareceu pela primeira vez apenas à pas

sagem dos 21 minutos... A primeira parte fecharia com mais uma oportunida­de falhada, no caso num remate cruzado de Corona que passou muito perto do poste.

Ao intervalo, Conceição ganhou o jogo, essencialm­ente através da entrada de Uribe. Com o colombiano no meio, Otávio encostado à direita apoiado por Manafá e Corona entre o eixo e a esquerda, o FC Porto ganhou maior capacidade de pressão e mais apoios próximos no jogo interior. E foi precisamen­te pelo meio que desenharam a melhor jogada da partida, que terminou com um passe de morte de Corona para Marega reabrir a sua faturação pessoal. Logo a partir daí, acentuou-se uma das certezas que este futebol em contexto pandémico tornou ainda mais evidente: muito do que se joga, quase tudo o que sai dos pés de cada jogador... está na sua cabeça. Com o marcador desbloquea­do, os dragões pareciam outros. Toque de bola, envolvênci­a ofensiva, enfim, qualidade de jogo. Os penáltis que permitiram o avolumar do resultado surgiram com naturalida­de, assim como o 4-0 final.

Ao apito final, o jogo bem se podia resumir numa quadra à moda da Invicta. Na noite de São João, o dragão encheu a ‘pança’, fez a festa que queria, sozinho na liderança.*

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