“CHEGÁMOS A IR TESTAR NA AUTOESTRADA”
CEO da Unilabs, que fez mais de 10 mil testes na retoma das provas em Portugal, assume esforço comum de várias entidades para que fosse possível terminar a época sem problemas, destacando o sacrifício dos jogadores
çComo é que se iniciou todo o processo que implicou a presença da Unilabs na retoma das competições?
LUÍS MENEZES – Nós fomos logo a empresa que arrancou com o rastreio populacional quando montámos o ‘drive-through’ no Queimódromo do Porto e começámos a operacionalizar isso em outros locais, porque era a solução para podermos fazer mais testes de uma forma rápida e ainda com mais segurança. Trabalhámos também em várias áreas onde já existia esse contacto com vários clubes e isso já acontece há muitos anos. Por isso fomos contactados pela Liga no âmbito desse processo, que na altura era ainda de intenções, mas que logo nos entusiasmou.
+ Um processo que foi difícil de implementar, em função das vicissitudes que uma pandemia implica na sociedade em geral?
LM – Claro que sim e que era na sua fase inicial bastante complexo, porque na fase final da Liga fizemos testes apenas a 24 horas dos jogos, mas no início era 72, 48 e 24 horas antes, o que nos colocava uma complexidade de fatores ao nível essencialmente logístico. Mas a Liga estava bem ciente disso, até porque estamos perante algo muito complexo em termos financeiros e também processuais. Quando a Liga abriu esse concurso, a grande preocupação era como operacionalizar tudo isto em termos logísticos.
+ Como é que vocês encaram essa tarefa?
LM – Como um dos maiores desafios da história da nossa empresa. Por um lado, era integrar um processo cuja finalidade estava em devolver em plena pandemia um pouco mais de normalidade aos portugueses. O futebol, como sabemos, faz parte dessa normalidade, mas por outro lado havia aqui também uma questão clínica muito relevante e tínhamos de estar também preparados para ela, pois estas pessoas teriam de viver num mundo de proximidade quando o resto da sociedade vivia momentos em que o distanciamento social e uso de máscaras era normal. Ou seja, era preciso dar um sinal inequívoco de confiança aos principais protagonistas, neste caso os próprios jogadores de futebol, de que a testagem era essencial do ponto de vista clínico para termos as coisas minimamente controladas. Resumindo, o desafio inicial foi mais logístico, pois tínhamos de conseguir cumprir aquilo que a DGS exigia para que fosse possível a retoma do futebol.
+ Mas inicialmente a crítica apontava para um excesso de zelo da DGS, que haveria um exagero nas normas estipuladas...
LM – Algo que foi injusto. A DGS teve um papel importante e decisivo para que tudo isto funcionasse, criando normas que permitissem que se apanhasse o maior número de casos que houve para... apanhar! Algo fundamental para depois poder controlar a fase de possível contágio. Os clubes e a Liga também tiveram um papel decisivo e extraordinário, porque se não houvesse a pedagogia que percebemos imediatamente que houve, o grande profissionalismo e responsabilidade demonstrados pelos próprios jogadores, teria havido em Portugal os casos que vamos conhecendo noutros países, como os que apareceram mais recentemente em Espanha, mas também na Alemanha e em
Itália. Isto do ponto de vista logístico foi o tal desafio. Mas do ponto de vista clínico, os jogadores e respetivos grupos de trabalho foram pacientes como outros. Havia a única grande dificuldade de ter resultados num espaço de tempo muito curto para cumprir escrupulosamente o que a DGS quis em cada momento, e isso foi sempre cumprido por todos os clubes que quiseram estar connosco, que foram 14, ou seja, apenas quatro – Portimonense, Tondela, Marítimo e Sp. Braga – trabalharam com outras empresas.
+ Não havia aqui um contrato de exclusividade, como inicialmente se chegou a dizer?
LM – Claro que não. O que aconteceu é que fizemos um contrato de protocolo com a Liga, isso sim, que depois o disponibilizou aos seus associados, mas não havia aqui uma obrigação contratual
“OS TESTES SÃO CAROS E NÃO DEVEM BAIXAR, MAS CONTINUAM A SER A GRANDE ARMA PARA COMBATER A PANDEMIA”
“NO CASO DO AVES ANTES DO JOGO COM O BENFICA, DISSEMOS QUE ESTÁVAMOS DISPONÍVEIS PARA ASSUMIR ESSES TESTES”
nesse sentido. Tudo foi feito de uma forma correta e houve clubes que não trabalharam connosco, e alguns dos que trabalharam já nos contactaram no sentido de mantermos a colaboração na próxima época.
A propósito, a nova época já está em pleno andamento?
LM – Claro que sim e com o novo desafio de haver muitos mais clubes, pois teremos também por agora os da 2ª Liga e alguns deles até já estão a trabalhar e também já foram testados.
Uma das preocupações dos clubes é naturalmente a financeira, pois gastam muito dinheiro, cerca de 3.500 euros por cada ronda, com os testes. Há forma de amenizar este custo?
LM – Espero que isso aconteça, mas neste momento não vejo meios para isso. Os testes são muito caros, é um facto, mas continuam em procura gigante, e quando países como os Estados Unidos, Brasil, Alemanha e França entram neste circuito de compras mundial, secam todos os outros à volta. O problema é que a testagem continua a ser a única grande arma no momento para conter esta pandemia, os testes vão ter de continuar a ser feitos e o tema do custo vai colocar-se na mesma. Devo dizer que o protocolo que estabelecemos com a Liga dá condições privilegiadas aos clubes que o querem utilizar, onde a própria Liga também fez um esforço para ajudar a que esse custo fosse menor para os clubes.
No meio de um processo novo e com tantos testes para fazer, houve certamente muitas histórias que ficam para contar deste período...
LM – Sim, muitas, e sem querer entrar na esfera de cada clube, houve situações até bastante engraçadas. Uma logo no primeiro dia, em que o carro que trazia os testes teve um furo, mas por acaso já tínhamos a situação controlada e estava outro a meio do caminho pronto para o substituir. Também uma outra situação em que houve um engano no hotel onde um determinado clube estava a estagiar e fomos para um a cerca de duas horas de distância de onde estava essa equipa. Outras vezes em que fomos testar diretamente as pessoas na autoestrada, indo ao encontro dos autocarros dos clubes. Enfim, muitas, mas o que interessa é que estamos muito orgulhosos de ter participado neste processo.
E como é que foi a história dos testes ao Aves antes do jogo com o Benfica?
LM – Houve ali algum impasse, naturalmente, pois a nossa equipa chegou lá e não tinha condições para fazer os testes, mas desde logo comunicámos à Liga que não seria pela Unilabs que os testes não seriam feitos... E foram mesmo, aí com a intervenção direta do presidente do clube. Dissemos imediatamente que estávamos disponíveis para assumir esses testes, uma vez que podia estar a ser colocado em causa algo que tínhamos ajudado a construir. Além disso, o clube poderia sofrer consequências graves e a própria Liga ficaria com uma má imagem. Foi um problema resolvido, como todos os outros que nos apareceram.