Record (Portugal)

95 anos da primeira vitória de Portugal

Quando em 1925 o árbitro belga Theuerkauf­f apitou para o final da partida, fez-se história no futebol português. A ‘nossa Seleção’ acabara de vencer o seu primeiro jogo internacio­nal, após bater a Itália por 1-0

- CÉSAR RODRIGUES , INVESTIGAD­OR

Desde 1921, aquando do primeiro jogo internacio­nal disputado pela Seleção Nacional, que os portuguese­s aguardavam expectante­s pelo primeiro dia de glória futebolist­a entre nações. Por razões várias, incluindo a proximidad­e geográfica, a Espanha foi o oponente dos portuguese­s durante quatro jogos consecutiv­os. Tinha, assim, o ‘exclusivo’ de participaç­ão e também o exclusivo... das vitórias! Após quatro derrotas seguidas perante ‘nuestros hermanos’ e como que a reforçar o adágio popular de que ‘De Espanha nem bom vento, nem bom casamento’, a Seleção foi, sem medos, ‘pregar para outra nação e aprender novas línguas’, convidando os ‘nostri fratelli’ italianos para parceiros de jogo e de sortes, esperando pela primeira vez soltar a língua... para cantar vitória! Isto apesar do natural favoritism­o transalpin­o, que levara mesmo o jornal italiano ‘La Gazzeta dello Sport’ a antecipar uma derrota lusitana com um resultado que poderia chegar aos 4-1.

No dia glorioso de 18 de junho de 1925, no Estádio do Lumiar, em Lisboa, os portuguese­s foram às sortes pela quinta vez. O encontro, também pela novidade do mais longínquo oponente, causou grande azáfama por Lisboa e foi solicitado à Companhia Carris o reforço da linha de elétricos do Terreiro do Paço para o Campo Grande. Era chegado o momento de os jogadores portuguese­s serem ‘má companhia’ enquanto anfitriões, de manterem o seu jogo dentro dos carris, ‘acertarem o passo’ ao adversário e fazerem daquele campo um jogo grande.

Na primeira viagem que teria a vitória como destino, Portugal manteve o seu jogo dentro dos carris e eletrifico­u de êxtase os cerca de 16 mil espectador­es que tiveram o privilégio de assistir ao desempenho valoroso de 11 obreiros do primeiro arco do triunfo da Seleção Nacional! Um golo, na sequência de um canto marcado por Domingos das Neves, foi suficiente para o primeiro êxito e pretexto para ser cantado e escrito em terras lusitanas, durante dias, pela população e pela imprensa. Cerca de 350 anos antes, Luís de Camões marcava, com o seu Canto Primeiro, o início de uma obra-prima, entoando: ‘Porque o generoso ânimo e valente; Entre gentes tão poucas e medrosas; Não mostra quanto pode, e com razão; Que é fraqueza entre ovelhas ser leão’.

Pois os generosos e valentes portuguese­s fizeram-se fortes, bateram-se como leões e venceram por 1-0 com um golo do ‘leão’ Francisco Maia. A seleção portuguesa de futebol escrevia o primeiro canto de uma nova epopeia lusíada!

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