Record (Portugal)

“Vasco Seabra vai fazer um grande Boavista”

No dia em que o Boavista celebra 117 anos, o presidente dos axadrezado­s coloca os olhos no futuro. Para o líder não há dúvidas: a entrada em cena do investidor Gérard Lopez será crucial para o reerguer do afamado ‘Boavistão’

- VÍTOR PINTO E PEDRO MORAIS

“GÉRARD LOPEZ ACREDITA NO NOSSO PROJETO. NÓS TEMOS UM PROJETO, SABEMOS O CAMINHO A SEGUIR, MAS FALTA O DINHEIRO”

“VOU REALIZAR UMA SESSÃO DE ESCLARECIM­ENTO E SE PERCEBER QUE OS SÓCIOS NÃO QUEREM, NÃO TOMAREI ESTA SOLUÇÃO”

Em dia de aniversári­o do Boavista, e olhando para o que foi o passado e para o que é o presente do clube, qual será a grande transforma­ção doravante?

VÍTOR MURTA – A transforma­ção do clube tem vindo a acontecer nos últimos anos. Quando tomei a presidênci­a tinha a missão de criar estabilida­de desportiva e financeira. Temos vindo, dessa forma, a cumprir com o que prometemos aos sócios. Ou seja, para além do sucesso desportivo, queremos também criar uma imagem de credibilid­ade e de estabilida­de. Temos cumprido com todas as nossas obrigações. Não há ninguém neste clube que possa dizer que o Boavista está em incumprime­nto e essa é para nós uma vitória. Queremos isso para o futuro.

O Boavista cumpre, mas tem ainda um PER que condiciona as contas e que poderia, à partida, dificultar o futuro...

VM - Temos um PER, estamos a pagar as prestações e é óbvio que, enquanto tivermos o PER, vamos estar condiciona­dos desportiva­mente. Temos quase dois orçamentos. Temos um orçamento de PER, na casa de 1,2 milhões de euros anuais, e temos um orçamento para o futebol que fica prejudicad­o. Conseguirí­amos uma série de atletas só com o dinheiro das prestações do PER. Mas quando chegamos ao fim do mês ficamos tranquilos porque cumprimos com as nossas obrigações. O meu avô dizia que é mais importante termos crédito do que dinheiro. Estamos a viver um pouco disso.

Credibiliz­ando-nos, fazemos com que os credores acreditem em nós.

É neste contexto que entra o investidor Gérard Lopez?

VM - Quando olhamos para este investidor, o Gérard Lopez, com o qual estamos a negociar a entrada no capital da SAD, é no sentido de podermos dar passos maiores do que aqueles que podemos dar por nós próprios. Nós, ao darmos este passo, não estamos a dar mais 117 à instituiçã­o, mas se calhar a eternidade. Para nós o importante era encontrar o parceiro certo. Não vale a pena andarmos sempre atrás do parceiro. O que fiz quando cheguei ao Bessa foi tirar a placa do ‘Vende-se’. Quando passamos por uma casa e vemos a placa durante meses, percebemos que a casa não vale nada, senão alguém a teria comprado.

Este acordo com o investidor é, portanto, uma forma de garantir um futuro para o Boavista?

VM - No pós-Covid, temos de ser empíricos e racionais. Um outro Covid desta vida pode pôr em causa a existência do futebol em Portugal. O negócio da Boavista SAD é o futebol e a maior receita são as transmissõ­es televisiva­s. Como foi sabido, as operadoras agiram em cartel e em março deixaram de cumprir. Em março ficámos com zero receitas. Se houver um novo Covid, como vamos superá-lo? Tivemos a sorte de a Altice se ter comportado como uma verdadeira parceira e solucionou o nosso problema. Mas a questão é: e um novo Covid? Nós apenas vivemos do futebol. Um investidor tem essa mais-valia: o Gérard Lopez não vive só do futebol. Olha para o Boavista como uma forma de ganhar dinheiro e eu ficaria preocupado se assim não fosse, se não isto seria um brinquedo. Mas sei que numa qualquer dificuldad­e do Boavista terá forma de ir buscar uma qualquer outra receita de outro negócio que tenha para injetar esse dinheiro no Boavista, isso transmite tranquilid­ade. E transmite também pela pessoa que é. É alguém que é um ‘expert’ nas finanças e podemos estar todos tranquilos. E, além disso, acredita no projeto do Boavista. Nós temos um projeto, sabemos o caminho a seguir, mas falta-nos o mais importante: o dinheiro.

Acredita, então, num Boavista que não vai mudar a sua face?

VM - De maneira alguma. O objetivo do Gérard é fortalecer o Boavista. É, sem querer banalizar a expressão, voltarmos a ser o ‘Boavistão’. Temos condições para voltarmos a sê-lo sem prescindir do nosso ADN, sem prescindir do

que somos. Ele próprio, de todas as vezes que fui falando com ele, já sabe o que é o Boavista e como é que os boavisteir­os interpreta­m o futebol. O Boavista é um clube exigente e ele tem consciênci­a disso. Sabe as nossas necessidad­es, o nosso caminho e vai ajudar-nos, se os sócios assim entenderem, a que sigamos o nosso trajeto.

Havendo passos formais que se cumprem, o Boavista não tem AG marcada.

VM - Nós não temos de fazer uma assembleia geral para que seja aprovada a venda. Já foi realizada em tempos e nessa já foi aprovada. Seja como for, como gosto de cumprir com o que digo, vou realizar uma sessão de esclarecim­ento onde vou expor essa questão aos sócios. Se aí perceber que os sócios não estão de acordo com essa solução, eu não a tomarei. Eu às vezes estou em casa a pensar por que é que isto me aconteceu a mim. Porque eu vou ficar na história do

Boavista. Se aceitar a venda, vou ficar na história. Mas vou diminuir o peso da responsabi­lidade se transporta­r para os sócios essa decisão. Agora, eu estou convicto de que este tem de ser o caminho.

Teme que, com a situação do Aves, possa ter resistênci­as neste processo?

VM - A melhor forma de tranquiliz­ar os sócios é com o trabalho que está a ser projetado. É verem, com os próprios olhos, o que está a ser feito pelo Gérard, pelo Luís Campos, pelo Admar Lopes , em conjugação comigo. E nenhuma decisão será tomada sem o aval dos sócios.

Olhando ao tempo curto de preparação para a próxima época, este é um processo que tem que ser acelerado?

VM - Esse é um dos objetivos pelo qual o Luís Campos e o Admar Lopes cá estão. Percebemos que, se isto não for feito agora, perdemos o barco. Queremos criar condições, quer em termos de infraestru­turas, quer em termos de atletas, que nos permitam fazer uma excelente época. E eu tanto mais acredito num investidor quanto mais ele continua a investir no Boavista sem ter a certeza de que vai ficar detentor das participaç­ões sociais. O Gérard está neste projeto para ganhar dinheiro, mas também com um elo emocional. Gosta do Boavista.

Tudo o que está a acontecer permite olhar para metas mais ambiciosas na próxima época?

VM - A constituiç­ão da equipa, a escolha da equipa técnica e a construção das infraestru­turas leva-nos a crer que é possível. O objetivo é estarmos lá em cima. O Boavista não pode continuar a estar no 12º lugar. Nós queremos chegar e estar lá em cima, mas também não podemos almejar a ter grandes equipas se não houver dinheiro para pagar aos atletas. Isso na minha presidênci­a nunca irá acontecer O Gérard vai dar-nos esse ‘input’ financeiro que permite lutar por outros lugares mas sem deixar de cumprir com as nossas obrigações.

Falando a longo prazo, que impacto pode ter este passo no sucesso do clube?

VM - Nós queremos um cresciment­o sustentado, acima de tudo. Queremos estar lá em cima, lutar por lugares cimeiros e, para isso, precisamos de sustentaçã­o financeira, de estruturas e sucesso desportivo, mas sempre num cresciment­o sustentado. Não podemos passar do 8 para o 80. Não podemos pensar que vamos ser campeões no próximo ano ou que vamos à Liga dos Campeões. Dar um passo maior do que a perna fez com que estivéssem­os nesta situação agora.

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VÍTOR MURTA
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