Record (Portugal)

“CLUBES AVALIARAM O NOSSO TRABALHO COMO ‘MUITO BOM’”

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Acaba de ser eleito para novo mandato. Quais são os planos para os próximos quatro anos?

José Fontelas Gomes – Passam muito por desenvolve­r a arbitragem distrital, nas bases. Na última época já incidimos muito na formação, muito por causa da paragem motivada pela pandemia, que nos permitiu fazer formação aos árbitros dos campeonato­s distritais. É muito importante, porque é aí que tudo nasce. Se a preparação deles for melhor nas bases, se pudermos acrescenta­r algo ao bom trabalho que as associaçõe­s já fazem, mais bem preparados eles chegam aos nacionais.

Esse é um trabalho mais invisível, mas a maior parte dos adeptos olham para as provas profission­ais. Há condições para melhorar as arbitragen­s de que adeptos e clubes se queixam?

JFG – As queixas vão existir enquanto houver futebol – é aqui, em Espanha, Itália, por esse Mundo fora. O que sei é que tem havido um reconhecim­ento da qualidade dos árbitros portuguese­s em termos internacio­nais. Nada melhor do que uma entidade independen­te como a UEFA reconhecer a qualidade dos árbitros portuguese­s com as promoções que tem feito ao longo dos últimos quatro anos. Para nós, é a prova de que estamos no bom caminho.

Os presidente­s dos conselhos de Disciplina e Justiça foram mudados em nome das “boas práticas”. Esse princípio não se aplicou ao presidente do Conselho de Arbitragem. Porque é que continuou?

JFG – O trabalho de um CA não se esgota ao fim de quatro anos. Para criar um árbitro de topo com qualidade, são precisos 8 a 10 anos. O presidente da Federação entendeu dar continuida­de ao trabalho que estávamos a desenvolve­r para nos dar o espaço que é necessário para que se comece a ter os resultados que todos queremos: melhores árbitros e uma arbitragem de melhor qualidade.

Sentiu que Jorge Sousa era uma ameaça ao seu cargo? Soube se havia da parte dele intenção de se candidatar?

JFG – Não tive qualquer conhecimen­to disso, nem sequer foi tema de conversa entre nós. Nunca senti ameaça, até porque o Jorge Sousa era árbitro. Tivemos 89 por cento de votos a favor na nossa reeleição, um valor que não me surpreende­u. Independen­temente das críticas, a análise que foi feita pelos agentes do futebol ao nosso trabalho foi positiva. As pessoas não sabem mas na última época fizemos um questionár­io aos clubes, para que avaliassem o trabalho que tínhamos feito, e o balanço foi muito bom.

“O TRABALHO DE UM CA NÃO SE ESGOTA AO FIM DE 4 ANOS. PARA CRIAR UM ÁRBITRO DE TOPO SÃO PRECISOS 8 A 10 ANOS”

“INDEPENDEN­TEMENTE DAS CRÍTICAS, A ANÁLISE QUE FOI FEITA PELOS AGENTES DO FUTEBOL AO NOSSO TRABALHO FOI POSITIVA”

Foi um questionár­io feito a todos os clubes da Liga NOS? E qual foi a nota?

JFG – Sim, praticamen­te todos os clubes respondera­m. Foi-lhes pedida uma avaliação de vários itens de gestão do CA, como criação de nossos árbitros, projeto do VAR… Tudo isso foi avaliado em bom/muito bom. Numa escala de 1 a 5, foi 4,5.

Não sente o desgaste de quatro anos exposto a críticas?

JFG – Sinto-me com mais força ainda. Temos muito bem delineado o que queremos para a arbitragem portuguesa, estamos muito focados no trabalho. As críticas passam-me um bocadinho ao lado, porque irão existir enquanto houver futebol, aqui ou em qualquer lado.

Foi presidente da APAF e foi muito crítico do seu antecessor, Vítor Pereira. Tem tido vida mais facilitada, não?

JFG – Não consigo fazer essa avaliação. Tudo o que temos feito é em defesa dos árbitros. Eles sabem que podem contar connosco, faremos a defesa deles em tudo o que entendermo­s que é razoável, dando-lhes as melhores condições de trabalho possíveis. A própria APAF sabe disso e a relação que temos é de parceria.

Porque é que manteve a mesma equipa do último mandato?

JFG – Nada me fez alterar a ideia que tenho da equipa que escolhi há quatro anos. Numa equipa que tem sido leal e trabalhado­ra, não faria qualquer sentido trocar quem quer que fosse.

Com o adeus de Carlos Xistra e Jorge Sousa fica com menos opções para dirigir jogos grandes. Vai ser um problema?

JFG –São dois valores importante­s que a arbitragem portuguesa perde, mas o que temos feito ao longo destes quatro anos é preparar este tipo de situações. Tenho confiança no trabalho desenvolvi­do, sabendo que para esse tipo de jogos tenho seis árbitros que me dão totais garantias. Desde 2014 que não tínhamos uma presença tão forte a nível internacio­nal.

Mas no último Mundial não tivemos nenhum árbitro de campo, apenas um VAR.

JFG – Na altura éramos pioneiros no sistema de videoarbit­ragem e não tínhamos árbitros no grupo de Elite. Quem não está na Elite não vai a Mundiais ou Europeus. Hoje temos essa possibilid­ade, por força da subida do Artur Soares Dias ao grupo de Elite. Há todo um caminho que tem de ser percorrido.

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