O antigo olheiro de Henry
Luso-canadiano trabalhou diretamente com o francês, figura do futebol mundial e hoje treinador, no Montreal Impact
ç “Isto é um sonho.” Kevin Antunes, de 32 anos, lembra-se bem do que disse à mulher quando chegou a casa após o primeiro dia de trabalho com Thierry Henry. A excitação não era para menos. Nascido no Canadá e filho de portugueses, oriundos de Ponte de Lima, a função de scout da equipa principal do Montreal Impact, da Major League Soccer (MLS) e a chegada do treinador francês, em novembro de 2019, fizeram com que este luso-canadiano tivesse de procurar jogadores para o estilo de jogo definido por uma lenda do futebol mundial.
“Ele é muito cordial e acessível, mas no trabalho é muito exigente. Não tive reuniões semanais com ele, não porque ele não quisesse, mas quando havia uma decisão final sobre um jogador ele reunia-se com o diretor desportivo. Claro que houve reuniões sobre recrutamento. O perfil de jogador era traçado pelo Thierry Henry e o diretor desportivo. Depois, a equipa de scouting já sabia o que tinha de procurar, sendo que, com as regras complicadas da MLS, não se pode contratar qualquer jogador. E por isso é preciso fazer uma pesquisa aprofundada e com critérios, especialmente na parte financeira”, conta Kevin Antunes a Record.
O trabalho do luso-canadiano, juntamente com um colega, assumiu especial importância num dia em particular. “O ‘draft’ da MLS. Tivemos de preparar tudo para que o Henry estivesse bem informado sobre os jogadores porque ele não teve tempo de acompanhar o ‘draft’ universitário. Em acordo tomámos a decisão de escolher o jogador. Estivemos meses a seguir jogadores do futebol universitário, reunimo-nos com Henry e equipa técnica para escolher dez jogadores e, dessa lista, eleger um. Saber que estava a trabalhar para uma lenda como ele dava-me ainda mais motivação”, recorda.
O exemplo Luís Campos
Recuemos uns anos para contextualizar o caminho de Kevin Antunes no futebol, ao ponto de levá-lo até ao Montreal Impact. “Comecei como jornalista amador na comunidade portuguesa no Canadá. Fi-lo dos 16 aos 20 anos. Sempre tive paixão pelo futebol, mas como não tinha jeito para ser jogador profissional e, como já tinha alguns contactos do jornalismo, lancei-me no agenciamento. Mudei-me para outra empresa da mesma área, mas fiz também a parte do scouting e administração. Aí ganhei outra paixão: o scouting. Sou muito adepto do trabalho de Luís Campos, por exemplo, que está no Lille. É nessa vertente que está a paixão no futebol, administrar um clube e fazer o scouting”, defende.
Esse é o trajeto que Kevin Antunes quer seguir, até porque acabou por sair do Montreal Impact na sequência dos cortes impostos pelo clube devido aos efeitos económicos da Covid-19. Agora, enquanto espera por um projeto profissional, o luso-canadiano continua atento ao talento que anda pelo Mundo. “Estou sempre a procurar jogadores, desconhecidos em vários campeonatos, da Austrália ao Polo Norte (risos). Em qualquer canto pode haver um potencial jogador com talento que alguém nunca tenha visto, ou que nun
“O PERFIL ERA TRAÇADO PELO HENRY E O DIRETOR DESPORTIVO. A EQUIPA DE SCOUTING JÁ SABIA O QUE TINHA DE PROCURAR”
ca tenha tido uma oportunidade. Eu não acredito muito nessa questão de ‘eu descobri tal jogador’. Isso era há 40 anos, quando não havia plataformas de scouting, estatísticas avançadas e ‘big data’, por exemplo. Hoje em dia ninguém descobre, é mais o que fazes com o jogador que descobres. Repito o exemplo de Luís Campos. Ele recruta bem, mas o mais importante é os jogadores que foi buscar para o projeto certo e como os rentabilizou. O contexto é diferente e fundamental”, atira.