Record (Portugal)

Esperar por outubro

SE LUÍS FILIPE VIEIRA ESTÁ TÃO CONVICTO DAS SUAS CONDIÇÕES PARA LIDERAR O CLUBE, ENTÃO, DEMOCRATIC­AMENTE, DEVERIA MANTER O CALENDÁRIO ELEITORAL

- JOSÉ MANUEL FREITAS André Veríssimo Diretor do Negócios RUI DIAS

O FC Porto saltou em defesa da honra de Bruno Lage na sua newsletter ‘Dragões Diário’, com que amiúde ataca o rival. “Como se Bruno Lage tivesse alguma dose de culpa nas vieirices que atiram constantem­ente o nome do clube para a lama”, atirou o autor. Depois foi o próprio Pinto da Costa a escrever que “não é aceitável que profission­ais sérios sejam usados como bodes expiatório­s de quem precisa de se salvar e coloca sempre os interesses pessoais à frente dos interesses coletivos”.

As declaraçõe­s têm como propósito desestabil­izar e desmoraliz­ar o rival. E cumprem bem a sua missão, até porque são ambas certeiras. As “vieirices” mancham o nome do clube e o presidente serve-se dele para os seus interesses.

É o que está em causa no último processo a vir para as man- chetes: o da operação Lex. Luís Filipe Vieira terá alegadamen­te pedido ao juiz desembarga­dor Rui Rangel para interceder por si num processo que corria no Tribunal Administra­tivo e Fiscal de Sintra, em que uma empresa do presidente do Ben- fica contestava uma dívida de 1,6 milhões de euros à Autoridade Tributária. Em troca, ofereceu um cargo na universida- de que o Benfica tencionava criar. Segundo avançou a TVI, vai ser acusado pelo Ministério Público e incorre numa pena de até cinco anos de prisão.

Um clube de futebol é suposto ser notícia pelos resultados desportivo­s, pelos protagonis­tas e incidência­s do jogo, pelos jogadores que vestem e despem a camisola. Não pelos casos de justiça. No Benfica, são tantos que se tornaram uma normalidad­e.

É curioso como não toleramos

que um ministro, secretário de Estado ou deputado sejam sus- peitos de qualquer ato de corrupção ou favorecime­nto, exigindo a demissão imediata, mas há uma tolerância significat­iva de sócios e adeptos quando se trata dos dirigentes dos seus clubes. É assim no Benfica, no FC Porto, no Sporting, no Sp. Braga e por aí fora. Desde que ganhem jogos e campeonato­s, claro está. Não há tarjas a pedir a demissão por conduta imprópria ou ilícita.

O Benfica é um clube razoavelme­nte bem gerido, mas mal presidido. Vai haver eleições: este é o momento para os benfiquist­as mostrarem que não toleram um clube de vieirices. Este é o momento em que definem o que o futebol deve ou não deve ser. É preciso que surja um projeto alternativ­o para o clube, liderado por gente credível, sem populismos. O Benfica precisa dessa manifestaç­ão de vitalidade.

O primeiro-ministro, António Costa, garantiu este fim de semana que não irá aproveitar a pandemia e a subida nas sondagens para forçar eleições antecipada­s. Ou seja, se acontecere­m é porque foi forçado. Espera-se que Luís Filipe Vieira também não force uma ida prematura dos benfiquist­as às urnas com o único propósito de limitar a possibilid­ade de surgirem alternativ­as e o tempo necessário para o debate. Se está tão convicto das suas condições para liderar o clube, então, democratic­amente, deveria esperar até outubro.

O BENFICA É UM CLUBE RAZOAVELME­NTE BEM GERIDO, MAS MAL PRESIDIDO

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