“Futebol português esteve perto da bancarrota”
çComo explica a quebra nas últimas semanas da época?
DB – É difícil. Os números do Tondela pós-Covid são muito parecidos com os pré-Covid. Por outro lado, certas equipas tiveram um rendimento muito superior no pós-Covid. As explicações podem ser muitas. Eu, e apresentei queixa na Liga enquanto membro da direção, creio que a competição foi prejudicada no momento em que houve equipas que podiam manter treinos conjuntos durante o confinamento e outras não. Isto a meio da competição é uma grandíssima vantagem. Sei que a solução é difícil, porque estamos a falar de decisões do Governo, da DGS, mas houve equipas que se viram muito beneficiadas por poderem continuar a treinar durante o confinamento em grupo. Outras não o puderam fazer.
A que equipas se refere?
DB – Isso já é o vosso trabalho, não vou dizer. Por não haver restrições iguais em todo o território, algumas equipas puderam treinar. Porque as medidas de saúde o permitiam, não digo que tenha sido o correto ou não, mas digo que houve para uns a possibilidade de treinar e para outros não. Isso criou um distanciamento no rendimento das equipas.
E como é que essa queixa foi avaliada na Liga?
DB – Legalmente, pouco se podia fazer. Esta é uma análise a nível desportivo, em busca da explicação para a diferença no nível das equipas. Em certas regiões podia haver um nível determinado de liberdade, porque eram situações menos perigosas, e outras regiões tinham restrições muito maiores. Não é o mesmo uma equipa de Lisboa com problemas pelo confinamento e uma do Algarve com menos problemas e contágios, o que provocava menos restrições...
Que análise faz à forma como se procedeu à conclusão da Liga?
DB – Foi um exemplo para toda a Europa o que se passou em Portugal. Primeiro a nível político, pelas rápidas decisões tomadas pelo Governo e o apoio da oposição, deixando de lado os ideais políticos. É um pouco o que se deu em relação à Liga, jogadores, FPF. Foi um confinamento muito intenso, com reuniões quase dia a dia, com FPF, Liga, preparando o plano de retoma do futebol, mudando-o praticamente a cada semana. Todos remaram para o mesmo lado para que a Liga retomasse da melhor
“COMPETIÇÃO FOI PREJUDICADA AO HAVER EQUIPAS A FAZER TREINOS DE GRUPO NO CONFINAMENTO E OUTRAS NÃO”
forma e acabasse. Não sei se as pessoas têm a real noção do quão perto o futebol português esteve da bancarrota, de ficar muito afetado, porque se não voltasse a Liga – o que esteve em cima da mesa durante várias semanas como cenário muito possível – haveria consequências desastrosas para toda a indústria. Conseguiu-se com grande solidariedade e foi histórica a reunião dos presidentes dos três grandes.
O que acha do novo playoff?
DB – É bom para o futebol português. É algo positivo mas não tem de ser isolado, ou seja, não podemos copiar só um dos aspetos de outras ligas europeias...
O que defende?
DB – A segurança jurídica e controlo económico sobre os clubes, para que não esteja em perigo a sua viabilidade durante a época, e a negociação conjunta dos direitos televisivos, para o crescimento da Liga de forma unificada, não com cada clube a ir numa direção. Só assim se pode vender uma marca única no Mundo. Hoje, no Tondela, nem posso lutar por reforços com equipas da 2ª Liga de Espanha, França ou Alemanha.*