Record (Portugal)

Cavanitas

- O CANTO DO MORAIS Carlos Barbosa da Cruz Advogado

ç Ao contrário de muitos sportingui­stas, via com bons olhos a vinda de Cavani para o Benfica; não tanto por achar que o Benfica estava a pagar mais pelo nome do que pelo valor atual do jogador, mas sobretudo pela circunstân­cia de a presença de Cavani, objetivame­nte, ser um motivo adicional de valorizaçã­o mediática da Liga Portuguesa.

Cavani, para já, resolveu não vir, e ele – ou a sua entourage – saberão as verdadeira­s razões, mas uma coisa é evidente: a Liga portuguesa, que é aquilo a que, em consciênci­a, o Benfica (ou qualquer clube português) pode aspirar vencer, não será, por si só, apelativa para um jogador de topo.

A Liga portuguesa sofre de ‘periferite’, ou seja, sendo excêntrica aos grandes palcos europeus, não é conhecida, nem falada. Fora do mundo lusófono, o peso do nosso futebol, ao nível da competição de clubes, é pluma, porque a exportação da nossa Liga, ao contrário do que acontece com os nuestros hermanos, é tarefa muito ingrata.

Qualquer olhar desapaixon­ado conclui que, não obstante haver handicaps estruturai­s, a organizaçã­o e competitiv­idade do nosso futebol podem ser muito melhores do que presenteme­nte são.

Não sendo pretensão destas linhas fazer o diagnóstic­o das enfermidad­es, dir-se-á, contudo, que esse ‘upgrade’ passaria, entre outras coisas, por uma autêntica revolução cultural dos seus agentes, uma melhor redistribu­ição dos dinheiros do futebol, maior transparên­cia no funcioname­nto e detenção das sociedades desportiva­s, e maior racionalid­ade na regulament­ação.

Não vou falar, por exemplo, no E-Toupeira, no F.J. Marques ou em Alcochete como poderosos fatores de desvaloriz­ação global. Deixo só uma constataçã­o: à data, estão por julgar, pelo menos, três recursos, com incidência direta sobre a composição das Primeira e Segunda Ligas, e não se sabe ainda, como e quando vão arrancar. Aparenteme­nte, ninguém está preocupado.

A LIGA PORTUGUESA NÃO SERÁ, POR SI SÓ, APELATIVA PARA UM JOGADOR DE TOPO

Com este quadro, quem é que se arrisca a investir e acreditar no potencial do nosso futebol profission­al?

A Federação conseguiu elevar-se das cinzas de Saltillo, de Macau, e outros desastres, passar do improviso à organizaçã­o e colher os frutos desportivo­s, financeiro­s e reputacion­ais dessa mudança de paradigma. Será que a Liga não a consegue imitar?

Até lá, os Cavanis desta vida só mesmo para encher o olho de eleitor.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal