Um sócio, um voto?
Nas conclusões que o movimento ‘Sporting com rumo’ apresentou das suas jornadas de reflexão, figura a recomendação no sentido de reponderar os pressupostos da capacidade eleitoral ativa e que “deve começar a estudar-se uma alteração que caminhe no sentido de um sócio, um voto”.
Esta é uma discussão antiga, já muito repassada, mas que ressurge periodicamente, infelizmente de forma não inocente.
Os estatutos atuais do Sporting atribuem ao sócio dois votos, ao fim de um ano de permanência, a que acresce um voto por cada cinco anos adicionais. Lembre-se que, na versão anterior dos estatutos, cada decénio de sócio dava mais três votos, ou seja, o impacto da antiguidade já foi atenuado.
Existem, a meu ver, dois fundamentos para esta opção.
O primeiro é o da defesa, contragolpes de poder. Imagine-se alguém que financia inscrições de sócios em massa, para passado um ano, ganhar o ato eleitoral a que concorra, comprando, dessa forma, e por assim dizer, o lugar.
O segundo é o da ponderação. Os sócios mais antigos têm uma visão clubista mais sedimentada, mais experiente, que tempera as paixões e os exageros próprios do calor das discussões, que envolvem sempre estas instituições em geral, e o futebol em especial.
Dir-se-á que essa visão colide com o princípio democrático da igualdade. Só que os clubes não são instituições políticas e têm a obrigação de preservar e defender os seus valores e princípios, a sua integridade e a sua identidade e esta foi a maneira encontrada de o garantir.
Não havendo soluções ideais, confiar na clarividência e bom senso de quem tem uma ligação mais duradoura com o clube, erigi-los como o fiel da balança,
DE QUEM TEM LIGAÇÃO MAIS DURADOURA COM O CLUBE PARECE-ME A MELHOR OPÇÃO
em caso de necessidade, parece-me a melhor solução.
Quando Bruno de Carvalho venceu as eleições, ganhou em todas as mesas, mas foram os sócios mais antigos os decisivos no seu afastamento. Tirem-se daqui, então, as necessárias ilações.
Quando alguém vem invocar o princípio de um sócio/um voto, e até dando o Porto como exemplo, desconfio sempre. Primeiro, porque o Porto está nos antípodas dos mínimos democráticos, e depois dá sempre a sensação de que se busca um atalho para o poder.
O Sporting padece, infelizmente, de muitos males, mas não me parece que esta questão do número de votos seja sequer prioritária.