Quanto ao Benfica, com franqueza, decide-te, pá
Uma coisa é certa. Bruno Lage nasceu para ser um caso de estudo. Permanente. O seu triunfo em 2018/19 constituiu um caso de estudo, ou não? Lage era um treinador praticamente desconhecido que levou o Benfica a um título que parecia impossível através de uma recuperação fenomenal. A sua desgraça em 2019/20 é outro caso de estudo, ou não? E não menos fenomenal porque não deixa de ser um verdadeiro absurdo o caso de um treinador que perde no mês do Carnaval os sete pontos de vantagem que tinha sobre o seu perseguidor e, passando de perseguido a perseguidor, vai somando desaires atrás de espalhanços até que chegue o fim para semelhante calvário.
Entre os mais variados e desvairados diagnósticos
entretanto explanados sobre este momento ímpar da história do Benfica haverá um que parece fazer todo o sentido até porque se trata de uma evidência. A equipa de futebol não acredita no seu líder. Basta ver jogar o Benfica para se validar essa hipótese cujas consequências estão à vista de todos mesmo dos que, por uma razão ou por outra, não a querem ver. E deixando, por agora, de lado as fastidiosas questões técnico-táticas, como poderiam os jogadores do Benfica acreditar no seu treinador quando há meses e meses que veem, como todos vemos, escarrapachada nas primeiras páginas dos jornais, a revelação, pouco ou nada desmentida, do ‘affair’ que supostamen- te o Benfica vem mantendo com outro treinador? uma semelhante infidelidade, pública e repetidamente exposta sem o mínimo decoro, seria o suficiente para menori- zar Lage aos olhos de toda a gente da casa e, sobretudo, aos olhos de quem com ele vive e trabalha para o bem e para o mal e na saúde e na doença, os jogadores. E é também por estas coisas que se vêm arrastan- do pelas ruas da amargura as conjugalidades da Luz. E do Seixal, claro.
Tal como seria de esperar, esta última derrota, frente ao Santa Clara, na terça-feira passada, atiçou as brasas do espetacular namoro do Benfica com Jorge Jesus nos jornais, nas televisões e nas internets. Por uma questão de elogiável bom senso – sempre tão difícil de atingir neste género de ocorrências –, nem o Benfica nem Jorge Jesus pronunciaram uma palavra que fosse sobre tal assunto mas, para o grande público, Bruno Lage está formalmente despedido e, como complemento, o atual treinador do Flamengo habilita-se a ser o seu sucessor. Para o grande público nunca é grave ver-se entretido com coisas destas mas, para os jogadores do Benfica é gravíssimo poderem sequer imaginar que o tempo do seu treinador acabou embora o continuem a ver todos os dias úteis.
E como é que uma coisa destas vai acabar? A questão está na ordem do dia há dezenas e dezenas de dias. Ora, por isso mesmo, a questão vai acabar mal, pessimamente. Aliás, já nem é uma questão, é um massacre, aliás, são dois massacres. Um massacre para Lage e outro massacre para o Benfica. Quanto a Lage, paciência, meteste-te a jeito. Quanto ao Benfica, com franqueza, decide-te, pá. A impiedade, de facto, galopa neste reino.
PARA O GRANDE PÚBLICO BRUNO LAGE ESTÁ FORMALMENTE DESPEDIDO
E COMO É QUE UMA COISA DESTAS VAI ACABAR? A QUESTÃO ESTÁ NA ORDEM DO DIA E VAI ACABAR MAL, PESSIMAMENTE. ALIÁS, JÁ NEM É UMA QUESTÃO, É UM MASSACRE, ALIÁS, SÃO DOIS MASSACRES. UM MASSACRE PARA LAGE E OUTRO MASSACRE PARA O BENFICA