Record (Portugal)

Sangue de barata é bom para a pesca

Alexandre Pais

- ANDRÉ VERÍSSIMO Ex-Diretor Record BRUNO PRATA

Revi agora uma entrevista de Jorge Jesus à CMTV, na Arábia Saudita, na qual explicava que a experiênci­a no Al Hilal o tinha tornado um homem diferente por ter aprendido, com a filosofia árabe, a encarar as derrotas de forma algo semelhante ao que acontecia com as vitórias. Veio-me logo à ideia o Sérgio Conceição e os seus ataques de cólera, e o bem que lhe faria passar um tempo nas arábias. Talvez um dia.

Trata-se de uma treta. Primeiro porque Jesus podia comportar-se como um cavalheiro em Riade: ninguém por lá lhe puxaria as orelhas. Mas não esperaremo­s muitas semanas para o vermos irritado e a mandar vir junto ao banco do Benfica. Depois porque tivesse Sérgio Conceição uma postura de ‘gentleman’ e não teria tido, muito provavelme­nte, a capacidade de sacudir a pressão – que chegou a ser brutal – e levar o FC Porto à conquista do segundo campeonato em três épocas. O nobre conceito de ‘sa- ber perder’ faz lembrar aquele futebol muito bonito e elogiado por todos que permite aos adversário­s ganharem os jogos. Quem tem sangue de bara- ta só pode ter êxito na pesca. E tem de ser à linha.

Não é esse o caso de Rúben

Amorim, que faz declaraçõe­s carregadas de bonomia no lan- çamento das partidas e perde o sentido de humor no final, quando o resultado não é o que esperava, como sucedeu na Luz: mal ouviu o apito final, dis- pensou o fair play dos cumpriment­os e avançou de rosto fechado para o balneário. Temos homem. Tanto mais que passa da ira à moderação em minutos: ainda desgostoso mas já não agastado, apareceu aos jor- nalistas com um discurso positivo e o olhar no futuro que o futebol exige e a vida aconselha. As últimas jornadas não lhe correram bem e perdeu o terceiro lugar na Liga por culpa própria: não pelo que fez ou não fez em Alvalade, antes pelos pontos ‘a mais’ que somou ao serviço do Sp. Braga...

O estado de alma de Rúben Amorim não foi, infelizmen­te, seguido pelos sportingui­stas nas redes sociais, onde logo na noite de sábado estalou a guerra civil, com acusações cruzadas e os insultos da ordem. Uma das críticas mais absurdas ao treinador leonino foi a de ter posto a jogar demasiados jovens. O que lhes digo é que tivesse ele insistido nuns coxos que lá tinha e o Sporting acabaria ultrapassa­do por Rio Ave e Famalicão. Noção da realidade precisa-se!

Rio Ave e Famalicão ,que com menos recursos e espalhafat­o conseguira­m um fantástico desempenho no campeonato, ambos merecendo a quinta posição e a qualificaç­ão europeia. Sorriu a sorte aos de Vila do Conde, com o inacreditá­vel final de jogo na Madeira, mas nem por isso é menor o mérito de Carlos Carvalhal, para quem se abre de novo a porta do futebol inglês. Chapeau!

O último parágrafo vai hoje para o histórico Vitória de Setúbal, que logrou, com suor e lágrimas, permanecer na divisão principal. E aqui deixo um abraço ao Lito Vidigal, uma pessoa de caráter e um dos técnicos mais competente­s do futebol português.

SEM A APOSTA NOS JOVENS, O SPORTING TERIA FICADO ATRÁS DE RIO AVE E FAMALICÃO

RÚBEN AMORIM PASSA DA IRA À MODERAÇÃO EM MINUTOS, FAZENDO REGRESSAR O DISCURSO POSITIVO E O OLHAR NO FUTURO QUE O FUTEBOL EXIGE E A VIDA ACONSELHA

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