Esperar por outubro
SE LUÍS FILIPE VIEIRA ESTÁ TÃO CONVICTO DAS SUAS CONDIÇÕES PARA LIDERAR O CLUBE, ENTÃO, DEMOCRATICAMENTE, DEVERIA MANTER O CALENDÁRIO ELEITORAL
O FC Porto saltou em defesa da honra de Bruno Lage na sua newsletter ‘Dragões Diário’, com que amiúde ataca o rival. “Como se Bruno Lage tivesse alguma dose de culpa nas vieirices que atiram constantemente o nome do clube para a lama”, atirou o autor. Depois foi o próprio Pinto da Costa a escrever que “não é aceitável que profissionais sérios sejam usados como bodes expiatórios de quem precisa de se salvar e coloca sempre os interesses pessoais à frente dos interesses coletivos”.
As declarações têm como propósito desestabilizar e desmoralizar o rival. E cumprem bem a sua missão, até porque são ambas certeiras. As “vieirices” mancham o nome do clube e o presidente serve-se dele para os seus interesses.
É o que está em causa no último processo a vir para as man- chetes: o da operação Lex. Luís Filipe Vieira terá alegadamente pedido ao juiz desembargador Rui Rangel para interceder por si num processo que corria no Tribunal Administrativo e Fiscal de Sintra, em que uma empresa do presidente do Ben- fica contestava uma dívida de 1,6 milhões de euros à Autoridade Tributária. Em troca, ofereceu um cargo na universida- de que o Benfica tencionava criar. Segundo avançou a TVI, vai ser acusado pelo Ministério Público e incorre numa pena de até cinco anos de prisão.
Um clube de futebol é suposto ser notícia pelos resultados desportivos, pelos protagonistas e incidências do jogo, pelos jogadores que vestem e despem a camisola. Não pelos casos de justiça. No Benfica, são tantos que se tornaram uma normalidade.
É curioso como não toleramos
que um ministro, secretário de Estado ou deputado sejam sus- peitos de qualquer ato de corrupção ou favorecimento, exigindo a demissão imediata, mas há uma tolerância significativa de sócios e adeptos quando se trata dos dirigentes dos seus clubes. É assim no Benfica, no FC Porto, no Sporting, no Sp. Braga e por aí fora. Desde que ganhem jogos e campeonatos, claro está. Não há tarjas a pedir a demissão por conduta imprópria ou ilícita.
O Benfica é um clube razoavelmente bem gerido, mas mal presidido. Vai haver eleições: este é o momento para os benfiquistas mostrarem que não toleram um clube de vieirices. Este é o momento em que definem o que o futebol deve ou não deve ser. É preciso que surja um projeto alternativo para o clube, liderado por gente credível, sem populismos. O Benfica precisa dessa manifestação de vitalidade.
O primeiro-ministro, António Costa, garantiu este fim de semana que não irá aproveitar a pandemia e a subida nas sondagens para forçar eleições antecipadas. Ou seja, se acontecerem é porque foi forçado. Espera-se que Luís Filipe Vieira também não force uma ida prematura dos benfiquistas às urnas com o único propósito de limitar a possibilidade de surgirem alternativas e o tempo necessário para o debate. Se está tão convicto das suas condições para liderar o clube, então, democraticamente, deveria esperar até outubro.
O BENFICA É UM CLUBE RAZOAVELMENTE BEM GERIDO, MAS MAL PRESIDIDO