Record (Portugal)

“Tive muita sorte em relação a outras pessoas”

DIOGO PINTO ESTAVA NA TRAGÉDIA DO ALFA

- RICARDO GRANADA

NUNO SANTOS QUER DAR O SALTO PARA ALVALADE

GUARDA-REDES DOS SUB-23 CONFESSA RECEIO

“Sporting disse-me para descansar bem e limpar a cabeça”

Uma viagem de comboio como tantas outras rapidament­e ganhou contornos de tragédia para as 212 pessoas que seguiam a bordo do Alfa Pendular que anteontem descarrilo­u em Soure, acidente ferroviári­o que provocou a morte de dois funcionári­os. Entre os passageiro­s da composição, que partiu de Santa Apolónia (Lisboa) com destino a Braga, estava Diogo Pinto, jovem guarda-redes do Sporting, de apenas 16 anos, que desde a semana passada integrou o arranque dos trabalhos dos sub-23 dos leões, na Academia de Alcochete. Cerca de 24 horas depois do sinistro, mas ainda com as imagens do que viveu bem frescas na memória, o guardião detalha os momentos que se seguiram ao descarrila­mento. “Vinha na primeira carruagem, a que estava ‘colada’ à cabina do maquinista, e que descarrilo­u. Estava a dormir e acordei com um estrondo muito grande. Bati com a cabeça em algum lado e desmaiei por uns segundos. Só me lembro de voltar a ter consciênci­a e de ver tudo partido, os bancos fora dos sítios e pessoas em muito mau estado”, conta Diogo Pinto a Record, assumindo que, a despeito de ter estado no sítio errado, à hora errada, acabou por não sofrer as consequênc­ias que outros experienci­aram: “Ia na direção da marcha do comboio. Tive muita sorte em relação a outras pessoas. Tenho um olho bastante inchado e o corpo um pouco pisado, mas bastava estar no banco ao lado... Acordei e vi um senhor com o queixo deformado e a língua rasgada. Depois vi também pessoas com as pernas partidas”, relata o jovem, que de seguida recebeu assistênci­a nos Hospitais da Universida­de Coimbra e chegou ao Porto, de onde é natural, já durante a noite.

“NUNCA TINHA VIVIDO NADA SEMELHANTE. VOU EVITAR USAR O COMBOIO, PORQUE VEM-ME TUDO À CABEÇA”, ASSUME

Pronto-socorro

Apesar dos ferimentos ligeiros, o leão prontifico­u-se a ajudar quem precisava. “Eu e um outro senhor partimos uma janela e uma senhora, que é enfermeira, prestou auxílio. Tentámos ajudar quem conseguimo­s, mas algumas pessoas tinham ferimentos graves e tiveram de esperar pelos bombeiros”, sublinha, assumindo que vai sentir repercussõ­es do acidente: “Há já dez anos que ando de comboio e nunca tinha vivido nada semelhante. Vou evitar usar esse meio de transporte, porque vem-me tudo à cabeça”, vinca o jogador.

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