O teimoso e o Patinhas
O Benfica tinha tudo para ganhar, este ano, o campeonato. Com o Sporting debilitado – e claramente derrotado na Supertaça – e o Porto em fair play financeiro e desertado de cinco titulares indiscutíveis, tinha o Benfica o dinheiro e o plantel que a concorrência não possuía.
Essa superioridade manifesta no papel não se confirmou, dentro e fora de portas. Hoje, o Benfica devia ter 15 pontos de avanço na Liga e uma presença europeia honrosa, e nada disso acontece.
Para mim, concorrem, em conjunção quase astral, duas razões: a teimosia tática do treinador e o mercantilismo do presidente.
Apartirdaentradade Weigledasaídade RDT, o Benfica alterou o seu desenho competitivo, com menos presença na área e menos dinâmica nas transições. Se a isto juntarmos um período de menor fulgor de peças essenciais e a constatação que os anunciados diamantes da defesa não tinham os quilates anunciados, é fácil entender este calvário de equívocos, em que o Benfica labora.
Por outro lado, por muita alquimia que o Seixal proclame, nem sempre é certo que os que vêm substituir os que foram vendidos, apresentem a mesma qualidade. O Benfica quer encaixar dinheiro nas vendas e manter a competitividade desportiva, equação que se afigura impossível de resolver. O Seixal é bom, mas não é a fórmula mágica.
Só entendo a composição da equipa em jogos da Champions, a obstinação em Weigl, o não substituir Vinícius, o não escalar Florentino, à luz de opções predominantemente comerciais. Vieira faz figura de Tio Patinhas, mas Lage não é o Gastão e até a sorte falta, quando era mais precisa.
Agora que o vento estival do infortúnio sopra forte para os lados da Luz, o lixo acumulado debaixo do tapete emerge, e Gonçalves, Rangel, Boaventura,
NO TEMPO DE UM CONJUNTO DE BENFIQUISTAS TEVE A CORAGEMDESEINSURGIR
Rui Pinto, vão pairar quais espetros, por cima de uma reeleição que se antevia fácil, mas que, surpreendentemente, se complicou.
O discurso do presidente no rescaldo da derrota dos Barreiros, sob a aparência de humilde contrição, é de um descarado eleitoralismo. Onde era imperioso pedir desculpa e animar os benfiquistas, prevaleceu o puxar de galões pela obra feita.
No tempo de Vale e Azevedo, um conjunto de benfiquistas teve a coragem de se insurgir e derrotar o incumbente; será que agora, já não há ninguém que se indigne?