“GOSTAVA QUE RUI COSTA TIVESSE PAPEL MAIS ATIVO”
Fala em desorientação no Benfica, mas que experiência tem para mudar o rumo? Entrou com Manuel Vilarinho em 2000 e saiu ao fim de um ano...
NL – Tenho experiência. Fiz parte da direção de Manuel Vilarinho numa altura crítica da vida do Benfica. Foi uma passagem curta, mas muito intensa. Praticamente, tive dois empregos nesse período. Saía da minha empresa às 17h00/18h00 e ia para o meu gabinete, no estádio antigo, debaixo das bancadas, e ficava lá até às 2/3 da manhã a trabalhar com os meus colegas. Porque era preciso salvar o Benfica, devolvê-lo aos sócios e recuperar a sua dignidade. Fui um dos responsáveis pelo processo de aumento de capital da SAD, que criou as condições financeiras para que o Benfica depois crescesse e se modernizasse. E isso deu-me um conhecimento do futebol numa altura, garanto, muito mais complicada do que hoje em dia. Por outro lado, enquanto patrocinador, desenvolvi bons contactos com a UEFA e tenho bom conhecimento do futebol internacional, da envolvência dos patrocinadores e do modo como as competições funcionam. Finalmente, tenho 17 anos de gestão em vários países. No meu último cargo, fui responsável, desenvolvi operações em 160 países. Posso assegurar que encontrei situações muito mais complicadas e pessoas muito mais difíceis do que poderei encontrar no futebol português. Sei ao que vou e estou preparado para isso.
Tem dito que o Benfica perdeu dois campeonatos em três para um clube intervencionado pela UEFA. Quantos campeonatos se propõem ganhar num mandato de quatro anos?
NL – O que prometo aos benfiquistas é ambição, para ganhar campeonatos em Portugal, mas, principalmente, ter ambição europeia. A ambição começa por colocar o sucesso desportivo no centro da vida do clube. É preciso criar pilares, como a estabilidade, a organização e a gestão, com um modelo profissional assente num diretor desportivo, que tenha grande identificação com aquilo que é o Benfica. Que seja uma pessoa de convicções fortes, com experiência de futebol português e internacional e que faça a ligação entre todas as áreas: formação, prospeção, plantel profissional e departamento médico. Os nossos negócios são as vitórias e os nossos dividendos têm de ser os títulos. Quero um Benfica que lute para além da fase de grupos da Liga dos Campeões. A fase de grupos não me chega. O Benfica tem de voltar ao seu lugar histórico, que são os grandes palcos europeus e passar regularmente a fase de grupos da Liga dos Campeões.
Já tem alguém pensado para o cargo de diretor desportivo?
NL – Tenho o perfil para o diretor desportivo. A escolha do diretor desportivo é um assunto sério, não se anuncia, trata-se quando se chega ao Benfica.
Que perfil é esse?
NL – Uma pessoa que conheça o Benfica, que tenha a identidade, os valores e a ambição do clube, credível, competente, com experiência de futebol e que seja um interlocutor do presidente e do treinador na gestão do futebol.
“É INADMISSÍVEL SOFRER TRÊS DERROTAS COM O PRINCIPAL RIVAL NUMA ÉPOCA. E DEVERIA MERECER UMA AUTOANÁLISE”
Na apresentação da sua candidatura, referiu que iria avaliar Domingos Soares de Oliveira e Rui Costa. Esse diretor desportivo poderá ser Rui Costa?
NL – Rui Costa é uma das grandes referências do Benfica, mas tem tido um papel discreto na sua passagem pela SAD. Gostava que tivesse um papel mais ativo dentro da vida do Benfica. Relativamente ao futebol, há três modelos de gestão: um presidencialista, que é o atual, em que o presidente decide sozinho e em que a estratégia varia ao sabor dos humores e dos calendários eleitorais; depois, há o modelo do ‘manager’, à inglesa, em que o melhor exemplo foi Alex Ferguson no Manchester United, mas que de alguma forma está a cair em desuso, porque o futebol hoje em dia é cada vez mais complexo e difícil de gerir; e depois há o que preconizo, em que há um diretor desportivo forte, que reporta ao presidente, como responsável máximo do futebol, e que faz a ligação entre todas as áreas e que garanta a identidade do clube.
O diretor desportivo será o patrão do futebol?
NL – O diretor desportivo será o responsável pelo futebol.
Em final de época, o Benfica perdeu a oportunidade de conquistar a Taça de Portugal. Em três jogos, três derrotas com o FC Porto. A supremacia do rival ficou bem patente?
NL – O que ficou patente foi a forma incompetente como esta direção preparou a temporada. É inadmissível sofrer três derrotas com o principal rival numa época e deveria merecer uma autoanálise que este presidente já revelou ser incapaz de fazer. Quem decidir os destinos do Benfica a partir de outubro deve ter esse combate com o FC Porto como um desígnio fundamental, com muita garra e competência.
O plantel precisa de uma revolução? Que posições reforçaria se tivesse de decidir?
NL – O papel do presidente é definir um rumo e uma política desportiva, concretizada por ele em conjunto com o diretor desportivo e em articulação com o treinador. O presidente deve ser um exemplo, exigir de si próprio o mesmo que exige à estrutura, assumir responsabilidades no momentos bons e nos momentos maus. E saber aprender com os próprios erros. Se assim for, não haverá necessidade de tantas revoluções no plantel.