“Tive muita sorte em relação a outras pessoas”
DIOGO PINTO ESTAVA NA TRAGÉDIA DO ALFA
NUNO SANTOS QUER DAR O SALTO PARA ALVALADE
GUARDA-REDES DOS SUB-23 CONFESSA RECEIO
“Sporting disse-me para descansar bem e limpar a cabeça”
Uma viagem de comboio como tantas outras rapidamente ganhou contornos de tragédia para as 212 pessoas que seguiam a bordo do Alfa Pendular que anteontem descarrilou em Soure, acidente ferroviário que provocou a morte de dois funcionários. Entre os passageiros da composição, que partiu de Santa Apolónia (Lisboa) com destino a Braga, estava Diogo Pinto, jovem guarda-redes do Sporting, de apenas 16 anos, que desde a semana passada integrou o arranque dos trabalhos dos sub-23 dos leões, na Academia de Alcochete. Cerca de 24 horas depois do sinistro, mas ainda com as imagens do que viveu bem frescas na memória, o guardião detalha os momentos que se seguiram ao descarrilamento. “Vinha na primeira carruagem, a que estava ‘colada’ à cabina do maquinista, e que descarrilou. Estava a dormir e acordei com um estrondo muito grande. Bati com a cabeça em algum lado e desmaiei por uns segundos. Só me lembro de voltar a ter consciência e de ver tudo partido, os bancos fora dos sítios e pessoas em muito mau estado”, conta Diogo Pinto a Record, assumindo que, a despeito de ter estado no sítio errado, à hora errada, acabou por não sofrer as consequências que outros experienciaram: “Ia na direção da marcha do comboio. Tive muita sorte em relação a outras pessoas. Tenho um olho bastante inchado e o corpo um pouco pisado, mas bastava estar no banco ao lado... Acordei e vi um senhor com o queixo deformado e a língua rasgada. Depois vi também pessoas com as pernas partidas”, relata o jovem, que de seguida recebeu assistência nos Hospitais da Universidade Coimbra e chegou ao Porto, de onde é natural, já durante a noite.
“NUNCA TINHA VIVIDO NADA SEMELHANTE. VOU EVITAR USAR O COMBOIO, PORQUE VEM-ME TUDO À CABEÇA”, ASSUME
Pronto-socorro
Apesar dos ferimentos ligeiros, o leão prontificou-se a ajudar quem precisava. “Eu e um outro senhor partimos uma janela e uma senhora, que é enfermeira, prestou auxílio. Tentámos ajudar quem conseguimos, mas algumas pessoas tinham ferimentos graves e tiveram de esperar pelos bombeiros”, sublinha, assumindo que vai sentir repercussões do acidente: “Há já dez anos que ando de comboio e nunca tinha vivido nada semelhante. Vou evitar usar esse meio de transporte, porque vem-me tudo à cabeça”, vinca o jogador.