Record (Portugal)

“EM BRAGA VOU TER MAIS SUCESSO”

Saiu do Benfica em 2016 e o rumo que deu à carreira não foi o que mais pretendia. Aos 32 anos, volta a um país onde se sente acarinhado, agora para alinhar no Sp. Braga. Regressar à Luz esteve em cima da mesa, mas isso já é passado

- TEXTOS ANDRÉ GONÇALVES PEDRO MORAIS FOTOS LUÍS VIEIRA / MOVEPHOTO

Regressa a Portugal ao fim de seis anos. Que tipo de jogador é hoje? Mudou alguma coisa no Gaitán que o público português conhecia, essencialm­ente dos tempos passados ao serviço do Benfica?

GAITÁN – Eu sinto que sou jogador de bola. Quem é jogador de bola vai ser sempre jogador de bola. Acho que melhorei a forma de jogar, a forma de olhar o jogo, de tentar ajudar os colegas, acho que tenho uma forma de olhar diferente do que quando passei por aqui. Vai-se aprendendo muito com o tempo. Tive a sorte de trabalhar com grandes jogadores e isso faz-me ver coisas que antes não via. Hoje sinto-me melhor jogador do que há uns anos.

E sente que tem ainda um truque na manga para apresentar ao serviço do Sp. Braga? Algo que o futebol ainda não tenha visto de Nico Gaitán?

G – A minha forma de jogar é uma. Nas equipas em que estive, tirando o Atlético, que foi onde menos joguei, fiz assistênci­as para os meus companheir­os. Na China dei assistênci­as, nos Estados Unidos da América também. Estive em equipas que não eram as mais fortes e isso faz diferença. Aqui em Braga sinto que vou ter mais sucesso.

Para os adeptos do Sp. Braga que têm a referência do Gaitán do Benfica, podem esperar um Gaitán ao mesmo nível ou até melhor?

G – Isso não sei. Só podemos falar disso no fim da época. Posso dizer o que quiser, mas posso sair daqui e ter um problema e não jogar. Não vou falar de como vai ser a época, eu vou dizer o que eu sinto. Eu sinto que, jogando, seja na equipa que for, consigo ajudar. Depois o míster vai decidir se sou eu ou um colega, mas a minha intenção é estar numa equipa que jogue para ganhar.

Nesta altura tem 32 anos. O que diz a quem pensar que não será capaz de ser tão desequilib­rador?

G – Não sei quem vai dizer isso. Não tem que ver com a idade, mas sim como um jogador se encontra e se prepara. O Di María tem a minha idade. É certo que esteve sempre na Europa e esteve sempre em ritmo, mas há outros exemplos. Cristiano Ronaldo. São jogadores que são da minha idade ou mais velhos e continuam a jogar. A mim pode acontecer-me não jogar mais, mas não vai ser pela idade. Se não jogo é porque estou mal fisicament­e e porque não estou a fazer o que tenho de fazer. Eu não ponho problemas na idade, porque estou a preparar-me para jogar.

ç Após várias experiênci­as no estrangeir­o, o que o fez regressar agora a Portugal?

GAITÁN – Eu acho que o que foi fundamenta­l foi o carinho das pessoas. Independen­temente da camisola que vestia no passado, mesmo quando jogava no Benfica, tinha muita gente de outras equipas a dar-me os parabéns. Não pela camisola, mas pela forma como jogava. Sempre senti esse carinho do povo português e isso sempre me deixou muito feliz. E eu precisava de um sítio onde me sentisse confortáve­l e querido. Esse sítio era Portugal. Não tinha dúvida disso.

+ E aí aparece o Sp. Braga…

G – Depois aparece o Sp. Braga e em 15 horas resolveu-se tudo. Porque aqui não havia nada pelo meio, nem dinheiro, nada. Era a minha vontade e a vontade da outra equipa. Essa equipa era o Sp. Braga e foi tudo muito rápido. Isso para mim foi muito confortáve­l porque o clube rapidament­e quis contar comigo. Isso fez-me sentir importante.

Teve também outras propostas mais vantajosas e isso até foi assumido pelo presidente António Salvador. Pode dar algum exemplo?

G – Tive propostas de fora da Europa, tive proposta de outra equipa da Europa, mas que achava que não era o projeto certo. Então achei que o melhor era vir para Portugal e o Sp. Braga foi quem me abriu as portas.

Com que perspetiva­s chega para esta nova etapa?

G – A perspetiva é sempre ganhar. Sempre que entro em campo é para ganhar, seja onde for e na equipa que for. Vamos tentar ganhar o máximo de jogos possível. Sabemos que é difícil, que nenhuma equipa ganha todos os jogos, mas vamos tentar ganhar o máximo possível.

Nestes primeiros dias, com que sensações ficou do Sp. Braga? Disse que quer ganhar, mas sente que o Sp. Braga é o clube que lhe dá condições para isso?

G – Eu acho que o Sp. Braga é uma equipa que joga para ganhar. Nenhuma equipa no Mundo ganha todos os jogos, sabemos que isso pode acontecer, mas vamos tentar ganhar o máximo possível para no final fazer as contas.

Sente que este é o projeto certo para si nesta altura da carreira?

G – Eu acho que mais do que olhar para a carreira, o jogador precisa de jogar. Eu acho que escolhi bem, vim para uma equipa que quer ganhar e vou jogar. Isso fará com que o meu jogo surja mais facilmente.

Olhando agora ao Sp. Braga enquanto clube, na época passada terminou o campeonato em terceiro lugar, na última jornada. Acompanhou essa reta final?

G – Sim, acompanhei. Vi também alguns jogos que o Sp. Braga fez na Liga Europa. Também tiveram o Rúben Amorim, que foi muito importante para a equipa. Já me falaram dele como treinador. Eu conheço-o como jogador, mas não como treinador. Depois da saída dele, sei que a equipa perdeu pontos, mas é normal quando há uma mudança de treinador tão drástica. Só que depois deram a volta e terminaram como queriam, no terceiro lugar.

A próxima época dará acesso às pré-eliminatór­ias da Liga dos Campeões. Essa é uma ambição legítima para o Sp. Braga?

G – Não sei se a ambição é terceiro, segundo ou primeiro. A ambição é ganhar. Se vamos ganhando no percurso da Liga, vamos indo para o topo. Ou não. Não consigo dizer que vamos ganhar um certo número de jogos. Isso é no basquetebo­l. Na NBA é mais fácil perceber quem vai ganhar ou não. No futebol não. Por isso é que é tão lindo. Nós temos de pensar no treino que estamos a fazer e na pré-temporada para encarar o primeiro jogo.

Mas haverá uma fasquia mínima para a temporada?

G – Não sei. Estou numa equipa que joga para ganhar e que vai chegar ao topo. Campeão vai haver um, segundo vai haver um e terceiro vai haver um também. Há muitas equipas que vão lutar por isso e nós vamos ser uma dessas equipas, mas não vamos lutar por um lugar específico. Vamos lutar em todas as competiçõe­s para ganhar e vamos esperar que as contas nos sorriam no final.

O Gaitán chega a um clube

“EM TODAS AS EQUIPAS EM QUE ESTIVE, SEMPRE QUE COMECEI PENSAVA EM SAIR CAMPEÃO. SE NÃO, NÃO VINHA JOGAR” “O JOGADOR PRECISA DE JOGAR. E EU ACHO QUE ESCOLHI BEM. VIM PARA UMA EQUIPA QUE QUER GANHAR E VOU JOGAR”

que entra num ano de centenário e em que os adeptos sonham com o título. Sente que é possível alimentar esse sonho na nova temporada ou é cedo para pensar nisso?

G – Vamos ver: eu, em todas as equipas em que estive, sempre que comecei pensava em sair campeão. Sempre. Se não, não vinha jogar. Por mais que queiram pôr em título terceiro lugar ou segundo lugar, eu jogo sempre para sair campeão. Depois pode haver algum jogo em que vamos jogar para ser primeiro, segundo, terceiro ou para cair. Eu quero estar sempre no topo.

O Sp. Braga terminou a época à frente do Sporting, num braço de ferro intenso. Sente que o Sp. Braga parte à frente do Sporting para a nova época?

G – Não, porque senão o FC Porto começaria acima do Benfica. O que acontece atrás, é passado. Agora começamos todos do zero e todos se estão a preparar para chegar o mais acima possível. Estou a ver que muitas equipas se estão a preparar muito bem, muito forte. Alegra-me ver gente que eu conheci em Portugal a voltar. Conheci o Tiago, que agora é treinador do Vitória, o Javi García. Ou seja, eu também fico contente de ver gente que está a vir para o futebol português e isso é parte da razão pela qual voltei. Eles acham que aqui vão ter esse conforto e o prazer de desfrutar do futebol.

Pelo discurso, fica a ideia de que chega com perfeita convicção de que a lista grande de títulos que tem pode ser aumentada.

G – Sempre. Eu quero sempre mais. Todos queremos mais, sempre. Depois pode acontecer ou não. Mas na minha cabeça, a meta está sempre em chegar o mais longe possível. Quero ganhar sempre. Se não ganho, fico triste e chateado e, por isso, vou fazer tudo para ganhar.

Assinou por um ano e um de opção. Algum motivo em especial?

G – Não, motivo nenhum. Estava há algum tempo sem jogar na Europa e o Sp. Braga achou correto ser um ano e um ano mais. Eu não vi problema e assinámos. O que eu queria era voltar a jogar e sentir-me bem. Sentir-me feliz e sentir que as pessoas gostam que esteja aqui. E aqui estou a sentir isso.

“HAVERÁ UM CAMPEÃO, UM SEGUNDO E UM TERCEIRO. HÁ MUITAS EQUIPAS QUE VÃO LUTAR POR ISSO E NÓS SEREMOS UMA”

Provoca-lhe estranheza estar de regresso a Portugal, mas não ser para representa­r o Benfica?

GAITÁN – Sim, não vou dizer que não. Da mesma forma que na Argentina achei que só ia jogar no Boca Juniors, em Portugal achava que só jogaria no Benfica. Mas pronto, um jogador vai crescendo e vai vendo outras coisas, vai recebendo algumas respostas das quais não estava à espera. Isso faz parte do futebol. Por aí, há que perceber que os jogadores tomam decisões e muitas vezes não é porque quiseram. Eu sempre disse, e acho que as pessoas de Braga não ficarão chateadas com isso, que queria jogar no Benfica. Mas também tinha de ver o treinador, a estrutura diretiva que estava, há sempre muita coisa a avaliar. Não foi possível ir para o Benfica e quando o Sp. Braga apareceu foi tudo muito rápido. Eles sim, queriam-me aqui. E agora sinto que tenho de fazer muito para ajudar o Sp. Braga, pela forma como me recebeu.

Foi já este verão que teve essa possibilid­ade de regressar ao Benfica?

G – Sim.

Diz-se que terá sido Jorge Jesus a reprovar a sua contrataçã­o.

G – Não sei quem foi e não vou dizer se foi um ou outro. Para mim, já está. Para mim, acabou o Benfica. Muito obrigado às pessoas do Benfica, sei que gostam muito de mim, mas agora jogo em Braga e vou tentar defender o Sp. Braga, da mesma forma que defendi o Benfica quando lá estava. Na verdade, eu estou muito agradecido a Portugal, país que sempre me tratou muito bem. E estou muito feliz aqui em Braga.

Já pensou na maneira como vai ser recebido pelos adeptos no seu regresso à Luz? Isto, se houver adeptos.

G – Pensar não, mas sei que me vão receber bem. Passei lá muitos anos, passámos muitas coisas juntos e eu fui parte de um grupo que cortou com um domínio do FC Porto. O FC Porto levava muitos anos a ganhar. Fiz parte de uma geração de jogadores muito bons. Mas pronto, é o que já disse, já falei do Benfica e agora só vou responder sobre o Sp. Braga daqui para a frente, é a minha equipa. Peço desculpa aos jornalista­s que não estejam cá para perguntar, mas da minha parte não falarei mais do Benfica. Tenho muito respeito por eles, mas mais pelos adeptos. Depois não vou falar mais do Benfica porque não me sinto bem e não quero falar de uma equipa onde não estou. Já falei deles durante muito tempo, mas porque não estava em Portugal. Agora, infelizmen­te, vamos estar em lados opostos. Peço desculpa a quem incomodar esta minha resposta, mas o futebol é isso.

Ainda assim, o regresso de Jorge Jesus ao Benfica merece-lhe algum comentário?

G – É um regresso muito bom, que vai ajudar muito o Benfica. É um treinador de topo, mas espero que corra melhor para nós.

As contrataçõ­es sonantes que se estão a verificar, levadas a cabo por clubes fora da esfera dos ditos três grandes, serão importante­s para catapultar o futebol português para outro nível?

G – Não sei se para outro nível, porque para isso são precisas muitas outras coisas, mas é importante que haja jogadores que queiram voltar para o futebol português porque se sentem confortáve­is e sentem que aqui toda a gente ajuda muito a que façam o seu trabalho. Há sempre gente à disposição para ajudar em tudo o que precisamos e só temos de pensar em jogar futebol. A forma de trabalhar do português no futebol é muito boa. E depois há que juntar a isso as pessoas, os adeptos. As pessoas conhecem-nos e tratam-nos bem. Há gente do Benfica, do Sporting e do FC Porto que pede para tirar fotos. Isso sempre me aconteceu. Sempre. Somos muito bem recebidos aqui em Portugal.

Mas depois há o reverso da medalha...

G – Depois, claro, quando vamos jogar, se puderem matar-te, matam-te [risos]. Mas isso faz parte do futebol. Eu venho da Argentina, onde as coisas são muito parecidas e por isso estou habituado a que

“Nunca coloquei pressão para sair”

ç Há uns anos foi apontado ao Man. United. Houve essa possibilid­ade?.

G – Sim.

+ Por que razão não se concretizo­u?

G – Uma vez foi por causa da licença de trabalho. Não tinha cidadania europeia e não era jogador de seleção. Era convocado, mas não jogava e era necessário cumprir um número de jogos. Não preenchia esses requisitos e não foi possível. Mas se não foi, foi por algum motivo. Certo é que nunca pedi para sair do Benfica. Nem no Boca Juniors. Nunca pedi para sair, nem pontapeei a porta para fazer pressão para sair. Sempre deixei o meu empresário tratar disso. Ele falava e eu só dava o meu ponto de vista, sem nunca meter pressão.

*

“PARA MIM, JÁ ESTÁ, ACABOU O BENFICA. ESTOU GRATO A TODA A GENTE DO BENFICA, MAS AGORA DEFENDO O SP. BRAGA” “NÃO FOI POSSÍVEL IR PARA O BENFICA” “SE SE ATIRA UMA PEDRA E ESSA PEDRA MATA ALGUÉM QUE TEM UM FILHO, ESSE FILHO FICA SEM PAI. POR UMA BOLA...”

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