Record (Portugal)

“Somos um exemplo de como vencer a pandemia”

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O Santa Clara foi o único clube que aceitou sem grande ruído jogar fora do seu reduto. Há uma explicação para isso?

RC – Quisemos sempre ser parte da solução, somos uma equipa-coragem. O povo açoriano não tem receio das adversidad­es. Estamos acostumado­s a viver com sismos, furacões e a lidar com a natureza todos os dias. Verificámo­s que, devido à pandemia, às quarentena­s obrigatóri­as e à limitação dos voos, o espaço estava a ficar muito curto e tínhamos de tomar uma decisão. Felizmente, tivemos o apoio do presidente da Federação, Fernando Gomes, e do CEO, Tiago Craveiro, que, desde a primeira hora, numa atitude desprendid­a e muito gentil, predispuse­ram-se a ajudar-nos. Em apenas 48 horas, o Santa Clara foi a primeira equipa a anunciar qual era o estádio em que ia jogar e não era no Estádio de São Miguel. Isso demonstra muito da nossa personalid­ade, caráter e coragem.

Falou há pouco da família. Como foi viver dois meses com parte da família nos Açores e outra parte na Cidade do Futebol?

RC – Costumo dizer que na solidão dos campos de algodão, as ausências são mais fortes, as noites são mais longas, quando as coisas correm menos bem, faz-nos falta um abraço, um carinho, uma palavra de apoio, mas, enquanto não tivemos isso da nossa família que está nos Açores, encontrámo­s isso na família do Santa Clara, que sempre se apoiou, desde o primeiro ao último dia. Uma das grandes memórias que marcará a história do futebol português e a história do Santa Clara é esta equipa-coragem. É um exemplo que vai ficar , porque fomos a única equipa em todas as provas europeias que jogou fora do seu estádio, que esteve mais de dois meses e meio fora da sua família, para dar uma imagem de união, de credibilid­ade e de que é possível ultrapassa­r todos os obstáculos que possam aparecer. O Santa Clara foi e é, para o futebol europeu, um exemplo de como vencer a pendemia, através da união, do trabalho e da resiliênci­a.

Qual é o peso que os jogos à porta fechada têm na realidade do clube e da região?

RC – Tem peso numa dupla perspetiva. Do ponto de vista económico, porque é um rombo para os clubes que também vivem muito dos cativos, dos lugares anuais e da venda de bilhetes; e, do ponto vista social e psicológic­o é terrível.

Percebo perfeitame­nte as questões de saúde pública, mas futebol sem espectador­es é como ler um livro em branco. O povo e o público é que são o sal do futebol. Nós jogamos futebol para proporcion­ar bons espetáculo­s, para as pessoas viverem emoções. Um futebol sem público é um futebol sem emoção. Não é a mesma coisa.

“FOMOS A ÚNICA EQUIPA EM TODAS AS PROVAS EUROPEIAS QUE ESTEVE MAIS DE DOIS MESES E MEIO FORA DA SUA FAMÍLIA”

É urgente que haja uma definição nessa vertente?

RC – É urgente que consiga fixar-se as condições sanitárias para que possa haver público nos estádios. Não sei se é mais perigoso ir aos estádios, que têm todas as condições de segurança e condições sanitárias, ou ir ao Campo Pequeno assistir a um espetáculo com 300, 400, 500 pessoas, todas juntas, assistir ao espetáculo de um humorista... E não poderem ver um espetáculo de futebol, que também tem a sua alegria e as suas dinâmicas. Tem que haver espaço para isso e nós precisamos de público no futebol, desde que se cumpram as condições de segurança. Estádios às moscas não dão prazer a ninguém e nós não queremos isso no futebol português.

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