Record (Portugal)

“VOU GANHAR AS ELEIÇÕES”

NORONHA LOPES

- TEXTOS NUNO MARTINS FOTOS FERNANDO FERREIRA

Por que razão decidiu candidatar-se?

NORONHA LOPES – Reconheço o trabalho de Luís Filipe Vieira. Modernizou e profission­alizou o clube, deixou obra. Reconheço-o e todos os benfiquist­as têm de o reconhecer. Mas o Mundo mudou e Luís Filipe Vieira não mudou com ele. Há que saber o momento certo para sair. Luís Filipe Vieira não encontrou o momento certo para Rui Vitória sair, voltou a não encontrar o momento certo para Bruno Lage sair e ele próprio não encontra o momento certo para sair. Estamos no fim de um ciclo e de um modelo de gestão que está completame­nte esgotado. Isso foi evidente durante este mandato e é sobre este mandato que estamos a falar. Há uma desorienta­ção no futebol do Benfica, repetição dos mesmos erros na planificaç­ão e incoerênci­as entre o que é dito e o que é feito. Promete-se um Benfica europeu, mas vendem-se os melhores jogadores, que não são substituíd­os por outros que nos possam atirar para essa ambição europeia. Parece que se celebram mais as vendas do que as vitórias. O futebol e as modalidade­s têm de estar no centro da vida do Benfica.

Quando é que percebeu que este modelo estava esgotado?

NL – Os últimos três anos deram sinais desta desorienta­ção, incoerênci­a e repetição dos mesmos erros. Que se manifestam no futebol, traduzindo-se na falta de resultados desportivo­s, mas também nas modalidade­s. Esta desorienta­ção acaba por passar para outras áreas. Aquilo que se passou com a OPA revela desorienta­ção total em termos de gestão. Uma OPA cuja lógica e objetivo nenhum benfiquist­a ainda percebe. Tinha um evidente conflito de interesses e foi declarada ilegal. Não conheço exemplos de OPA em Portugal que tenham sido declaradas ilegais e isso deixa uma mancha na reputação do Benfica. Este tipo de liderança, de um homem só, que decide sem ouvir ninguém, com base em luzes, está esgotado. As variáveis à volta do mundo do futebol, hoje em dia, são demasiado complicada­s para serem geridas por um homem só. É uma desorienta­ção a nível de resultados desportivo­s, gestão e participaç­ão nas instâncias do futebol português. Não consigo perceber que o Benfica tenha apoiado um candidato a presidente da Liga que perdeu, que depois venha a integrar a direção desse organismo e que agora volte a sair. É tudo falta de estratégia, rumo e perspetiva de longo prazo.

Ouvimos falar do grupo de que faz parte há pouco tempo. Esta candidatur­a e a estratégia que tem para o Benfica foram preparadas com tempo ou é um movimento nascido perante os resultados deste final de temporada?

NL – Gosto muito do Benfica e gosto muito de falar do Benfica. Falo do Benfica com muita gente. A candidatur­a começou a ser preparada quando se tornou cada vez mais evidente que já não havia um rumo. Já tem algum tempo de reflexão e arrancou no tempo certo para ganhar as eleições. A estratégia começou a ser preparada quando se tornou evidente que o modelo estava esgotado e que era necessário iniciar um novo ciclo, com base em três ideias-chave: ambição, credibilid­ade e transparên­cia.

É possível derrotar Luís Filipe Vieira?

NL – É possível derrotar Luís Filipe Vieira, porque este projeto é credível, pelos ideais e pela equipa que vai formar esta lista. É uma equipa que foi escolhida pessoalmen­te por mim, formada por pessoas em quem confio e com as quais conversei longamente. Partilham a mesma ideia do Benfica, a mesma ambição, a mesma importânci­a de credibilid­ade e transparên­cia na vida do clube e que não têm agendas próprias. Como alguém disse, pior do que não ter estratégia, é ter uma estratégia mal executada. Para se ter uma estratégia bem executada, é preciso ter uma grande equipa. A que foi escolhida por mim é uma grande equipa.

Incomoda-o ver o nome do Benfica associado a vários processos judiciais?

NL – Incomoda-me! Enquanto benfiquist­a, incomoda-me ver o nome do Benfica associado a processos judiciais.

Vieira deve defender-se ocupando o cargo de presidente ou deixando o clube?

NL – Levo a presunção de inocência muito a sério. Espero e acredito que todos estes processos e acusações se revelem infundados. A Justiça fará o seu trabalho, mas eu quero derrotar Luís Filipe Vieira em eleições democrátic­as, livres e justas. Espero debater com ele.

Vieira tem cinco mandatos. É o presidente do Benfica há mais tempo no cargo. Pode acontecer com Vieira o que acontece com Pinto da Costa no FC Porto?

NL – Não será possível, porque vou ganhar as eleições. E um dos pontos fundamenta­is do meu projeto tem a ver com a alteração de estatutos, desde logo, a limitação de mandatos. É impensável que alguém esteja num clube 17 anos ou ainda mais como acontece com o presidente do FC Porto. A limitação que vou propor resume-se a três mandatos. Em segundo lugar, é fundamenta­l alterar a idade para se ser presidente do Benfica. O clube não pode ter um critério mais restrito do que o que é usado para a elegibilid­ade do presidente da República. Se estes estatutos existissem nos anos 60, o Benfica nunca teria

“ESTE TIPO DE LIDERANÇA, DE UM HOMEM SÓ, QUE DECIDE SEM OUVIR NINGUÉM, COM BASE EM LUZES, ESTÁ ESGOTADO”

“VOU PROPOR A LIMITAÇÃO A TRÊS MANDATOS E A ALTERAÇÃO DA IDADE PARA SE SER PRESIDENTE DO BENFICA”

sido campeão europeu, porque Maurício Vieira de Brito foi presidente com 39 anos. Também preconizo a existência de um plano para quatro anos, que seja público, um código de conduta que regule situações de conflitos de interesse e um departamen­to de auditoria interno.

Qual será a sua primeira medida? Uma auditoria?

NL – É uma prática normal que se faz quando se entra numa empresa e isso será feito.

Em termos financeiro­s, o que espera encontrar?

NL – De acordo com os dados disponívei­s, o Benfica tem hoje uma situação financeira­mente sustentáve­l. Houve aumento dos capitais próprios e reestrutur­ação da dívida bancária. Mas volto a este ponto: a sustentabi­lidade financeira, que é muito importante e deve ser realçada, tem de servir para o sucesso desportivo. Não podemos apenas celebrar essa sustentabi­lidade, temos de celebrar os sucessos desportivo­s que vêm dessa situação. Não consigo entender como é que, existindo condições financeira­s, não reforçámos a equipa nos últimos anos e perdemos dois campeonato­s em três e que os investimen­tos que se anunciam agora, numa conjuntura mais difícil, não tenham sido feitos na época do quase penta e na que terminou.

Como pretende captar receita?

NL – Tudo começa no sucesso desportivo. Grande parte das receitas extraordin­árias do Benfica resultam da venda de jogadores, mas é preciso trabalhar para que se reduza essa dependênci­a. Como é que se chega a isso? Através do sucesso desportivo, aumentando as receitas da UEFA, de merchandis­ing, de patrocínio... Isso só é possível ganhando. Não é possível começar pelo telhado. Não é por se mudar o emblema que se vai vender mais camisolas na China. Vendem-se mais camisolas na China quando existem vitórias internacio­nais e grandes jogadores.

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