Finalmente a cantar de ‘gallo’
Após quatro derrotas seguidas com a Espanha, a Seleção Nacional recebeu e bateu a Itália
No ano de 1925, as probabilidades não jogavam a favor de Portugal. A Seleção Nacional iniciara-se nas lides do futebol em 1921 e apresentava um historial de desaires acumulados, com quatro jogos e outras tantas derrotas, ‘cortesia’ dos nossos vizinhos espanhóis. Pela primeira vez, o oponente era diferente: jogava-se contra a seleção italiana, que nos anos de 1930 se tornaria bicampeã mundial, e a experiência da Squadra Azzurra – já com meia centena de desafios internacionais e mais vitórias do que empates e do que derrotas – não augurava a alteração no fado triste das derrotas lusas. Porém, os portugueses são pessoas de fé e, ainda que ao final de tarde de uma quinta-feira, não deixaram de fazer a sua romaria até ao Estádio do Lumiar, à espera de serem contemplados, oito anos depois da manifestação de Fátima, com a aparição de uma equipa nacional virgem de vitórias e a crença num milagroso triunfo.
Apoiadas pela imprensa, as estruturas ligadas ao futebol pressionaram o Governo para que, no dia do jogo, fosse estipulada tolerância de ponto a partir das 12 horas e o encerramento do comércio a partir das 16 horas. E cerca de 16 mil pessoas compreenderam a importância do momento e não faltaram à chamada. A seleção portuguesa preparara-se como nunca, com desafios preliminares, mas, principalmente, com a realização do primeiro estágio efetuado por Portugal. Durante alguns dias, na Malveira, os jogadores foram ‘obrigados’ a permanecer juntos, o que, nas palavras do capitão Jorge Vieira, foi um sacrifício que realizaram de boa vontade, pois favorecia o companheirismo entre a equipa, fator sempre importante para se dar um pouco mais em benefício do grupo. No dia do jogo, também os espectadores se viram forçados a um pré-estágio entre adeptos, tal foi a multidão que por diversas formas e meios acorreu ao Lumiar, criando filas intermináveis na via pública a caminho do estádio, nas bilheteiras e na entrada no recinto. Ao encontro também não faltou o Presidente da República, Manuel Teixeira Gomes, bem como outros altos representantes de estruturas políticas e desportivas nacionais que viriam pouco depois Portugal cantar de ‘gallo’!