CINCO MOMENTOS DE ARRASO
Em organização, transição ou bola parada, as águias conseguiram o resultado e a exibição que, pela primeira vez, cumprem a promessa de Jesus
ç Os momentos do jogo são a base de tudo no futebol. Organização ofensiva e defensiva; transição ofensiva e defensiva representam os quatro princípios, sendo as bolas paradas o quinto - Jorge Jesus chegou a dizer que este último foi inventado por si na fase inicial da sua carreira de treinador.
Seja como for, certo é que este Benfica desenhado por Jesus marcou o primeiro golo em organização ofensiva, o segundo numa transição ofensiva e o terceiro de bola parada. Formas diferentes de jogar, criar perigo e construir o resultado. Um resultado que, ao intervalo, já permitia estar muito confortável para a 2ª parte. Depois do desastre de Salónica, a resposta em Famalicão foi categórica. Outra prova, é certo, um adversário em renovação, mas a grande diferença esteve, essencialmente, no Benfica. Porque teve eficácia para concretizar as várias oportunidades que criou e porque defendeu muito melhor, apesar do golo sofrido e de uma bola no ferro. Até a transição defensiva, que em Salónica resultou no golo de Zivkovic, esteve bem afinada. Acima de tudo, destaque para a dinâmica do Benfica e o entendimento entre reforços e jogadores que já faziam parte do plantel. Só no primeiro golo houve um passe de Vertonghen para Darwin no espaço entrelinhas; o uruguaio assistiu Waldschmidt e o alemão, vindo de trás e num movimento de ataque à profundidade, marcou o primeiro golo do Benfica e da Liga 2020/21. Três contratações com participação ativa no 1-0, sendo que no 5-0 - igualmente numa transição ofensiva - viu-se novamente que Darwin e Waldschmidt parecem ligar-se bem um com o outro. O alemão lançou o uruguaio, sprintou e recebeu a devolução na grande área. Um lance exemplificativo de velocidade, individual neste caso, e que também foi empregue em ações coletivas no jogo de ontem.
Everton, o desequilibrador Outro reforço do Benfica, Everton, voltou a mostrar que tem atributos para deixar marca em Portugal. Drible, velocidade e capacidade de ser decisivo: golo e assistência na estreia no campeonato. Dois lances em que mostrou que também aposta nos movimentos de fora para dentro sem bola. No 2-0 explorou o espaço central para finalizar; no golo de Rafa, tentou a tabela,
atravessou a grande área e acabou a fazer passe decisivo. Jorge Pereira, lateral direito do Famalicão, foi um dos que mais sofreram com a imprevisibilidade de Everton. Perto do intervalo, a transmissão televisiva captou-o e viu-se que estava ofegante. Já não regressou para a 2ª parte, essencialmente porque já tinha cartão amarelo e estar 45 minutos sem fazer faltas seria difícil. Os reforços lançados por Jesus, exibiram-se a bom plano, mas o
Benfica de ontem também viveu muito de Taarabt e Gabriel. O pé direito do marroquino, o esquerdo do brasileiro; a progressão com bola do camisola 49; o passe longo do número 8. Duas formas de construir jogo, em comum a visão de jogo e a inteligência. Defensivamente foram fundamentais na pressão e tentativa de rápida recuperação de bola – Gabriel chegou a fazer um carrinho à entrada da grande área na saída de bola do Famalicão. Taarabt teve oito recuperações de bola. Ao segundo jogo oficial, o Benfica cumpriu pela primeira vez a promessa feita por Jorge Jesus quando foi apresentado: “Vamos arrasar.” As águias arrasaram, mas ainda assim, JJ queria mais. Aos 87 minutos e com 5-1 no marcador, ouviu-se na transmissão televisiva: “Vamos lá fazer mais golos!” O pedido não foi concretizado, mas a equipa já tinha feito o trabalho. E bem feito.
*