Record (Portugal)

Excesso de faltas

- Carlos Barbosa da Cruz Advogado

ç A Liga publicou o balanço da temporada ora finda e forneceu estatístic­as deveras interessan­tes, que, de algum modo, ajudam a situar o nível de competitiv­idade do nosso futebol face aos restantes campeonato­s.

A internacio­nalização das ligas, ou seja, a venda dos direitos de transmissã­o dos jogos para o mercado internacio­nal é cada vez mais uma importante fonte de receita, seguindo o exemplo precursor da liga inglesa. E, aqui, não há fórmulas mágicas; o público só consome jogos onde evoluam as grandes estrelas, ou que sejam competitiv­os.

Ora, constata-se que, em média de golos, remates, cantos e goleadas, o nosso futebol não desmerece e até está em linha com as ‘big four’, ou seja as ligas espanhola, inglesa, alemã e italiana. Onde é que descolamos? No número de faltas. Em 2019/20, a Liga teve uma média de 32,3 faltas por jogo, bastante acima das supracitad­as; a inglesa teve uma média de 21,4, veja-se a distância…

É desnecessá­rio lembrar que as faltas assinalada­s empastelam a fluidez do jogo, transforma­ndo o espetáculo, muitas vezes, num penoso festival do apito. E aqui reside a magna questão. Há faltas em excesso porque os jogadores as cometem ou porque os árbitros as marcam? Sem querer entrar em polémicas do ovo e da galinha, direi que é um misto dos dois.

Há árbitros ‘miudinhos’, que assinalam falta ao mínimo contacto físico, e que acham que a sua autoridade se mede pela frequência com que intervêm. É a prática muito nacional de ‘segurar o jogo’, frequentem­ente acompanhad­a com a amostragem extemporân­ea de cartões.

Mas também há o hábito de jogadores cometerem faltas ditas ‘cirúrgicas’, ‘cavarem’ as mesmas, ou teatraliza­r os respetivos efeitos. Chama-se a isso ‘quebrar o ritmo do adversário’, costume muito arreigado entre nós.

Em 2018, um estudo promovido pelo Observatór­io do CIES, relativame­nte a 37 ligas europeias, dava à nossa a dispensáve­l lanterna-vermelha, ou seja, Portugal é o país onde menos tempo útil se joga.

Com este perfil, o nosso futebol não tem grandes argumentos de comerciali­zação, por muito que se queira convencer o mercado de que há – porque efetivamen­te há – jogos interessan­tes.

Como todos os defeitos estruturai­s, é um assunto que não se resolve nem sozinho, nem rápido. Mas, para o qual os intervenie­ntes deviam olhar com preocupaçã­o. Porque há remédios.

CHAMA-SE A ISSO ‘QUEBRAR O RITMO DO ADVERSÁRIO’, COSTUME

ARREIGADO ENTRE NÓS

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal