Ou Vieira ou o caos
PERANTE O DESFILE DE CANDIDATOS A CANDIDATOS, OS BENFIQUISTAS PARECEM NÃO TER ALTERNATIVA AO VELHO TIMONEIRO. VIEIRA VAI VENCER AS ELEIÇÕES POR FALTA DE COMPARÊNCIA? Octávio Ribeiro
O BENFICA FALHOU A CONSOLIDAÇÃO DA HEGEMONIA DO FUTEBOL PORTUGUÊS
A atual crise do Benfica coloca uma primeira questão: Luís Filipe Vieira é o providencial vulto de mais uma nova solução ou já protagoniza o problema? A resposta deve caber ao universo benfiquista com direito a voto nas próximas eleições.
O que um observador independente pode constatar é que Vieira apontou como objetivo para o mandato em vigor a consolidação da hegemonia do futebol português. Falhou.
E o falhanço é clamoroso. O principal rival está periclitante há anos. Fruto de más políticas de recrutamento, de transferências opacas, o FC Porto estava mesmo a jeito, à mercê de um ligeiro abanão benfiquista. Em vez de um discurso assertivo de unificação, com tudo ainda para ganhar, Vieira desatou a fazer pré-campanha.
Não exorcizou o fantasma de Jorge Jesus, não garantiu sem engulhos a continuidade de Bruno Lage para a próxima época. Sendo Bruno Lage o téc- nico campeão, com quem o mesmo Vieira decidiu firmar um generoso contrato até 2024.
Com este discurso ziguezagueante na fase de retoma da competição, o Benfica chegou ao primeiro jogo pós-Covid e viu o seu autocarro apedrejado, após uma má exibição na Luz.
Perante o cenário de dois joga- dores feridos por pedradas vândalas e o pânico do risco de vida corrido por toda a comitiva, o que faz Vieira? Aperta os jogadores, cobra que lhes pagou a 100% durante a pandemia. Mais grave e profundo, de- sautoriza o treinador, ao ameaçar os consagrados com a chamada dos miúdos à equipa principal. Como se ao presidente coubesse uma decisão técnica. A única decisão técnica que deve caber ao presidente é a de contratar ou manter o treinador.
Naquele momento, Lage perdeu os jogadores e Vieira perdeu o carisma. Nesse discurso insano, vê-se agora, o Benfica perdeu este campeonato. E Lage deveria ter-se demitido de imediato.
O bom senso aconselharia outra tática a Vieira. A equipa jogara mal, mas recuperara um ponto ao rival. O momento era de sarar as feridas e de união contra as pedradas. Vieira apedrejou por cima. Tão péssimo momento de liderança de grupo é difícil de encontrar nos grandes clubes, fora dos mandatos demenciais de Bruno de Carvalho ou Vale e Azevedo.
Depois de afastar finalmente
o técnico, Vieira dramatiza com a sua permanência no clube. Como se sem Vieira só restasse o caos. De facto, perante o desfile de candidatos a candidatos, os benfiquistas parecem não ter alternativa a este velho timoneiro. O que é muito estranho, num clube poderoso, com milhões de adeptos, mais de 200 mil sócios e vida financeira desafogada.
Vieira vai vencer por falta de comparência?