RUI CORDEIR
çO Santa Clara bateu esta temporada diversos recordes. Melhor pontuação de sempre na Liga, vai estar pela primeira vez três anos consecutivos no escalão principal, assegurou a permanência relativamente cedo… Este sucesso é resultado de quê?
RUI CORDEIRO – É fruto de um trabalho de cinco anos, da consolidação financeira, do rigor com que abordamos todas as épocas e, acima de tudo, é fruto da seriedade e da credibilidade que temos vindo a dar ao projeto. Eu resumo tudo isto numa palavra: família. É o que nós somos. A nossa fórmula do sucesso está na forma como nós nos damos uns com os outros. Desde o presidente ao administrativo, somos uma família e procuramos sempre olhar todas as épocas com a mesma atitude e a mesma humildade. E arrisco-me a dizer que o grande desafio do Santa Clara, no aspeto competitivo, é não se aburguesar e não criar tiques de vaidade. Manter sempre uma atitude de humildade, saber receber bem e continuarmos a ser iguais a nós próprios. Se conseguirmos fazer isso, estaremos sempre mais perto de obter bons resultados.
Numa época particularmente atípica, quais foram as principais dificuldades?
RC – Houve dois momentos marcantes. Do ponto de vista desportivo, houve uma altura em que tivemos quatro ou cinco derrotas consecutivas. Inclusive, perdemos com o Casa Pia, em jogo da Taça da Liga. Foi uma altura difícil para nós, para a estrutura, para o balneário, mas mantivemos sempre a calma, a tranquilidade, a confiança no treinador e na equipa técnica, porque sabíamos e sabemos onde queremos ir. E quando nós temos um rumo definido e temos a bússola devidamente orientada, sabemos que os maus resultados são pequenas tempestades numa travessia, que se quer tranquila,
“O GRANDE DESAFIO DO SANTA CLARA É NÃO SE ABURGUESAR E NÃO CRIAR TIQUES DE VAIDADE. É MANTER SEMPRE A HUMILDADE”
mas que tem essas vicissitudes. Os resultados estão aí à vista, soubemos passar os maus momentos. Costumo dizer que só se consegue desfrutar dos bons momentos se tivermos capacidade de ultrapassar os maus. Foi isso que fizemos.
E o segundo momento...
RC – O segundo momento foi claramente marcante, não apenas para o Santa Clara, mas para o futebol português e para toda a gente. Foi a questão da pandemia da Covid-19, que obrigou à paragem do campeonato. Estávamos muito receosos porque era fundamental que o campeonato se reiniciasse, para que fosse retomado o pagamento dos direitos televisivos. É que existe uma dependência geral dos clubes em relação aos direitos televisivos e tínhamos algum receio de que o campeonato não fosse retomado. Tanto é que trabalhámos ativamente para que isso acontecesse. Estarmos aqui hoje, consigo, nesta entrevista, é sinal de que as coisas correram bem e que nós tomámos as decisões acertadas. De certeza absoluta que estes foram os dois momentos mais marcantes da temporada 2019/20, aqueles em que tivemos maiores dificuldades.
Com o final da época, chega ao fim um ciclo de dois anos de João Henriques nos Açores. Esta era uma decisão que estava tomada há já algum tempo?
RC – Costumo referir a Lei de Lavoisier, na natureza nada se perde, tudo se cria, tudo se transforma, e a vida é feita de ciclos. É como as estações do ano. Quando terminou o campeonato, tivemos uma conversa com o míster João Henrique. Foi uma conversa a três, com o Diogo Boa-Alma (diretor desportivo do Santa Clara) e analisámos o que era melhor para ambas as partes. Mas o que fica é a marca indelével do melhor Santa Clara de sempre, da melhor imagem do futebol açoriano de sempre. Esta equipa que ficará para a história. Porém, a história escreve-se todos os dias e, se me perguntar qual é, para mim, a normalidade no futebol português, eu respondo: É o Santa Clara todos os anos na 1ª Liga. Não podemos é olhar para este feito histórico como um ato isolado. Não, temos
“OU CONTINUAMOS NO COMBOIO DA LIGA NOS PRÓXIMOS ANOS OU O FUTEBOL AÇORIANO VAI VOLTAR À IDADE DA PEDRA”
de olhar para isto como um projeto de continuidade, para que a normalidade no futebol português, nos próximos anos, seja o Santa Clara dos Açores na 1ª Liga.