Record (Portugal)

Da desilusão ao topo do Mundo

Ugandês, de 23 anos, é detentor de três recordes mundiais e promete não ficar por aqui

- FÁBIO LIMA

Em 2017, na altura com apenas 19 anos, Joshua Cheptegei já era uma das maiores esperanças do atletismo ugandês. Em ano de Mundiais de crosse no país, o jovem tinha o seu palco para brilhar. Só que o sonho viraria pesadelo. Provavelme­nte contagiado pela emoção, mas também pela sua inexperiên­cia, partiu à ‘morte’, ganhou uma vantagem surreal e, à entrada da última volta, ficou sem combustíve­l no depósito. Levou aquilo que na gíria se chama de ‘marretada’ e, ao invés de cruzar a linha de meta com a glória de vencer perante o seu público, foi apenas 30.º, chegando ao final completame­nte arrasado. Aquele momento poderia ter ditado logo ali o final da sua carreira, tal foi a ‘pancada’ emocional que levou, mas a verdade é que aquele falhanço serviu como combustíve­l para o levar ao topo. Na altura, o vídeo correu Mundo, muitos gozaram-no, provavelme­nte estando longe de esperar que, três anos depois, aquele atleta que quebrou num Mundial de crosse se tornaria o autor de várias das performanc­es mais notáveis de sempre.

A mais recente foi na semana passada, no Mónaco, quando conseguiu quebrar o recorde de Kenenisa Bekele dos 5.000 metros, que durava há 16 anos. Tirou-lhe dois segundos, fixou-a nos 12:35:36 minutos e, ao olhar para a forma como correu, há até quem diga que havia gás para mais. Este feito histórico foi apenas mais um numa caminhada até ao topo do ugandês, que faz parte da NN Running Team, a mesma de Bekele ou Eliud Kipchoge. Antes, em 2018, tinha fixado já o máximo dos 15 quilómetro­s (41:05), o dos 10 quilómetro­s em 2019 (26:38 – entretanto batido por Rhonex Kipruto) e o dos 5 quilómetro­s já neste ano (12:51). Quatro recordes mundiais batidos no espaço de dois anos...

Um futebolist­a que se perdeu

Tal como muitos dos atletas africanos de sucesso, Joshua Cheptegei faz parte das forças da autoridade, assumindo-se como um dos mais reputados inspetores da Polícia Nacional do país. Uma carreira alternativ­a que lhe dá liberdade para se treinar e que também lhe permite manter o futuro de certa forma garantido. Mas não se pense que Joshua sempre sonhou com o atletismo. O seu primeiro sonho passou pelo futebol, tentando seguir as pisadas de Cristiano Ronaldo, uma das suas referência­s. Em 2017, por exemplo, assumiu a vontade de “mudar o desporto, como fizeram Michael Jordan ou

Cristiano Ronaldo”. Três anos depois, dessas palavras olhando ao que conseguiu, certamente está no caminho para o conseguir. Dentro de um ano, Tóquio será o palco para tentar atingir a maior glória, numa luta nos 10.000 metros na qual se assume cada vez mais como favorito com o britânico Mo Farah. E há até quem já lhe peça o recorde mundial também nessa distância.

EM 2017 ‘REBENTOU’ NOS MUNDIAIS DE CROSSE EM CASA. RENASCEU E AGORA É UM DOS MELHORES ATLETAS DO MUNDO

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