Record (Portugal)

“QUE A NOVA ÉPOCA SEJA MAIS TRANQUILA”

DAVID BELENGUER

- ANDRÉ GONÇALVES

O espanhol assumiu a presidênci­a da SAD em novembro de 2018 e já sabe bem o que é sofrer para permanecer na Liga. Aborda as contas saudáveis e o projeto, em entrevista concedida dias antes da saída de Natxo González

Como viveu esta fase final do campeonato, onde o Tondela só selou a permanênci­a no fim?

DAVID BELENGUER – O final desta temporada foi muito estranho. Depois de ter acabado a primeira volta, pensámos que teríamos um ano muito mais tranquilo, que conseguirí­amos o objetivo com muito tempo de antecedênc­ia, o que permitiria começar a planificar o ano seguinte. O que aconteceu nos últimos meses foi novidade para todos e um exemplo da capacidade de adaptação a situações estranhas. Mas senti uma alegria tremenda quando o objetivo foi conseguido.

Houve algum milagre, como noutros anos?

DB – O Tondela tem algo de romântico. Faço a comparação que o Tondela é como a Gália, dos romanos. A luta de uma cidade interior, um povo que não está na costa mas que luta com os grandes. Falar de milagre é normal, mas eu, como gestor, prefiro falar de objetivos cumpridos, porque atrás de cada permanênci­a há muito trabalho, muitos erros mas também muitas boas decisões. Atrás disto não há só milagres, há pessoas que trabalham muito para isto acontecer.

Qual será o próximo passo em frente do Tondela?

DB – Nunca vou hipotecar o futuro do Tondela com as minhas decisões. Hoje, a questão económica no futebol é uma incógnita. Não sabemos a totalidade das receitas que vamos ter... Como gestor, não faria bem o meu trabalho se hipotecass­e o futuro do Tondela. Somos muito humildes e honrados, jamais tivemos uma falha nos pagamentos. Fomos dos poucos clubes que conseguira­m evitar o lay-off simplifica­do e isso é graças à saúde financeira. É fazer bem as coisas, não gastar um euro a mais do que entra. É a minha filosofia e a forma como o Gilberto Coimbra geriu o clube estes anos todos. Ninguém pode dizer que o Tondela lhe deve dinheiro. Sempre cumpriu com as suas obrigações.

Será demasiado pensar num feito semelhante ao do Granada, também gerido pelo Grupo Hope, e que vai à Liga Europa?

DB – Demasiado? Não. Se o futebol tem uma coisa, é que tudo é possível. Há uma série de limitações, e quanto mais diferenças há nos encaixes, mais limitações existem. Em Portugal as verbas televisiva­s são limitadas, há uma diferença de 1 para 20 comparando com os três grandes. Em Espanha é de 1 para 2 ou 3. É muita diferença. Se pode acontecer? Pode, mas é muito mais difícil.

Vai haver mais investimen­to por parte do grupo Hope?

DB – A Hope quer gestão responsáve­l. Nós tentamos maximizar até ao limite cada receita que recebemos. Queríamos estabiliza­r o Tondela, para ter capacidade de cresciment­o a partir de uma base forte, e isso já se conseguiu este ano. Precisamen­te por isso, pudemos evitar o lay-off. Gerimos a situação sem prejuízo para os jogadores e funcionári­os. Depois da base forte e cimentada, é quando é possível aumentar o investimen­to para crescer, como a nível da cidade desportiva, da formação ou de aquisição de algum jogador. O clube está saudável, esperemos que esse passo seguinte chegue em breve, se não houver outro arrombo ou crise sanitária.

Lamenta a saída a custo zero de Cláudio Ramos?

DB – Não. Estou muito feliz por ele.

A decisão que tomou é que o momento de estar no Tondela tinha acabado, tinha ambição de viver novas experiênci­as. Não era uma questão económica, mas sim novos objetivos, novas metas. Não apenas lutar pela permanênci­a. O Cláudio vai estar para sempre na história do Tondela, é dos jogadores mais importante­s que alguma vez passaram pelo clube e talvez volte um dia. As portas estarão sempre abertas. Foi uma relação muito proveitosa e estamos orgulhosos de que ele dê um salto importante na carreira.

Se se confirmar a ida para o FC Porto, terá capacidade?

DB – Eu não sei. Há rumores, sei que tinha ofertas de vários sítios.

Acho que, pela qualidade e tranquilid­ade que transmite aos colegas, tem capacidade para ser guarda-redes de um clube importante como o FC Porto ou outro. Tem uma personalid­ade que lhe permite ser parte de plantéis importante­s. Desejo-lhe toda a sorte.

Haverá uma aposta firme no Babacar Niasse?

DB – É um guarda-redes de grande

“CLÁUDIO RAMOS TEM CAPACIDADE PARA UM CLUBE IMPORTANTE COMO O FC PORTO. ESTAMOS ORGULHOSOS DELE”

“FOMOS DOS POUCOS CLUBES QUE EVITARAM O LAY-OFF. É FAZER BEM AS COISAS, NÃO GASTAR UM EURO A MAIS DO QUE SE GANHA”

futuro e estamos muito tranquilos com a substituiç­ão do Cláudio. Contratare­mos outro guardião, mas creio que Babacar ganhou a confiança do clube com as suas atuações na reta final e sabemos que pode perfeitame­nte ser o guarda-redes titular do Tondela. Confio muito nele e estou certo que pode ser uma das grandes sensações da Liga na próxima época.

Moufi, Pité e Valente vão renovar ou não há hipótese?

DB – O treinador e o diretor desportivo é que têm de decidir essas questões. Eu como gestor, e apesar de ter a minha opinião, tento não me meter nas decisões desportiva­s. Quando me pedem, digo que lhes vamos baixar o ordenado. Eles recebem para tomar decisões e dar opinião sobre as questões desportiva­s. Sei que não é o habitual, o normal é todos opinarem. Mas para poder exigir resultados e rendimento às pessoas, tenho de dar-lhes responsabi­lidades e capacidade de decisão. Essa é uma decisão deles.

Pepelu, Richard e Ronan estiveram emprestado­s. Poderão voltar?

DB – Há contactos com os seus clubes e agentes para ver em que condições poderão voltar ao Tondela. Todos esses têm essa hipótese, mas não se sabe o futuro. Fizeram boas épocas e há gente a acompanhá-los. Mas é possível voltarmos a vê-los na próxima época.

Quanto rendeu a transferên­cia de Philipe Sampaio para o Guingamp?

DB – Não vou dizer. Era um dever nosso facilitar, também, a situação, pois era um sonho dele jogar em França. Alguns podiam suspeitar que, depois da transferên­cia, ele poderia levantar o pé do acelerador no Tondela, mas demonstrou profission­alismo e compromiss­o, deu tudo pelo Tondela e há que agradecer-lhe por isso.

Há mais vendas na forja?

DB – Há contactos por jogadores que despertara­m interesse de clubes portuguese­s e europeus.

E o Tondela precisa de vender para manter a estabilida­de das contas?

DB – Não é necessário, graças a Deus. Pelo que já expliquei.

E reforços? Pode adiantar-nos algum?

DB – Ainda não, é cedo. Há que manter a tensão nos jornalista­s. Fazem pouco caso do Tondela durante todo o ano. Agora que geramos notícias, gostamos de deixar as pessoas à espera... [risos]

DB – A verdade é que nunca penso nisso. Estou muito feliz, levanto-me e deito-me a pensar no que fazer no Tondela. Queremos continuar a crescer, ter mais adeptos no estádio, mais gente identifica­da com o clube. Vamos dar sequência ao trabalho e ver onde podemos chegar. Estou 100% concentrad­o no projeto, pensando já em conseguir ficar mais uma temporada na 1ª Liga.

De preferênci­a sem sofrer tanto e sem esperar pelo último jogo, se calhar...

DB – Sim! Para poder ter férias, pelo menos... [risos] Espero que a nova época seja muito mais tranquila. Quando temos menos recursos económicos, quanto antes conseguirm­os os objetivos desportivo­s, melhor, pois mais coisas poderemos adiantar na preparação da época seguinte. Está no Tondela desde novembro de 2018. Até quando pretende ficar por cá?

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