As quatro estações de Conceição
Admito que não sou de elogio fácil e jamais um bajulador. Mas sei quando devo reconhecer os méritos, a dedicação e o sofrimento de quem tudo fez para um Porto Campeão.
Sérgio Conceição é semelhante à obra-prima de Vivaldi. As 4 estações acercam-se e consomem-no durante aqueles 90 minutos de jogo.
Os seus jogos começam invariavelmente por um verdadeiro Inverno. Chove pressão na área adversária, velocidade com grandes rabanadas de vento, culminando com queda de granizo a cada bola parada.
Esta atitude, não costuma trazer a Primavera, passando assim de imediato para um calor tórrido de Verão, com o golo a aparecer.
O Outono é a estação que se segue, onde a acalmia impera e a noite cai mais cedo. O frio e os calafrios fazem-se notar, pelo descanso natural de uma intensidade monstra exigida nos minutos precedentes.
A Primavera chega por fim, onde normalmente o Porto sai de cabeça erguida, colhendo as flores do seu cultivo.
Conceição vive cada uma destas estações em campo. Gela, sua, cora e transpira, num percurso com enormes diferenças de temperatura.
Conceição não forja a sua identidade. Não usa máscaras nem sombras, não rodeia os seus falhanços e assume todas as derrotas, apesar de poucas como suas.
Em boa hora Pinto da Costa o foi buscar as margens do Rio Loire. Conceição, não poderia ficar em Nantes, à margem de um Porto que se afogava sem boia. Enquanto uns se convenciam da sua hegemonia, Conceição provocava-lhes uma enorme azia.
Conceição fez de tudo nas pretéritas Antas. Valorizou os emprestados, os Bs passaram a As, transformou os desconhecidos em estrelas, mas não merecia os desertores do Dragão, que a custo zero saíram.
Nos últimos três anos, ganhou dois campeonatos, uma Taça de Portugal e na Europa caiu nos oitavos na Champions em 2018 e nos quartos em 2019, perante o Campeão Europeu Liverpool.
O Porto continua a ser um Europeísta convicto e não um Eurocético da segunda circular.
Devo a Conceição este elogio, para que cada uma destas linhas aclarem a memória por vezes curta de quem as lê.
Coimbra fê-lo finalmente chorar. Chegar a casa e vencer, na Cidade que é sua por direito, onde ergue um estádio com o seu nome, é uma das maiores homenagens que pode deixar aos seus. Olhando para céu ou em redor, naquela noite de Taça, todos o abraçaram com um amor profundo.