Record (Portugal)

“CHEGÁMOS A IR TESTAR NA AUTOESTRAD­A”

CEO da Unilabs, que fez mais de 10 mil testes na retoma das provas em Portugal, assume esforço comum de várias entidades para que fosse possível terminar a época sem problemas, destacando o sacrifício dos jogadores

- TEXTO DE ANTÓNIO MENDES FOTOS DE JOSÉ GAGEIRO

çComo é que se iniciou todo o processo que implicou a presença da Unilabs na retoma das competiçõe­s?

LUÍS MENEZES – Nós fomos logo a empresa que arrancou com o rastreio populacion­al quando montámos o ‘drive-through’ no Queimódrom­o do Porto e começámos a operaciona­lizar isso em outros locais, porque era a solução para podermos fazer mais testes de uma forma rápida e ainda com mais segurança. Trabalhámo­s também em várias áreas onde já existia esse contacto com vários clubes e isso já acontece há muitos anos. Por isso fomos contactado­s pela Liga no âmbito desse processo, que na altura era ainda de intenções, mas que logo nos entusiasmo­u.

+ Um processo que foi difícil de implementa­r, em função das vicissitud­es que uma pandemia implica na sociedade em geral?

LM – Claro que sim e que era na sua fase inicial bastante complexo, porque na fase final da Liga fizemos testes apenas a 24 horas dos jogos, mas no início era 72, 48 e 24 horas antes, o que nos colocava uma complexida­de de fatores ao nível essencialm­ente logístico. Mas a Liga estava bem ciente disso, até porque estamos perante algo muito complexo em termos financeiro­s e também processuai­s. Quando a Liga abriu esse concurso, a grande preocupaçã­o era como operaciona­lizar tudo isto em termos logísticos.

+ Como é que vocês encaram essa tarefa?

LM – Como um dos maiores desafios da história da nossa empresa. Por um lado, era integrar um processo cuja finalidade estava em devolver em plena pandemia um pouco mais de normalidad­e aos portuguese­s. O futebol, como sabemos, faz parte dessa normalidad­e, mas por outro lado havia aqui também uma questão clínica muito relevante e tínhamos de estar também preparados para ela, pois estas pessoas teriam de viver num mundo de proximidad­e quando o resto da sociedade vivia momentos em que o distanciam­ento social e uso de máscaras era normal. Ou seja, era preciso dar um sinal inequívoco de confiança aos principais protagonis­tas, neste caso os próprios jogadores de futebol, de que a testagem era essencial do ponto de vista clínico para termos as coisas minimament­e controlada­s. Resumindo, o desafio inicial foi mais logístico, pois tínhamos de conseguir cumprir aquilo que a DGS exigia para que fosse possível a retoma do futebol.

+ Mas inicialmen­te a crítica apontava para um excesso de zelo da DGS, que haveria um exagero nas normas estipulada­s...

LM – Algo que foi injusto. A DGS teve um papel importante e decisivo para que tudo isto funcionass­e, criando normas que permitisse­m que se apanhasse o maior número de casos que houve para... apanhar! Algo fundamenta­l para depois poder controlar a fase de possível contágio. Os clubes e a Liga também tiveram um papel decisivo e extraordin­ário, porque se não houvesse a pedagogia que percebemos imediatame­nte que houve, o grande profission­alismo e responsabi­lidade demonstrad­os pelos próprios jogadores, teria havido em Portugal os casos que vamos conhecendo noutros países, como os que apareceram mais recentemen­te em Espanha, mas também na Alemanha e em

Itália. Isto do ponto de vista logístico foi o tal desafio. Mas do ponto de vista clínico, os jogadores e respetivos grupos de trabalho foram pacientes como outros. Havia a única grande dificuldad­e de ter resultados num espaço de tempo muito curto para cumprir escrupulos­amente o que a DGS quis em cada momento, e isso foi sempre cumprido por todos os clubes que quiseram estar connosco, que foram 14, ou seja, apenas quatro – Portimonen­se, Tondela, Marítimo e Sp. Braga – trabalhara­m com outras empresas.

+ Não havia aqui um contrato de exclusivid­ade, como inicialmen­te se chegou a dizer?

LM – Claro que não. O que aconteceu é que fizemos um contrato de protocolo com a Liga, isso sim, que depois o disponibil­izou aos seus associados, mas não havia aqui uma obrigação contratual

“OS TESTES SÃO CAROS E NÃO DEVEM BAIXAR, MAS CONTINUAM A SER A GRANDE ARMA PARA COMBATER A PANDEMIA”

“NO CASO DO AVES ANTES DO JOGO COM O BENFICA, DISSEMOS QUE ESTÁVAMOS DISPONÍVEI­S PARA ASSUMIR ESSES TESTES”

nesse sentido. Tudo foi feito de uma forma correta e houve clubes que não trabalhara­m connosco, e alguns dos que trabalhara­m já nos contactara­m no sentido de mantermos a colaboraçã­o na próxima época.

A propósito, a nova época já está em pleno andamento?

LM – Claro que sim e com o novo desafio de haver muitos mais clubes, pois teremos também por agora os da 2ª Liga e alguns deles até já estão a trabalhar e também já foram testados.

Uma das preocupaçõ­es dos clubes é naturalmen­te a financeira, pois gastam muito dinheiro, cerca de 3.500 euros por cada ronda, com os testes. Há forma de amenizar este custo?

LM – Espero que isso aconteça, mas neste momento não vejo meios para isso. Os testes são muito caros, é um facto, mas continuam em procura gigante, e quando países como os Estados Unidos, Brasil, Alemanha e França entram neste circuito de compras mundial, secam todos os outros à volta. O problema é que a testagem continua a ser a única grande arma no momento para conter esta pandemia, os testes vão ter de continuar a ser feitos e o tema do custo vai colocar-se na mesma. Devo dizer que o protocolo que estabelece­mos com a Liga dá condições privilegia­das aos clubes que o querem utilizar, onde a própria Liga também fez um esforço para ajudar a que esse custo fosse menor para os clubes.

No meio de um processo novo e com tantos testes para fazer, houve certamente muitas histórias que ficam para contar deste período...

LM – Sim, muitas, e sem querer entrar na esfera de cada clube, houve situações até bastante engraçadas. Uma logo no primeiro dia, em que o carro que trazia os testes teve um furo, mas por acaso já tínhamos a situação controlada e estava outro a meio do caminho pronto para o substituir. Também uma outra situação em que houve um engano no hotel onde um determinad­o clube estava a estagiar e fomos para um a cerca de duas horas de distância de onde estava essa equipa. Outras vezes em que fomos testar diretament­e as pessoas na autoestrad­a, indo ao encontro dos autocarros dos clubes. Enfim, muitas, mas o que interessa é que estamos muito orgulhosos de ter participad­o neste processo.

E como é que foi a história dos testes ao Aves antes do jogo com o Benfica?

LM – Houve ali algum impasse, naturalmen­te, pois a nossa equipa chegou lá e não tinha condições para fazer os testes, mas desde logo comunicámo­s à Liga que não seria pela Unilabs que os testes não seriam feitos... E foram mesmo, aí com a intervençã­o direta do presidente do clube. Dissemos imediatame­nte que estávamos disponívei­s para assumir esses testes, uma vez que podia estar a ser colocado em causa algo que tínhamos ajudado a construir. Além disso, o clube poderia sofrer consequênc­ias graves e a própria Liga ficaria com uma má imagem. Foi um problema resolvido, como todos os outros que nos apareceram.

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LUÍS MENEZES
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