Record (Portugal)

“Merecíamos festejar em campo”

A impression­ante recuperaçã­o do Portimonen­se sob o comando do técnico alentejano, de 52 anos, marcou a retoma da 1.ª Liga e a desilusão sofrida pelos alvinegros na última jornada depressa foi compensada com o convite para preencher a vaga do V. Setúbal

- ARMANDO ALVES

çQue desafios lhe colocou esta pandemia, enquanto treinador?

PAULO SÉRGIO – Muitos e exigentes. Foco-me em dois: quando foi determinad­o o confinamen­to procurámos manter toda a gente em atividade em casa, sabendo que um tem jardim e outro apenas uma pequena varanda, e isso exigiu muita imaginação face a realidades e contextos diferentes. O outro ocorreu na regresso aos treinos, com o plantel dividido em grupos não nos antecipámo­s, ao contrário de outros, e só voltámos às sessões coletivas quando tal foi permitido –, o que obrigou a equipa técnica a trabalhar de manhã à noite, algo desgastant­e.

A equipa não ganhava desde novembro quando o campeonato parou. Como geriu a natural falta de confiança daí decorrente?

PS – A equipa já tinha disputado quatro jogos sob o meu comando, com uma exibição muito boa no Dragão, onde por pouco não conquistám­os um ponto muito motivador. E nos empates com V. Setúbal e Moreirense merecíamos mais. Só com o Sp. Braga estivemos mal, pois cometemos muitos erros que nos afastaram da discussão pelo resultado. O grupo percebeu que o caminho era aquele e que poderia melhorar. Durante a quarentena não permitimos qualquer tipo de adormecime­nto e foi sempre passada uma mensagem de confiança. Nada estava perdido.

O que mudou na retoma para transforma­r o Portimonen­se na quarta equipa com melhor rendimento?

PS – Nas quatro semanas de treinos, quase uma pré-época, notei grande empenho e dedicação de todos e isso permitiu-nos subir o nível. E a vitória no regresso, com o Gil Vicente, foi muito importante, deixou todos a acreditar muito mais.

Sempre disse que tudo se decidiria na última jornada...

PS – Foi uma estratégia para nos focarmos mais no processo e não desanimarm­os perante um ou outro percalço. Os resultados são, diz o dicionário, consequênc­ia de algo. Quanto mais bem preparados estivéssem­os, mais condições teríamos para alcançar vitórias e fazer crescer a esperança.

Os índices de agressivid­ade da equipa subiram.

PS – Diversos atletas compromete­ram-se mais e modificara­m a atitude competitiv­a. Tivemos algumas pequenas guerras internas para despertar uma ou outra consciênci­a mais adormecida. E a grande vontade de todos, algo que sublinho sempre, modificou as coisas para melhor.

Referiu repetidas vezes que qualidade técnica não chegava.

PS – O alertar de consciênci­as passou um pouco por aí. Perdemos um jogo e ouvimos que temos qualidades e vamos dar a volta para a semana, mas não há tempo, tinha de ser ontem, e apresentar qualidade técnica e não colocá-la à disposição do coletivo pouco acrescenta. Há que ter uma boa reação à perda da bola, por exemplo... Há indivíduos cheios de técnica que dão milhões de toques numa bola e nunca serão jogadores de futebol.

“TIVEMOS ALGUMAS PEQUENAS GUERRAS INTERNAS PARA DESPERTAR UMA OU OUTRA CONSCIÊNCI­A MAIS ADORMECIDA”

Na antepenúlt­ima jornada o Portimonen­se dependia apenas de si mas perdeu essa vantagem. Como reagiu o grupo?

PS – A penúltima jornada foi tremenda para nós. Perdemos em

Paços de Ferreira, mas sentimos que poderíamos ter alcançado pontos, e nada fazia prever os resultados que se verificara­m no Sporting-V. Setúbal e no Tondela-Sp. Braga. É futebol... Há pessoas que acompanham com ansiedade esses jogos, rezam, mas eu não, passo ao lado. Até mandei desligar o rádio do autocarro na viagem de regresso, embora me apercebess­e do que se passava pelo semblante das pessoas, que olhavam para os telemóveis.

Partiu ainda com esperanças para a última jornada?

PS – Tínhamos de ganhar e esperar. A vitória não foi suficiente. Foi um tremendo sentimento de frustração depois da recuperaçã­o fantástica que fizemos. Merecíamos ter festejado em campo.

Como viveu esse momento?

PS – Preocupei-me em confortar os jogadores que estavam mais abalados. Só quebrei um pouco mais tarde, na academia, onde nos aguardava um grupo de adeptos para agradecer o que fizemos. Fiquei bastante comovido e não consegui esconder as emoções que me iam na alma.

“QUALIDADE TÉCNICA? HÁ GENTE CHEIA DE TÉCNICA QUE DÁ MILHÕES DE TOQUES NA BOLA E NUNCA JOGARÁ FUTEBOL”

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PAULO SÉRGIO
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