“COMIGO O BENFICA PODE SER CAMPEÃO EUROPEU”
RUI GOMES DA SILVA
Deixou o clube em 2016 e, dois anos depois, anunciou a sua candidatura à presidência por total discordância com a atual gestão. Promete um novo modelo de governação e diz que,ue, se for eleito, o sonho de conquistar a Champions tem tudo para ser... real
çChegou a dizer que, a concor-rrer contra Luís Filipe Vieira, só see quisesse, algum dia, que o Benficaa jogasse às riscas azuis e brancas ou verdes e brancas. Quando é que esta ideia deixou de fazer sen-ntido na sua cabeça?
RUI GOMES DA SILVA – Essa de- claração foi para os sócios perce- berem que só algo de muito grave e me faria concorrer contra Luís Fi- lipe Vieira. É verdade que não es- tamos a jogar com riscas azuis e brancas ou verdes e brancas – nem m tão-pouco com o vermelho à Ben- fica –, mas houve demasiados er- ros e decisões tomadas em função o de interesses que não são os do o Benfica nem do projeto europeu u que ambiciono. Foi por isso que e lancei a minha candidatura há á cerca de dois anos. Ainda assim, m, recordo que em 1991 já eu falava da a aposta na formação, do ecletismo o e do Benfica europeu. Penso o mesmo desde então. O que não é o mesmo é o Benfica. Está mais fraco desde que saí.
+ Foi aí, em 2016, que percebeu que tinha de ir a eleições?
RGS – Em 2018 houve um momento de rutura. O Benfica perdeu um campeonato que estava praticamente ganho, o penta, numa época em que vendeu muito e investiu pouco. Agora, para o senhor presidente ganhar as eleições, já vamos em não sei quantos milhões de euros gastos e a tendência será continuar a investir. Fora a contratação do treinador... O momento do afastamento de Luís Filipe Vieira aconteceu por outras razões. Saí da SAD em 2012, e da direção quatro anos depois, porque efetivamente aquele não era o caminho. O Benfica europeu sempre esteve na minha cabeça, mas cada vez que falava nisso as pessoas lá dentro riam-se... Mais: diziam que o Benfica era para fazer uns negócios e bastava chegar aos quartos-de-final... Sei que posso acabar com o mito, não há maldição alguma de Béla Guttman. Comigo, podemos voltar a ganhar a Liga dos Campeões. Só tenho pena que a intromissão nos sistemas informáticos tenha eliminado alguns emails meus a exprimir esta discordância. Esse sonho é o que mais me motiva e tenho a certeza de que alimenta todos os sócios e adeptos do Benfica. Mas não estou aqui para fazer ajustes com o passado. Estou aqui para construir o Benfica do futuro. Vêm aí alterações substanciais na organização do futebol e, se o Benfica não estiver preparado para ficar no primeiro patamar, vai perder o comboio.
+ Portanto, não se identifica com o atual Benfica.
RGS – Há diferenças de projeto. O Benfica está a ser confundido com interesses pessoais. Estamos a falar de um clube que assume por necessidade uma parceria com alguém cujo objetivo é vender jogadores para ganhar dinheiro. O meu caminho assentava, e assenta, no projeto desportivo. Quero construir uma equipa sem comissões fantásticas para quem vende, mas muito nocivas para o clube. Comissões de 10 por cento em jogadores que o Benfica não quer vender, como o João Félix, são um crime de lesa-pátria. Comigo, os jogadores contratados serão mais-valias. Assim, teremos liquidez para oferecer salários atrativos a grandes jogadores. É um primeiro passo. Não chega? Pois não. Por isso é que temos de aproveitar bem o Seixal e reter grandes jogadores como o Bernardo Silva. Farei de tudo para ele voltar.
+ Está a referir, implicitamente, Jorge Mendes.
RGS – Não tenho nada contra ele nem contra os empresários. O Benfica não pode é anunciar que não quer vender João Félix e depois transferi-lo pela cláusula de rescisão com uma comissão associada. O Oblak também saiu pela cláusula de rescisão e o Benfica pagou uma comissão. Se eu não quero vender, tão-pouco vou pagar um serviço que não quis. Estes gastos supérfluos estão a fazer mal ao Benfica. Esta parceria estratégica é entendível tanto do ponto de vista de Jorge Mendes como de outros empresários que agora estão mais ligados ao clube, como [Giuliano] Bertolucci, Kia [Joorabchian] e Pini Zahavi.
+ O clube tem sido mal gerido?
RGS – O Benfica teve três momentos: o da salvação de Vale e Azevedo, o da consolidação e, a partir de 2009/10, a construção do projeto desportivo. O Seixal tinha ficado concluído no ano anterior, o estádio era novo, e havia todas as condições para enveredar por um projeto desportivo de grande valia. O que aconteceu foi o contrário. Houve compras de jogadores que se comprovaram não ter qualidade para o Benfica e a venda de grandes ativos. Construiu-se um projeto de salvação e sustentabilidade financeira assente nessa perspetiva. Nos últimos 10 anos, o Benfica vendeu 1.000 milhões de euros de ativos e, durante o mesmo período, gastou 400. Parte desses 600 milhões de euros foram investidos em jogadores que não se justificam. O resto foi gasto na estrutura, em pessoal. Mas comigo não haverá despedimentos ou quebra de compromissos com parceiros.
“QUANDO FALAVA NO BENFICA EUROPEU, AS PESSOAS LÁ DENTRO RIAM-SE. DIZIAM QUE BASTAVA CHEGAR AOS QUARTOS-DE-FINAL”
+ Os cerca de 35 milhões de euros pagos em comissões preocupam-no?
RGS –À partida, não pode haver um empresário a ganhar 10 por cento… Se os regulamentos aconselham a pagar cinco por cento, porque é que vamos pagar mais? Ainda para mais por negócios que não se querem fazer, como foi o caso de João Félix. Como é que um empresário, que não era o do jogador, foi remunerado por uma transferência que o Benfica não queria fazer? Só isto merece a minha candidatura.
“SEREI PRESIDENTE NÃO EXECUTIVO. O CEO SERÁ UM MEMBRO ATUAL DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DE UM BANCO”
+ A culpa é exclusivamente de Luís Filipe Vieira?
RGS – Mentiria se não dissesse que havia pessoas contra. Lembro-me, por exemplo, da questão dos direitos televisivos. Noventa por cento dessa guerra foi por minha
“NÃO SE PODE DIZER QUE FÉLIX NÃO É PARA VENDER E TRANSFERI-LO PELA CLÁUSULA COM UMA COMISSÃO PARA JORGE MENDES”
causa. Só não assinámos com a Olivedesportos por questões de pormenor. Quanto a Vieira, são todos responsáveis. Mas o modelo de gestão é unipessoal. O Benfica é uma quinta de um homem só. E quanto mais um homem está só, mais essa quinta se vai tornando desse só homem. É um ciclo vicioso que só acaba quando o homem sair da quinta ou a quinta passar a ser do homem.
Fará uma auditoria?
RGS – Sim.
Acredita que vai encontrar um clube estável do ponto de vista financeiro?
RGS – Tudo aponta nesse sentido. Quero crer que o Relatório e Contas representa aquilo que se passa no Benfica.
Face a tudo o que elencou, manterá o mesmo sistema de governação?
RGS – Não. Eu serei presidente não executivo e sem remuneração. Escolherei para CEO um membro atual do conselho de administração de um banco português. Posso dizer que não está indiciado por qualquer crime. Eu serei o representante dos sócios e haverá uma comissão executiva de três membros e será essa equipa a gerir o futebol e a SAD. O dinheiro gasto em transferências poderá ser reivindicado pelos sócios para que não haja qualquer suspeita.
Lourenço Pereira Coelho fará parte dessa equipa?
RGS – Será um desses membros. A não ser que se autoexclua.
Conta com Domingos Soares Oliveira e Rui Costa?
RGS –Rui Costa foi um grande jogador e tem uma ligação emocional ao Benfica... Domingos Soares Oliveira faz parte da equipa de Luís Filipe Vieira. Presumo que terá disponibilidade para sair. Tenho todo o respeito por ele, mas vou querer a minha equipa.