Ao meu ídolo
Artur Fernandes
A onda iconoclasta em torno de George Floyd com as consequentes manifestações públicas de ataques a estátuas tidas por nós como quase todas elas de enorme veneração, idolatria ou apenas honra ou respeito, como o caso da do Padre António Vieira, Colombo ou Arthur Ashe, poderia fazer-nos repensar sobre a forma de ilustrar os Descobrimentos, a História e os nossos heróis aos jovens contemporâneos. A estatuária deveria refletir um homem histórico, com visão histórica sobre a realidade. Agora há que acrescentar ser ético, leal e cumpridor da lei, nesse período da história à imagem da atualidade. E esse exercício não é para todos, muito menos para quem por radicalização atenta contra estátuas, enquanto assalta supermercados. Mas o exercício é dos cientistas históricos, para que não se elevem ou deixem à vista figuras da história que, ainda que em algum momento tenham tido visão, foram toda a vida ou parte dela velhacos, desonestos, xenófobos ou pervertidos.
Por isso, o futebol é exemplar: Eusébio, Rui Filipe, Rui Patrício, Cristiano Ronaldo, Bobby Robson (Newcastle), Matt Busby e Alex Ferguson ( M. United), Beckham (LA ), Ted Bates (Southampton ) são homenagens que esperemos de respeito e simbolismo eterno. Porque o futebol e o desporto são isto. Alegria, paixão e devoção aos ídolos.
A estátua reflete o exemplo, a mensagem, a visão, o bom e o belo. E isso o futebol pode continuar a dar em todos os momentos. Porque tem gente boa e competente, visionários e empreendedores, génios e artistas. Não se inibam de colocar estátuas à volta dos estádios e em dia de jogo haverá sempre fotos, uma recordação ao lado do símbolo, do ídolo.
Porque o problema dos iconoclastas não é querer acabar com ídolos, é colocar os seus. Assim, mais importante é ter a noção de cada enquadramento histórico, porque tudo o que se compreende está na iminência de ser perdoado.