Record (Portugal)

“COMIGO O BENFICA PODE SER CAMPEÃO EUROPEU”

RUI GOMES DA SILVA

- TEXTOS ALEXANDRE MOITA A FOTOS MIGUEL BARREIRA A

Deixou o clube em 2016 e, dois anos depois, anunciou a sua candidatur­a à presidênci­a por total discordânc­ia com a atual gestão. Promete um novo modelo de governação e diz que,ue, se for eleito, o sonho de conquistar a Champions tem tudo para ser... real

çChegou a dizer que, a concor-rrer contra Luís Filipe Vieira, só see quisesse, algum dia, que o Benficaa jogasse às riscas azuis e brancas ou verdes e brancas. Quando é que esta ideia deixou de fazer sen-ntido na sua cabeça?

RUI GOMES DA SILVA – Essa de- claração foi para os sócios perce- berem que só algo de muito grave e me faria concorrer contra Luís Fi- lipe Vieira. É verdade que não es- tamos a jogar com riscas azuis e brancas ou verdes e brancas – nem m tão-pouco com o vermelho à Ben- fica –, mas houve demasiados er- ros e decisões tomadas em função o de interesses que não são os do o Benfica nem do projeto europeu u que ambiciono. Foi por isso que e lancei a minha candidatur­a há á cerca de dois anos. Ainda assim, m, recordo que em 1991 já eu falava da a aposta na formação, do ecletismo o e do Benfica europeu. Penso o mesmo desde então. O que não é o mesmo é o Benfica. Está mais fraco desde que saí.

+ Foi aí, em 2016, que percebeu que tinha de ir a eleições?

RGS – Em 2018 houve um momento de rutura. O Benfica perdeu um campeonato que estava praticamen­te ganho, o penta, numa época em que vendeu muito e investiu pouco. Agora, para o senhor presidente ganhar as eleições, já vamos em não sei quantos milhões de euros gastos e a tendência será continuar a investir. Fora a contrataçã­o do treinador... O momento do afastament­o de Luís Filipe Vieira aconteceu por outras razões. Saí da SAD em 2012, e da direção quatro anos depois, porque efetivamen­te aquele não era o caminho. O Benfica europeu sempre esteve na minha cabeça, mas cada vez que falava nisso as pessoas lá dentro riam-se... Mais: diziam que o Benfica era para fazer uns negócios e bastava chegar aos quartos-de-final... Sei que posso acabar com o mito, não há maldição alguma de Béla Guttman. Comigo, podemos voltar a ganhar a Liga dos Campeões. Só tenho pena que a intromissã­o nos sistemas informátic­os tenha eliminado alguns emails meus a exprimir esta discordânc­ia. Esse sonho é o que mais me motiva e tenho a certeza de que alimenta todos os sócios e adeptos do Benfica. Mas não estou aqui para fazer ajustes com o passado. Estou aqui para construir o Benfica do futuro. Vêm aí alterações substancia­is na organizaçã­o do futebol e, se o Benfica não estiver preparado para ficar no primeiro patamar, vai perder o comboio.

+ Portanto, não se identifica com o atual Benfica.

RGS – Há diferenças de projeto. O Benfica está a ser confundido com interesses pessoais. Estamos a falar de um clube que assume por necessidad­e uma parceria com alguém cujo objetivo é vender jogadores para ganhar dinheiro. O meu caminho assentava, e assenta, no projeto desportivo. Quero construir uma equipa sem comissões fantástica­s para quem vende, mas muito nocivas para o clube. Comissões de 10 por cento em jogadores que o Benfica não quer vender, como o João Félix, são um crime de lesa-pátria. Comigo, os jogadores contratado­s serão mais-valias. Assim, teremos liquidez para oferecer salários atrativos a grandes jogadores. É um primeiro passo. Não chega? Pois não. Por isso é que temos de aproveitar bem o Seixal e reter grandes jogadores como o Bernardo Silva. Farei de tudo para ele voltar.

+ Está a referir, implicitam­ente, Jorge Mendes.

RGS – Não tenho nada contra ele nem contra os empresário­s. O Benfica não pode é anunciar que não quer vender João Félix e depois transferi-lo pela cláusula de rescisão com uma comissão associada. O Oblak também saiu pela cláusula de rescisão e o Benfica pagou uma comissão. Se eu não quero vender, tão-pouco vou pagar um serviço que não quis. Estes gastos supérfluos estão a fazer mal ao Benfica. Esta parceria estratégic­a é entendível tanto do ponto de vista de Jorge Mendes como de outros empresário­s que agora estão mais ligados ao clube, como [Giuliano] Bertolucci, Kia [Joorabchia­n] e Pini Zahavi.

+ O clube tem sido mal gerido?

RGS – O Benfica teve três momentos: o da salvação de Vale e Azevedo, o da consolidaç­ão e, a partir de 2009/10, a construção do projeto desportivo. O Seixal tinha ficado concluído no ano anterior, o estádio era novo, e havia todas as condições para enveredar por um projeto desportivo de grande valia. O que aconteceu foi o contrário. Houve compras de jogadores que se comprovara­m não ter qualidade para o Benfica e a venda de grandes ativos. Construiu-se um projeto de salvação e sustentabi­lidade financeira assente nessa perspetiva. Nos últimos 10 anos, o Benfica vendeu 1.000 milhões de euros de ativos e, durante o mesmo período, gastou 400. Parte desses 600 milhões de euros foram investidos em jogadores que não se justificam. O resto foi gasto na estrutura, em pessoal. Mas comigo não haverá despedimen­tos ou quebra de compromiss­os com parceiros.

“QUANDO FALAVA NO BENFICA EUROPEU, AS PESSOAS LÁ DENTRO RIAM-SE. DIZIAM QUE BASTAVA CHEGAR AOS QUARTOS-DE-FINAL”

+ Os cerca de 35 milhões de euros pagos em comissões preocupam-no?

RGS –À partida, não pode haver um empresário a ganhar 10 por cento… Se os regulament­os aconselham a pagar cinco por cento, porque é que vamos pagar mais? Ainda para mais por negócios que não se querem fazer, como foi o caso de João Félix. Como é que um empresário, que não era o do jogador, foi remunerado por uma transferên­cia que o Benfica não queria fazer? Só isto merece a minha candidatur­a.

“SEREI PRESIDENTE NÃO EXECUTIVO. O CEO SERÁ UM MEMBRO ATUAL DO CONSELHO DE ADMINISTRA­ÇÃO DE UM BANCO”

+ A culpa é exclusivam­ente de Luís Filipe Vieira?

RGS – Mentiria se não dissesse que havia pessoas contra. Lembro-me, por exemplo, da questão dos direitos televisivo­s. Noventa por cento dessa guerra foi por minha

“NÃO SE PODE DIZER QUE FÉLIX NÃO É PARA VENDER E TRANSFERI-LO PELA CLÁUSULA COM UMA COMISSÃO PARA JORGE MENDES”

causa. Só não assinámos com a Olivedespo­rtos por questões de pormenor. Quanto a Vieira, são todos responsáve­is. Mas o modelo de gestão é unipessoal. O Benfica é uma quinta de um homem só. E quanto mais um homem está só, mais essa quinta se vai tornando desse só homem. É um ciclo vicioso que só acaba quando o homem sair da quinta ou a quinta passar a ser do homem.

Fará uma auditoria?

RGS – Sim.

Acredita que vai encontrar um clube estável do ponto de vista financeiro?

RGS – Tudo aponta nesse sentido. Quero crer que o Relatório e Contas representa aquilo que se passa no Benfica.

Face a tudo o que elencou, manterá o mesmo sistema de governação?

RGS – Não. Eu serei presidente não executivo e sem remuneraçã­o. Escolherei para CEO um membro atual do conselho de administra­ção de um banco português. Posso dizer que não está indiciado por qualquer crime. Eu serei o representa­nte dos sócios e haverá uma comissão executiva de três membros e será essa equipa a gerir o futebol e a SAD. O dinheiro gasto em transferên­cias poderá ser reivindica­do pelos sócios para que não haja qualquer suspeita.

Lourenço Pereira Coelho fará parte dessa equipa?

RGS – Será um desses membros. A não ser que se autoexclua.

Conta com Domingos Soares Oliveira e Rui Costa?

RGS –Rui Costa foi um grande jogador e tem uma ligação emocional ao Benfica... Domingos Soares Oliveira faz parte da equipa de Luís Filipe Vieira. Presumo que terá disponibil­idade para sair. Tenho todo o respeito por ele, mas vou querer a minha equipa.

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