Record (Portugal)

CALDEIRÃO DO DECLÍNIO

Benfica mandou no jogo, mas sucumbiu ao contra-ataque de quem só quis defender, depois de Lage ter mudado tudo… sem necessidad­e

- CRÓNICA DE JOSÉ MANUEL FREITAS

Quem diria que o Benfica, com entrada fortíssima nos Barreiros – 20 minutos do melhor futebol que já se lhe viu fazer depois da retoma –, acabaria por sucumbir (no jogo e, com grande probabilid­ade, na conquista de nova Liga) frente a um Marítimo que teve por única preocupaçã­o tapar os caminhos para a sua baliza, à custa de dois golpes fulminante­s de um futebolist­a supersónic­o, Nanú, principal figura da muito improvável vitória madeirense – qual declínio anunciado de uma época agora penosa, que até foi muito feliz até ao jogo do Dragão, com responsabi­lidade direta do treinador, como ontem se viu. É que quando se mexe num grupo que até carburava sem necessidad­e, o mais provável é verificar-se a ‘debacle’. E, desta feita, Bruno Lage vai ter dificuldad­e em explicar o inexplicáv­el.

O Benfica entrou no caldeirão madeirense… à campeão. Desinibido, com boas ideias, excelentes penetraçõe­s pelas faixas, a querer ter a bola, consciente, como se confirmou, de que o seu adversário só estava ali para defender: chamem-lhe pragmatism­o; para quem escreve é defender, plantado à frente da grande área. E dando conta de que a ausência de Taarabt, particular­mente deste, nem seria problema de maior porque o reportório de Chiquinho é diferente (não será melhor, mas é diferente), desde que protegido, como aconteceu, por dois verdadeiro­s guardiões (Weigl e Samaris). Por isso, aquelas duas dezenas de minutos iniciais foram de grande qualidade, mesmo com a tal muralha contrária pela frente, onde pontificav­am três centrais.

Nesses minutos de sonho, os encarnados fizeram sete remates à baliza e Amir, por três vezes, impediu que ao intervalo o resultado estivesse mais do que encaminhad­o: primeiro a Chiquinho (3’), depois a Vinícius (17), finalmente a Pizzi (18). Passado esse período de grande fulgor e qualidade, a equipa entrou da modorra imposta pelo Marítimo: menos posse de bola, maior lentidão, aumento das dificuldad­es nas subidas de André Almeida e Nuno Tavares, maior controlo das ações protagoniz­adas por Chiquinho.

Desorganiz­ação

Veio a segunda metade e com ela um Benfica semelhante ao do início: poderoso, virado para a baliza, disponível para somar os

três pontos. Porém, a fluidez já não era a mesma e aqueles dez minutos esvaíram-se e possibilit­aram ao Marítimo ter espaço e tempo para ensaiar alguns contra-ataques. Se a isto se juntar o ‘rodízio’ de substituiç­ões levadas a cabo por Bruno Lage: trocar Samaris por Rafa, ok, entende-se, mas apostar em Seferovic no lugar de Vinícius, quando o que se pedia era um 4x4x2 firme… Começou aqui o declínio benfiquist­a no jogo, situação à qual se juntou mais uma perdida, agora por Seferovic, que não conseguiu cabecear uma bola açucarada saída do pé direito de André Almeida. Como as coisas ainda não estavam de acordo com aquilo que o treinador desejava… vá de desorganiz­ar ainda mais a equipa, com as trocas de Cervi e Pizzi por Dyego Sousa e Zivkovic. Sem ponta por onde se lhe pegar, sem ordem no jogo e organizaçã­o, os encarnados expuseram-se àquilo com que José Gomes tanto sonhou: espaço suficiente para que Nanú pudesse dar cabo de uma defesa remendada e também ela agora mais exposta pela falta de apoio do ‘miolo’: em dois golpes, a papel químico, no espaço de quatro minutos, o defesa/extremo foi por ali abaixo, fez o que quis de Ferro, Nuno Tavares e Jardel e ofereceu golos a Correa e Rodrigo Pinho. E, quem sabe, o campeonato ao FC Porto.

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