Cavanitas
ç Ao contrário de muitos sportinguistas, via com bons olhos a vinda de Cavani para o Benfica; não tanto por achar que o Benfica estava a pagar mais pelo nome do que pelo valor atual do jogador, mas sobretudo pela circunstância de a presença de Cavani, objetivamente, ser um motivo adicional de valorização mediática da Liga Portuguesa.
Cavani, para já, resolveu não vir, e ele – ou a sua entourage – saberão as verdadeiras razões, mas uma coisa é evidente: a Liga portuguesa, que é aquilo a que, em consciência, o Benfica (ou qualquer clube português) pode aspirar vencer, não será, por si só, apelativa para um jogador de topo.
A Liga portuguesa sofre de ‘periferite’, ou seja, sendo excêntrica aos grandes palcos europeus, não é conhecida, nem falada. Fora do mundo lusófono, o peso do nosso futebol, ao nível da competição de clubes, é pluma, porque a exportação da nossa Liga, ao contrário do que acontece com os nuestros hermanos, é tarefa muito ingrata.
Qualquer olhar desapaixonado conclui que, não obstante haver handicaps estruturais, a organização e competitividade do nosso futebol podem ser muito melhores do que presentemente são.
Não sendo pretensão destas linhas fazer o diagnóstico das enfermidades, dir-se-á, contudo, que esse ‘upgrade’ passaria, entre outras coisas, por uma autêntica revolução cultural dos seus agentes, uma melhor redistribuição dos dinheiros do futebol, maior transparência no funcionamento e detenção das sociedades desportivas, e maior racionalidade na regulamentação.
Não vou falar, por exemplo, no E-Toupeira, no F.J. Marques ou em Alcochete como poderosos fatores de desvalorização global. Deixo só uma constatação: à data, estão por julgar, pelo menos, três recursos, com incidência direta sobre a composição das Primeira e Segunda Ligas, e não se sabe ainda, como e quando vão arrancar. Aparentemente, ninguém está preocupado.
A LIGA PORTUGUESA NÃO SERÁ, POR SI SÓ, APELATIVA PARA UM JOGADOR DE TOPO
Com este quadro, quem é que se arrisca a investir e acreditar no potencial do nosso futebol profissional?
A Federação conseguiu elevar-se das cinzas de Saltillo, de Macau, e outros desastres, passar do improviso à organização e colher os frutos desportivos, financeiros e reputacionais dessa mudança de paradigma. Será que a Liga não a consegue imitar?
Até lá, os Cavanis desta vida só mesmo para encher o olho de eleitor.